Ana Alice Kohler
Em 21 de junho de 1839, no morro do Livramento, no Rio de Janeiro, nasceu Joaquim Maria Machado de Assis, filho de Francisco José de Assis e Maria Leopoldina Machado da Câmara. O menino, que desde cedo demonstrava interesse pelos livros, viria a se tornar o maior nome da literatura brasileira, com contos e romances traduzidos ao redor do mundo e o título de primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras. Poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, jornalista e crítico literário, Machado de Assis possui uma produção que se estende por praticamente todos os gêneros e reflete as metamorfoses pelas quais passou o Brasil durante os quase setenta anos em que viveu. Nesse período, que vai da Regência ao fim do Império, Machado construiu um legado extenso e influenciou seus contemporâneos e os escritores que o sucederam com sua escrita irreverente e suas inovações estilísticas.
Comumente separada em duas fases, a produção literária de Machado de Assis é tida como a principal responsável por introduzir o Realismo — já em voga em países como a Inglaterra e a França — nas terras brasileiras, onde encontrou solo fecundo nas temáticas abordadas pelo escritor, um forte crítico da escravidão e zombador do positivismo cientificista. Assim, Machado tornou-se referência para diversos nomes da literatura brasileira, como Olavo Bilac, Lima Barreto e Carlos Drummond de Andrade, além de ser reconhecido mundialmente como um grande gênio das letras. Por esses e outros motivos, sua produção é estudada até hoje por especialistas ao redor do mundo, lida por estudantes de vários níveis e colocada no centro do cânone literário brasileiro.
Pensando nisso, a Editora da Unicamp, referência em publicações acadêmicas e literárias, selecionou os títulos de seu catálogo que abordam, de diferentes formas, a produção de Machado de Assis. Todas as obras estão disponíveis em nosso site. Conheça-as!

Essa edição especial de O Alienista, um dos contos mais conhecidos de Machado de Assis, é fruto de uma parceria entre a Editora da Unicamp e o Instituto Confúcio da Unicamp, que resultou na Série Clássicos da Literatura Chinesa e Brasileira. Como proposto pela série, a edição bilíngue é acompanhada de um prefácio acadêmico, escrito por Paulo Franchetti, que complementa a leitura e auxilia na aprendizagem de estudantes lusófonos de mandarim e de chineses que aprendem português. Dessa forma, a obra amplia o acesso ao conto, que narra a história tragicômica do médico psiquiatra Simão Bacamarte, fundador de um hospício na vila de Itaguaí e instaurador de uma perseguição à loucura que, lentamente, foge ao seu controle.
Paulo Franchetti é graduado em Letras (Português-Francês) pela Universidade Estadual de São Paulo, mestre em Teoria Literária pela Universidade Estadual de Campinas e doutor em Letras pela Universidade de São Paulo. Atua como crítico literário, escritor e professor do Departamento de Teoria Literária da Unicamp. A tradutora do conto, Min Xuefei, é doutora em Literatura de Língua Portuguesa pela Universidade de Coimbra e traduziu para o mandarim obras de grandes autores brasileiros e portugueses, como Clarice Lispector e Fernando Pessoa.

A Editora da Unicamp conta também com outra edição bilíngue de O Alienista. A história, que alguns críticos classificam como uma novela, foi traduzida para o espanhol por Pablo Cardellino Soto, ampliando o acesso à obra a um público ainda maior. A edição bilíngue português-espanhol funciona, dessa forma, como uma ferramenta extremamente produtiva para estudantes de ambos os idiomas, que podem realizar a leitura cotejada de uma das narrativas mais célebres de Machado de Assis.
Pablo Cardellino Soto é bacharel em Letras – Língua Espanhola, e mestre e doutor em Estudos da Tradução pela Universidade Federal de Santa Catarina. Além de O Alienista, traduziu para o espanhol outras obras de Machado de Assis, como Dom Casmurro e Várias histórias. Para o português, verteu obras de escritores de língua espanhola, como Juan Emar e Felisberto Hernández.
Autobibliografias, de Abel Barros Baptista, apresenta um ensaio “sobre a questão do livro enquanto questão inseparável da emergência e do estatuto do romance moderno” e parte da leitura de diversos autores, como Cervantes, Laclos, Rousseau, Flaubert, Melville e Borges. A prosa mais importante para a análise, entretanto, é a de Machado de Assis, que funciona como ponto de partida e de chegada no texto.
Abel Barros Baptista é professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e especialista nas literaturas portuguesa e brasileira. Além de ensaísta, é crítico literário e cronista, colaborando com diversos periódicos de grande alcance. Autobibliografias é mais uma de suas obras de crítica literária dedicadas à produção de Machado de Assis.
Em A formação do nome, Abel Barros Baptista apresenta, mais uma vez, perspectivas inovadoras acerca do maior escritor da literatura brasileira. Por meio da análise do ensaio Instinto de nacionalidade e do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, o crítico português examina “dois momentos decisivos na formação do nome de Machado de Assis enquanto romancista: o do confronto com o problema da nacionalidade literária e o da invenção da singularidade romanesca”.
A obra integra os estudos analíticos de Abel Barros Baptista, que se estendem a outros livros publicados pela Editora da Unicamp, como Três emendas – ensaios machadianos de propósito cosmopolita e Autobibliografias: solicitação do livro na ficção e na ficção de Machado de Assis, ambos disponíveis em nosso site. Em A formação do nome: duas interrogações sobre Machado de Assis, ele propõe uma revisão da literatura machadiana, em uma obra recomendada para quem busca aprofundar-se nas diferentes críticas e perspectivas sobre a produção de Machado.

Casa Velha, publicada de forma seriada na revista A Estação, foi a única novela que Machado não reuniu em livro, como lhe era costume, após a publicação como folhetim. A obra, descoberta apenas em 1944, possui uma narrativa simples, mas revela questões importantes da prosa machadiana. O enredo trata de “um padre [que] se aproxima de uma família tradicional, com o intuito de realizar pesquisas na biblioteca do falecido patriarca. Bom observador, logo percebe o amor existente entre o filho da casa e uma moça de situação social inferior”. Cercado por mentiras e intrigas, o leitor é surpreendido ao fim da história.
O livro conta com uma extensa apresentação de Paulo Franchetti, professor do Departamento de Teoria Literária da Unicamp, além de notas explicativas. A obra, extremamente relevante para alunos do ensino médio, é parte da lista de leituras obrigatórias do vestibular Unicamp 2026. Para saber mais, confira o Livro da Vez publicado no Blog da Editora.
Imagens, máscaras e mitos: o negro na obra de Machado de Assis, de Mailde Jerônimo Trípoli, trata de um dos temas mais importantes da prosa machadiana: a questão da escravidão. A obra faz parte de um esforço dos estudiosos e críticos contemporâneos de Machado de rever a sua posição (como homem de Estado e escritor) em relação à abolição, esclarecendo “a falsa crença de que o gênio, a fim de ascender socialmente, negou a própria raça, omitiu-se da luta pela liberdade e excluiu a imagem do escravo de suas obras”. Dessa forma, o livro é uma contribuição significativa para o estudo da personagem negra na produção de Machado e apresenta uma introdução e anexos que complementam a leitura com informações adicionais.
Mailde Jerônimo Trípoli é graduada em Letras pela Universidade Estadual de Campinas e mestre em Teoria e História Literária pela mesma instituição. É também especialista em Arteterapia pela Universidade São Marcos. Em Imagens, máscaras e mitos, ela apresenta uma nova perspectiva aos estudos machadianos, na qual o negro possui estatuto de sujeito e é assim representado pelo escritor carioca. A obra, portanto, é essencial para quem busca se aprofundar na crítica e nas pesquisas acerca de Machado.
Machado de Assis: lido e relido reúne os textos mais importantes da fortuna crítica de Machado de Assis, apresentando 41 ensaios que evidenciam diferentes pontos de vista acerca de sua obra. A partir da leitura, o leitor entra em contato com uma diversidade que “desautoriza exclusivismos”, reunindo, na medida do possível, “todas as orientações metodológicas e todas as abordagens teóricas” sobre a produção literária de Machado. A obra, organizada por João Cezar de Castro Rocha, conta com um prefácio do próprio organizador e um posfácio de Haroldo Ceravolo Sereza, sendo dividida em cinco partes: “Atos de leitura”, “Interpretações”, “Romance”, “Conto” e “Poesia / Crônica / Jornalismo / Recepção”.
João Cezar de Castro Rocha é escritor, historiador e professor de Literatura Comparada. Graduado em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é mestre e doutor em Letras pela mesma instituição e possui um segundo doutorado pela Universidade de Stanford. Já foi presidente da Associação Brasileira de Literatura Comparada e, atualmente, é professor titular na Uerj e participa do conselho consultivo de diversas revistas especializadas no Brasil e no mundo. Em Machado de Assis: lido e relido, ele apresenta um panorama da crítica machadiana, valiosíssimo para quem busca conhecer a área. Para saber mais sobre a obra, confira os textos “O ler, reler e cessar-fogo na crítica machadiana” e “Machado de Assis, o leitor”, disponíveis no Blog da Editora.
Série Crônicas de Machado de Assis
Bons dias! faz parte da Série Crônicas de Machado de Assis, da Editora da Unicamp, e reúne textos publicados sob pseudônimo entre os anos de 1888 e 1889, na Gazeta de Notícias, cuja autoria só foi identificada na década de 1950. Essa, que é a terceira edição da obra, traz uma introdução explicativa de John Gledson que oferece ao leitor o contexto necessário para compreender os dramas políticos e sociais que preocupavam as mentes da época e, principalmente, como eram percebidos por Machado. Além disso, a obra ainda conta com notas do especialista e uma cronologia que enriquecem a leitura das crônicas.
John Gledson é tradutor, ensaísta, crítico literário e professor da Universidade de Liverpool. Especializado em literatura brasileira, o inglês é um dos teóricos mais importantes da obra de Machado de Assis, contribuindo, especialmente, para o estudo da relação entre as crônicas e os romances do autor carioca. Em Bons dias!, ele oferece ao público leitor, formado por estudantes de todas as idades e até mesmo especialistas da área, uma leitura profunda e completa das crônicas machadianas.
Para saber mais sobre a obra, confira o Livro da Vez “Bons dias, Boas Noites”, disponível no Blog da Editora!
Comentários da semana, também parte da Série Crônicas de Machado de Assis, apresenta ao leitor as crônicas publicadas nos primeiros anos da década de 1860 no Diário do Rio de Janeiro. O convite para escrever no periódico, de perfil liberal e dirigido por Quintino Bocaiúva e Saldanha Marinho, insere-se em um contexto histórico maior, no qual o jovem escritor carioca estava sendo “sondado em suas convicções políticas”. Além de ser extremamente importante para a carreira de Machado, as crônicas reunidas em Comentários da semana oferecem um rico acervo de opiniões e posições que deixam entrever o pensamento crítico do escritor de Dom Casmurro.
A edição, organizada por Lúcia Granja e Jefferson Cano, apresenta, além dos textos organizados cronologicamente, notas e uma introdução que contextualizam a leitura. Lúcia Granja é graduada em Letras e mestre e doutora em Teoria e História Literária pela Unicamp. Atualmente, é professora no Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp e pesquisa, além das crônicas de Machado de Assis, a História do Livro e da Edição no Brasil. Jefferson Cano é professor associado do Departamento de Teoria Literária da Unicamp e pesquisador da área da Historiografia Literária, com ênfase na História do Brasil Império e na História do Romance. Juntos, oferecem uma edição importante das crônicas de Machado, adequada e acessível tanto para leitores não especializados quanto para pesquisadores da área.
O espelho reúne textos em prosa pouco conhecidos de Machado de Assis, como crônicas intituladas “Aquarelas”, o artigo “A reforma pelo jornal” e a série “Revista de teatros”, todos eles publicados no jornal O Espelho, que circulava no Rio de Janeiro durante a segunda metade de 1859. Assim como os demais livros da Série Crônicas de Machado de Assis, a obra apresenta uma introdução e notas explicativas, assinadas por João Roberto Faria, que situam o leitor em sua experiência de contato com textos recheados de referências aos acontecimentos da época.
João Roberto Faria é graduado em Letras (Português-Inglês) pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” e mestre e doutor em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo. Suas pesquisas envolvem o estudo do teatro brasileiro e as produções literárias de José de Alencar e Machado de Assis. Em O espelho, ele oferece ao público um material pouco explorado, mas muito relevante para o entendimento da trajetória de Machado como cronista.
O Futuro, organizado por Rodrigo Camargo de Godoi, reúne 16 textos publicados pelo jovem Machado de Assis na revista literária luso-brasileira O Futuro, entre os anos de 1862 e 1863. A edição é fruto de intensas pesquisas em arquivos e bibliotecas, que estabeleceram as crônicas originais e corrigiram certos erros em edições anteriores. Como parte da Série Crônicas de Machado de Assis, o livro ainda contém um texto introdutório de Godoi, que apresenta e contextualiza o conteúdo da obra ao leitor, além de notas explicativas.
Rodrigo Camargo de Godoi é graduado em História pela Fundação Municipal de Ensino Superior de Bragança Paulista, mestre em Teoria e História Literária e doutor em História Social pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente, é professor de História do Brasil Império no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp e coordenador, na mesma instituição, do Núcleo de Estudos da Edição, Literatura e Imprensa. Em O Futuro, ele apresenta parte dos resultados de suas pesquisas sobre as crônicas machadianas, destinadas aos pesquisadores da área e aos interessados pela prosa de Machado de Assis.
Notas semanais, mais uma obra da Série Crônicas de Machado de Assis, reúne textos publicados por Machado sob o pseudônimo de “Eleazar”, entre 2 de junho e 10 de setembro de 1878, no jornal O Cruzeiro. As crônicas reunidas no volume são de especial interesse para os estudiosos da obra machadiana, por serem consideradas algumas “das mais difíceis de entender e das mais cruciais para a compreensão de sua trajetória literária”. Assim como nas demais obras da série, Notas semanais apresenta uma introdução e notas detalhadas que contextualizam o leitor em sua leitura. Dessa forma, é possível adentrar na escrita humorística e crítica de Machado, recheada de referências a casos — triviais ou não — de sua época.
A organização da obra, assim como as notas e a introdução, resultam de um trabalho conjunto entre Lúcia Granja e John Gledson. Granja é pesquisadora especializada nos estudos das crônicas de Machado de Assis e a sua relação com o jornalismo, além de estudar a História do Livro e da Edição no Brasil. Gledson é professor de Estudos Brasileiros na Universidade de Liverpool e tradutor de diversos livros do português para o inglês. Nessa edição de Notas semanais, eles apresentam ao público algumas das principais crônicas machadianas.
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Como se pode deduzir da imensa profusão de obras de autoria de Machado de Assis ou que tratam de sua literatura, a atualidade de sua produção é incontestável. Seja por meio de reflexões filosóficas, críticas sociais, sátiras humorísticas ou romances formalmente impecáveis, a literatura machadiana continua a impactar a sociedade — brasileira e mundial — e a gerar novos debates, tornando-se um verdadeiro objeto de estudo permanente. Interessado no tema? Aproveite para conhecer outras obras de Literatura disponíveis no catálogo da Editora da Unicamp.