Coleção Meio de Cultura: ciência para todos, histórias que revelam o mundo

Maria Eduarda Peloggia Lunardelli

Apesar de pouco conhecido, o direito à participação e à fruição dos benefícios da ciência é universal. Segundo o Conselho Internacional de Ciência (ISC), esse direito consiste na garantia de acesso, liberdade de produção e divulgação de todo tipo de ciência, compreendida como um bem público global indispensável. Ele assegura não apenas bases sólidas para o desenvolvimento contínuo da sociedade em diversos aspectos – sociais, econômicos, políticos e outros –, como também o convívio próspero em meios coletivos. Assim, a ciência destaca-se como um meio transformador de ações, visões de mundo e do próprio ambiente social. 

Dessa forma, pode-se dizer que a cultura científica – e a necessidade dela – está entre os eixos mais importantes para a sustentação de uma civilização próspera. Seja nas interações sociais ou na relação entre seres humanos e natureza, a pesquisa científica é fundamental para compreender como nos relacionamos, os impactos das mudanças climáticas, as tecnologias, a importância e os benefícios das vacinas e como um vírus pode se disseminar rapidamente, causando uma pandemia global, por exemplo. Entretanto, mesmo sendo um dos pilares da vida no planeta, ela ainda é, na maioria das vezes, limitada a um grupo seleto de pessoas que tiveram melhores oportunidades socioeconômicas e puderam ingressar no universo acadêmico. 

Contudo, sendo um direito universal, o conhecimento científico deve ser acessível e amplamente divulgado e, para que isso ocorra, várias mudanças precisam ser realizadas nos meios de produção de conteúdo, tanto científico quanto cultural. Falar de ciência de forma descomplicada, sem todo o requinte (muitas vezes desnecessário) dos textos acadêmicos, fomenta a inovação e a produtividade, além de incentivar cada vez mais jovens a ingressarem nesses meios, tornando as pesquisas mais representativas, inclusivas e de maior alcance social, já que serão realizadas por pessoas de diferentes orientações sexuais, etnias, classes econômicas e idades. Portanto, essa transformação começa, em um primeiro momento, pelo maior contato da população com a ciência. 

Pensando em meios de tornar a ciência compreensível, atraente e próxima da vida real, a Editora da Unicamp criou a Coleção Meio de Cultura. Com a curadoria atenta e crítica de uma comissão editorial composta de profissionais especializados em divulgação científica e cultural – Bruno de Pierro (Science Arena), Germana Barata (Labjor-Unicamp), Marcelo Yamashita (Unesp) e Maria de Macedo Soares Guimarães (Revista Pesquisa Fapesp) –, além da coordenação de Peter Schulz (Unicamp), a coleção reúne obras sobre os mais diversos assuntos do universo científico, de forma dinâmica e com linguagem acessível a todos.

 Essa coleção se destaca por diversas razões, mas o que a torna mais especial é a mistura que faz entre ciência, arte, humor, poesia, cultura pop e narrativas históricas, com o objetivo de apresentar resultados de diversas pesquisas científicas e também revelar os bastidores do universo acadêmico de maneira criativa e bem-humorada. Vale ressaltar que os 14 livros que compõem a coleção são, além de uma porta de entrada para o universo das ciências, tecnologias e culturas, verdadeiras “bússolas” para quem deseja explorar diferentes formas do conhecimento. Confira:

  1. Como falar com um negacionista da ciência

Publicado pela Editora da Unicamp em 2024, em meio a uma onda de discursos negacionistas, Como falar com um negacionista da ciência expõe experiências pessoais de um cientista que tenta dialogar com pessoas que não acreditam em ciência. 

Escrito por Lee McIntyre, pesquisador do Centro de Filosofia e História da Ciência da Universidade de Boston, e traduzido por Cynthia Costa, o livro nasce de um impasse pessoal: como alcançar os negacionistas da ciência? Para refletir sobre esse desafio, McIntyre parte de vivências próprias que vão desde a visita a uma Convenção da Terra Plana até tentativas de diálogo com negacionistas, valendo-se de suas habilidades persuasivas de filósofo. 

Além de abordar em detalhes algumas das temáticas mais comuns do negacionismo científico – como o movimento antivacina –, o livro apresenta os resultados obtidos por McIntyre em suas experiências. Para ele, não bastam técnicas específicas (oferecidas na obra) para transmitir a verdade científica: é preciso respeito e paciência para se colocar em pé de igualdade com o interlocutor. 

Para saber mais sobre Como falar com um negacionista da ciência, confira o Livro da Vez publicado no Blog da Editora da Unicamp!

  1. Um sabiá sujo – a aventura científica sobre a descoberta de uma ave e de um continente 

Lançado em 2020 pela Editora da Unicamp,Um sabiá sujo oferece ao leitor uma viagem intrigante pela América do Sul a partir da descoberta de uma nova espécie de ave: o pedreiro-do-espinhaço. 

Escrito pelo professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisador em comportamento e ecologia animal Marcos Rodrigues, o título expõe o paradoxo biogeográfico encontrado com o surgimento de mais uma espécie: como uma ave pertencente a um grupo nativo dos Andes e da Patagônia poderia surgir nas montanhas de Minas Gerais? Esse enigma é desvendado por meio de descobertas recentes no campo da biologia evolutiva, apresentadas ao leitor com o suspense típico dos clássicos thrillers investigativos.

Além disso, Um sabiá sujo destaca a importância da descoberta e da catalogação adequada de novas espécies, mesmo que, como no caso do pedreiro-do-espinhaço, já existam mais de dez mil espécies de aves catalogadas no mundo. 

Saiba mais detalhes sobre o título no Livro da Vez!

  1. Tubo de ensaios – uma mistura de ciência, arte e cultura pop

Escrita por Daniel Martins de Barros, Tubo de ensaios (2023) é uma obra envolvente que, além de destrinchar questões científicas, aproxima esses temas do cotidiano por meio de referências da arte e da culturapop

Professor colaborador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e colunista da Rádio Band News FM, do Estado de S. Paulo e da revista Galileu, o autor desenvolve conteúdos de divulgação científica que visam desmistificar o meio acadêmico e popularizar o conhecimento científico, tornando o público mais consciente e crítico. 

Tubo de ensaios reúne alguns de seus melhores artigos publicados na Galileu, além de textos inéditos que atualizam e expandem os temas apresentados, ilustrando fatos científicos de maneira rigorosa e acessível. 

Para conhecer mais sobre o título, acesse nosso Blog e confira o Livro da Vez.

  1. O jogador científico – por que perdemos no pôquer, na loteria, na roleta…  

Você sabia que as sutilezas e os truques usados nos jogos têm explicações puramente científicas? Em O jogador científico, publicado pela Editora da Unicamp em 2015, o especialista em computação e jogos Ariel Arbiser analisa, sob uma perspectiva científica, diversas formas de entretenimento.

 Jogos como xadrez, pôquer, vinte e um, ponto e banca, roleta, escopa de 15, loteria e muitos outros são passatempos populares, mesmo que a probabilidade de vitória seja baixíssima. Na loteria, por exemplo, seria preciso jogar por cem mil anos para se ter uma chance real de ganhar – mas isso não desanima milhões de apostadores. Nesse cenário, Arbiser recorre à ciência para compreender e explicar, de maneira clara e concisa, truques, estratégias e habilidades presentes nesses momentos de lazer. 

  1. O frango de Newton – a ciência na cozinha 

Publicado em 2015, O frango de Newton é uma viagem ao universo da gastronomia que revela como a pesquisa científica é indispensável para a criação de receitas saborosas. 

Escrito por Massimiano Bucchi, professor da Universidade de Trento (Itália) e autor de diversos artigos e livros sobre ciência e tecnologia na sociedade, o livro responde a várias questões sobre as intersecções entre ciência e gastronomia – desde a culinária futurista até as semelhanças entre cozinhar e pesquisar. A obra destaca a importância da ciência na cozinha por meio de exemplos cotidianos, oferecendo um panorama histórico instigante. 

A narrativa, que conecta laboratórios e cozinhas até chegar ao consumidor, venceu o International Book Prize “La Vigna” (2014) e foi publicada em vários países. 

  1. Os remédios da vovó – mitos e verdades da medicina caseira

Todos conhecem remédios caseiros para diversos problemas – dor de dente, tosse, dor de cabeça, coceira, mal-estar, febre… Mas será que esses métodos realmente funcionam? 

Em Os remédios da vovó, publicado em 2014 pela Editora da Unicamp, Valeria Edelsztein discorre sobre a eficácia desses tratamentos. O livro revisita o passado para compreender histórias curiosas sobre drogas e remédios usados para finalidades inusitadas, como a aspirina e suas múltiplas funções. 

Ao percorrer as farmacologias antiga, moderna e contemporânea, o título lança luz sobre a medicina caseira e explica os conselhos que todos já ouviram das avós. 

  1. A fórmula secreta – mistérios e descobertas científicas explicados de maneira leve

Escrito por Fabio Toscano, físico teórico e divulgador científico, A fórmula secreta (Editora da Unicamp, 2012) reconstrói um episódio épico de rivalidade acadêmica que foi crucial para o progresso científico.

Por meio de uma narrativa histórica centrada em Gerolamo Cardano e Tartaglia, dois matemáticos rivais do século XVI, o autor mostra como multidões se reuniam para assistir a duelos intelectuais em busca de fórmulas para resolver equações cúbicas. Toscano revela o valor dado à ciência naquela época, mostrando que o sucesso pessoal e acadêmico dependia da vitória intelectual. 

Assim, A fórmula secreta apresenta a ciência não apenas como essencial ao crescimento humano, mas também como fonte de entretenimento e disputa. 

  1. Almanaque: histórias de ciência e poesia

Embora pareçam distantes, cientistas e poetas têm muito em comum. Através de truques, leituras e artifícios, ambos interpretam o mundo em busca de verdades muitas vezes repletas de beleza. 

Publicada pela Editora da Unicamp em 2011, Almanaque: histórias de ciência e poesia, de Juan Nepote – membro do comitê editorial do Journal of Science Communication, da Sissa (Itália), e da Sociedad Mexicana para la Divulgación de la Ciencia y la Técnica –, reúne narrativas sobre arte e ciência, trazendo figuras conhecidas como Leonardo da Vinci, Sofia Kovalevskaya, Charles Darwin e Copérnico. A obra evidencia como produções científicas e culturais são formas complementares de compreender e questionar o mundo. 

  1. Inventando milhões

Lançado no Brasil em 2010, pela Editora da Unicamp, Inventando milhões demonstra como ideias aparentemente pequenas podem se transformar em invenções de grande sucesso. 

Escrito por Simon Torok e Paul Holper, o livro apresenta histórias de inovações que mudaram drasticamente a vida de milhares de pessoas, desde descobertas na área medicinal – como a penicilina (1928) e o marcapasso (1932) – até as revoluções da música digital e a criação do Google. 

Inventando milhões revela como intervenções curiosas transformaram seus autores em milionários, como no caso do Tupperware, do micro-ondas, do celular e do Cubo Mágico. 

  1. Dez teorias que comoveram o mundo

Ao revisitar a história da ciência moderna, encontramos nomes que protagonizaram teorias que moldaram as sociedades atuais. Dez teorias que comoveram o mundo(Editora da Unicamp, 2010) apresenta algumas dessas histórias fundamentais para o avanço da ciência.  

Os pesquisadores Esteban Magnani e Leonardo Moledo mostram, por meio de narrativas sobre Copérnico, Darwin, Pasteur e teorias como o Big Bang e a genética, que nenhuma grande descoberta ocorre isoladamente: todas dependem de redes de pesquisa, debates e estudos anteriores. 

Dez teorias que comoveram o mundo evidencia a evolução constante da ciência e da tecnologia. 

  1. O gozo intelectual – teoria e prática sobre a inteligibilidade e a beleza

Jorge Wagensberg, pesquisador, divulgador científico e vencedor do Prêmio Nacional de Pensamento e Cultura Científicos da Catalunha (Espanha), apresenta, em O gozo intelectual (Editora da Unicamp, 2010), um ensaio sobre a aquisição do conhecimento e os prazeres envolvidos no processo científico. 

Estruturado em duas partes – teoria e prática –, o livro discute conceitos fundamentais como estímulo, conversa e compreensão/intuição. Na parte prática, reúne 63 artigos que demonstram como esses conceitos se articulam dentro e fora da academia, formando a ideia central da obra: o prazer intelectual.  

  1. O sol morto de rir 

Misturando humor, relatos pessoais, paixões, curiosidades, elementos lúdicos e inovações, O sol morto de rir (Editora da Unicamp, 2008), traduzido por Márcia Aguiar Coelho, apresenta textos do colunista Sergio de Régules, originalmente publicados no jornal The News

A coletânea mostra que a ciência vai muito além dos limites acadêmicos, podendo ser tratada de forma divertida, convidativa e próxima da realidade do leitor. 

  1. Ciência – use com cuidado 

Uma das responsabilidades centrais do jornalismo científico é transformar resultados de pesquisas em conteúdo compreensível ao público geral. Ciência – use com cuidado, título lançado pela Editora da Unicamp em 2008, demonstra como isso pode ser feito de maneira clara e atrativa. 

O livro reúne 80 textos críticos e provocativos de Marcelo Leite, publicados em diferentes jornais, como a Folha de S.Paulo. Cada texto é autossuficiente, mas o livro inclui “pós-escritos” que ampliam as reflexões. 

  1. A extinção dos tecnossauros

Indo na contramão do discurso comum que foca apenas o progresso e a inovação, A extinção dos tecnossauros (Editora da Unicamp, 2008), de Nicola Nosengo, analisa transformações tecnológicas a partir do momento em que sistemas entram em crise e se tornam obsoletos. 

Nosengo, especialista em jornalismo científico pela Escola Internacional Superior de Estudos Avançados de Trieste, parte do pressuposto de que a brecha para a compreensão de um sistema se abre justamente quando ele entra em crise, tornando superado e obsoleto tudo o que antes fora inovador e moderno, para analisar o impacto e o legado deixado pelos dinossauros tecnológicos, os tecnossauros. 


Essas obras, que compõem a Coleção Meio de Cultura, consolidam uma das vertentes mais importantes da produção acadêmica, mas muitas vezes negligenciada: a divulgação científica. É por meio dela que a ciência alcança novos horizontes, ultrapassa fronteiras e ganha visibilidade ao chegar a diferentes contextos. Ao tornar o conhecimento científico democrático, permite que todos – desde cidadãos comuns até membros da comunidade acadêmica – desenvolvam e apurem seu senso crítico, questionem imposições e selecionem os conteúdos que consomem, além de orientar ações voltadas ao bem-estar e ao progresso individual e coletivo.

Dessa forma, a Coleção Meio de Cultura foi pensada para todos os tipos de leitores: estudantes, professores, pesquisadores, amantes do universo científico e pessoas curiosas que buscam ampliar seu contato com ciências, tecnologias e culturas. As obras são excelentes portas de entrada para o universo acadêmico, pois prendem a atenção do leitor com linguagem leve e histórias envolventes, desmistificando crenças sobre as dificuldades e a suposta inacessibilidade da ciência. 

Gostou das dicas de leitura? Confira todos os títulos da Coleção Meio de Cultura e explore muitos outros sobre divulgação científica no site da Editora da Unicamp.

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