Por Tina Zani
O livro Policiamento e governança contemporânea é uma coletânea de textos sobre a prática policial, da perspectiva da antropologia, em que os autores buscam esquadrinhar as bases, as motivações e os desdobramentos dessa atividade.
Segundo Robert Reiner, o momento atual é marcado por um “fetichismo policial” que considera a polícia um “pré-requisito da ordem social”. Existe uma centralidade política dos discursos de lei e ordem e um crescente clima de “punição popular”. Em muitos lugares ao redor do mundo, o policial é, ao mesmo tempo, presença positiva e pesadelo. Ou seja, representa proteção, mas também pode ser uma força sombria, muitas vezes violenta, corrupta, corrosiva e ineficiente, incapaz de distinguir trabalhador de criminoso, criando insegurança.
Muito pouco material foi produzido no campo da antropologia da polícia e do policiamento, embora o controle social e o crime sejam preocupações recorrentes na modernidade. Policiamento e governança contemporânea oferece valiosas contribuições etnográficas, conceituais e analíticas. Alguns ensaios mostram que um determinado estereótipo, definido por nível social, raça e gênero, levam a polícia a criminalizar injustificadamente indivíduos das classes vulneráveis. Nesse contexto, a coletânea também discute os limites entre manter a lei e fazer a lei.
Outro tema analisado no livro é o fato de que, como consequência de uma polícia criminosa e ineficiente, os cidadãos recorram à segurança privada ou à justiça informal.
A introdução é do organizador, William Garriott, que delineia o surgimento do conceito e da instituição policial e discorre sobre a mudança de significação do próprio termo “polícia”, ocorrida nos últimos 400 anos. São nove ensaios de diferentes autores, divididos em quatro temas: “Policiando o cotidiano”, “Violência policial”, “Cultura policial” e “Policiando futuros”.
Dois capítulos são dedicados a situações brasileiras. “Invadindo a favela” examina o efeito das práticas policiais na vida dos moradores de Caxambu, no Rio de Janeiro. “O paradoxo da violência policial no Brasil democrático” narra em detalhes o episódio dos sequestros de Patrícia Abravanel e, duas semanas depois, o de seu pai, Sílvio Santos, com destaque para seu desfecho.
Conforme afirma Joseph Masco no posfácio, “a polícia é um nódulo complexo na vida social moderna, sendo simultaneamente instrumento do Estado e interface crucial entre cidadãos e organizações sociais mais amplas, manifestando seu próprio entendimento do contrato social mediante a prática cotidiana de produzir ‘ordem’”.
Policiamento e governança contemporânea – A antropologia da política na prática
Organizador: William Garriott
Tradutor: Daniela Ferreira Araújo Silva
ISBN: 978-85-268-1458-5
Edição: 1ª
Ano: 2018
Páginas: 360
Dimensões: 16×23