Por Luisa Ghidotti Souza
Fernando António Nogueira Pessoa, nascido em Lisboa em 1888, carrega, como escritor, a ideia de que a pluralidade identitária pode ser captada pela arte. Suas obras são amplamente conhecidas no mundo todo e, de fato, escrever literatura foi um dos seus grandes empreendimentos. Ele mesmo afirmou que “o ser poeta e escritor não constitui profissão, mas vocação”, como consta em nota biográfica elaborada em 1935 e reproduzida no livro O marinheiro, publicado em 2020 pela Editora da Unicamp, com introdução e notas de Marcos Lopes e Ana Maria Ferreira Cortês. O título está na lista obrigatória de leituras para o vestibular da Unicamp e esta edição será de grande ajuda para os estudantes, por apresentar uma minuciosa análise dos elementos e dos sentidos presentes no texto.
Esta obra traz um Fernando Pessoa dramaturgo pouco conhecido pelo público, que reconhece as habilidades do autor como poeta. O marinheiro é uma obra ímpar, não apenas na produção literária de Pessoa, mas também para o cenário da dramaturgia em geral, pois o autor parte do conceito de “drama estático”.
Segundo Lopes e Cortês, a construção do drama estático se dá pela imobilidade. O cenário da peça é o interior de um quarto circular com uma única janela aberta com vista para um oceano ao longe. Neste quarto estão presentes quatro das cinco personagens: uma donzela morta, estendida em seu leito, acompanhada de três veladoras sem nome. Todo o enredo acontece no diálogo entre as mulheres, que não sabem ao certo se o que estão vivendo é realidade ou sonho. O quinto personagem, o marinheiro, está presente apenas na fala das veladoras. A história está contida neste espaço circular e as ações estão limitadas às falas e pensamentos das três personagens vivas e presentes na cena, que acontece ao longo da madrugada..
A construção dos elementos básicos do enredo é o que determina o “drama estático” pessoano, largamente analisado e explicado na introdução deste livro. Na perspectiva analítica apresentada por Lopes e Cortês, a possibilidade do drama estático está na maneira como são construídos o tempo e o espaço, categorias narrativas indispensáveis para o teatro e reinventados por Pessoa.
“O texto dramático de Fernando Pessoa prega uma peça em nós, pois as personagens, ao não saberem se o que estão vivendo é realidade ou fantasia, também sugerem que duvidemos de nossos hábitos e nossas crenças a respeito do que é o tempo, o espaço e, por tabela, questionemos o que define nossa identidade pessoal: o nosso eu”.
Na ausência de ação, a peça centra-se em um trabalho reflexivo, de maneira que o “enredo dramático não constitui ação – isto é, onde as figuras não só não agem, porque nem se deslocam nem dialogam sobre deslocarem-se, mas nem sequer têm sentidos capazes de produzir uma ação.”
A riqueza analítica da introdução é completada pelas notas explicativas ao longo do texto. Temos, então, uma leitura que extrapola a simples admiração da subjetividade literária e possibilita o entendimento sistemático das estruturas de representação contidas no texto.
Lopes e Cortês afirmam que “a peça O marinheiro nos faz pensar na mais antiga das perguntas: quem somos? Somos alguma coisa?”. Assim, como afirmam os organizadores na Introdução, “é difícil, para não dizer impossível, ler a obra de Fernando Pessoa sem considerar que ela é uma conversa corajosa com as grandes questões transmitidas pela religião e pela filosofia”.
É obra ideal para professores e estudantes que se preparam para a prova do vestibular Unicamp. Mas também para todo amante da literatura.
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Título: O marinheiro
Autor: Fernando Pessoa
Organizador: Marcos Lopes e Ana Maria Ferreira Côrtes
ISBN: 978-65-86253-25-2
Edição: 1ª
Ano: 2020
Páginas: 80
Dimensões: 10,5×18