As formas de juízo de Kant e o poder do entendimento

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Por Gabrielle da S. Teixeira

Publicado pela Editora da Unicamp, o livro Kant e o poder de julgar é resultado da tese defendida em 1992 por Béatrice Longuenesse, professora de filosofia e pesquisadora na Universidade de Nova York. A obra, traduzida do francês, apresenta um estudo que contribui para reflexões de pensadores ao redor do mundo e chega ao Brasil para alimentar a comunidade filosófica com debates e questionamentos sobre Immanuel Kant.

Longuenesse faz parte da Academia Americana de Artes e Ciência e tem desenvolvido pesquisas sobre a história da filosofia, concentrando-se em Kant, sendo seus trabalhos importantes contribuições para disseminar os pensamentos desse grande filósofo, como ressaltado por Luciano Codato, coordenador do trabalho coletivo de tradução dessa obra, em entrevista ao blog da Editora da Unicamp:

“Kant já foi descrito no século XIX como “absolutamente inevitável” e o livro de Béatrice Longuenesse é um dos marcos da literatura sobre Kant no século XX. Ela explora, de maneira erudita e original, a concepção kantiana da lógica e suas consequências para a subversão da ontologia, mostrando seu alcance nas três Críticas, em particular na Crítica da razão pura. O ponto de partida de Kant e o poder de julgar é uma investigação exaustiva da origem das categorias a partir das formas lógicas do juízo. Com fidelidade textual e argúcia filosófica, essa perspectiva contraria a maioria das interpretações estabelecidas – do pós-kantismo ao neokantismo, da tradição fenomenológica à tradição analítica. Ao mostrar como a razão, a faculdade do juízo e o entendimento são modos do que Kant denomina “poder de julgar”, Longuenesse reconstitui de modo inédito a conexão entre a Crítica da razão pura e a Crítica da faculdade do juízo.”

A pesquisadora inicia seu trabalho investigando o surgimento da teorização das categorias (conceitos que temos de um objeto), conforme regras que geram nossas intuições relacionando-as com as funções lógicas do juízo. Essa abordagem visa a apresentar como as experiências empíricas do indivíduo são objetos centrais para a obtenção do conhecimento que somente é adquirido por meio das sensações, as quais são submetidas às categorias desenvolvidas nas características presentes no poder de julgar. As funções lógicas do juízo estariam vinculadas a essas categorias por mostrar as representações que temos do mundo conforme elas são guiadas pelas nossas intuições, unindo-as em uma única consciência.

A obra é dividida em três partes: “O fio condutor”, “As formas lógicas do juízo como formas da reflexão” e, por fim, “Synthesis intellectualis, synthesis speciosa. A imaginação transcendental e a fundação do sistema dos princípios”.  A primeira apresenta o argumento principal da chamada “Dedução transcendental”, os problemas em torno das definições de categorias e os resultados das publicações de Kant em 1781 que estabeleceram a função da “Dedução” sob o juízo. Já a segunda parte revela as intenções de Kant sobre o papel das formas lógicas do juízo, partindo de suas definições e como se reflete sobre o sensível. E, por último, retorna-se ao exercício discursivo do juízo sobre as sínteses da imaginação e como elas se ordenam em relação às formas e aos termos que podem ou não ser refletidos sobre os conceitos comuns. 

No Preâmbulo, o leitor poderá compreender a organização do livro, as abordagens em cada capítulo, a importância das oposições aos pensamentos de Kant para a discussão existente sobre a Crítica da razão pura e as diferenças entre a concepção kantiana de lógica e a lógica matemática fregiana e pós-fregiana. 

A Crítica da razão pura resultou em muitas discussões por apresentar teses que contrariam princípios estabelecidos por outros filósofos. Entre elas, podemos encontrar a argumentação de Kant sobre o espaço e o tempo como formas da sensibilidade humana, por meio dos quais ordenamos nossos dados obtidos das experiências sensíveis, sendo, também, intuições puras que podem ser afetadas pelo que o filósofo aponta como “unidade transcendental da apercepção”, como explicado por Longuenesse no Preâmbulo do livro:

“Kant denomina “síntese figurativa da imaginação” o efeito da unidade da apercepção na sensibilidade. Ela gera nossa representação (talvez “antecipação” fosse um termo melhor) do espaço como um espaço e do tempo como um tempo. Ela gera também as sínteses do múltiplo de acordo com as regras a priori fornecidas pelas categorias. Entretanto, segundo Kant e o poder de julgar, a unidade do espaço e do tempo sob a unidade da apercepção é antecipada, por assim dizer, como precondição da síntese sob qualquer categoria particular.”

Longuenesse levanta os questionamentos de críticos sobre a abordagem da “unidade transcendental” realizada no atual livro, em que é enfatizada a negação do papel central que a unidade apresenta na cognição. Entretanto, a pesquisadora afirma que a apreensão da unidade é determinada com o enfoque na intuição e no pensamento discursivo, ambos elementos fundamentais na cognição, visto que o primeiro se encontra na origem da representação das formas espaço e tempo, enquanto o segundo está em qualquer atividade de julgar que dependa do espaço conceitual em que haja proposições para serem testadas. 

Kant e o poder de julgar é um livro indispensável para aqueles que desejam compreender o poder do entendimento. O leitor terá em mãos um dos clássicos na recepção contemporânea da obra de Kant, como afirmado por Codato.

Para saber mais sobre o livro e adquirir o seu exemplar, acesse o nosso site

Capa_Kant e o poder de julgar-2019

Título: Kant e o poder de julgar 

Autor: Béatrice Longuenesse

Tradutor: João Geraldo Martins da Cunha e Luciano Codato

ISBN: 978-85-268-1491-2

Edição: 1ª

Ano: 2019

Páginas: 568

Dimensões: 16×23

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