História da educação brasileira: 10 livros que você precisa conhecer

Paulo Freire (1963)

Por Ana Carolina Pereira

A história da educação no Brasil é longa e cheia de mudanças e nuanças. Pode-se dizer que a educação brasileira começou com os jesuítas no período colonial, sendo focada no ensino religioso e na catequização dos povos indígenas originários. Os filhos dos colonos portugueses também tinham aulas com os jesuítas, mas o ensino era mais aprofundado, diferente do que era passado para os indígenas.

Em 1759, os jesuítas foram expulsos do Brasil Colônia e um novo modo de ensino foi criado. Com a Reforma Pombalina alguns anos depois, a figura do professor passou a ser central no processo de ensino e foram criadas algumas escolas públicas. Somente em 1827, depois da Independência do país, é que a primeira lei que tratava exclusivamente da educação foi criada. Com essa lei, meninas passaram a poder frequentar a escola, o que antes não era permitido. Contudo, embora a lei tenha versado sobre o ensino público, ainda havia uma grande diferença entre a educação da elite e a de classes mais baixas da sociedade.

Apenas no século seguinte, em 1920, houve uma vontade maior de se mudar essa realidade com o movimento da Escola Nova. Esse movimento foi importante por pautar uma educação mais inclusiva e moderna. Ainda nessa década, Heitor Lira fundou a Associação Brasileira de Educação (ABE). Na Era Vargas, em 1930, a partir de um decreto, criou-se o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública. No ano seguinte, o Conselho Nacional de Educação foi organizado e, com a Constituição de 1934, ele ficou responsável por criar o Plano Nacional de Educação.

Em 1932, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova foi publicado, defendendo laicidade, gratuidade, obrigatoriedade e coeducação no ensino público. Esse manifesto foi assinado por grandes nomes da educação, como Lourenço Filho, Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira, o que voltou a atenção dos intelectuais para os problemas da educação brasileira. Depois disso, muitas leis relacionadas às várias etapas do ensino foram criadas, além de terem surgido novas instituições de ensino, como a USP (Universidade Estadual de São Paulo). 

Com o golpe de 1964 e o início da ditadura militar, organizações estudantis como a UNE (União Nacional dos Estudantes) foram banidas por serem consideradas subversivas. Nesse período, os movimentos estudantis foram uma importante resistência e, por isso, houve censura, perseguições e prisões. Paulo Freire, o patrono da educação brasileira, foi uma das figuras perseguidas pela ditadura, tendo sido preso e exilado. Contudo, mesmo nesse momento, importantes mudanças ocorreram na área de educação. Em 1967, foi criado o Movimento Brasileiro de Alfabetização com o objetivo de diminuir o analfabetismo entre os adultos. Em 1971, foi criado o chamado “vestibular classificatório” para acessar as universidades, o que poderia ser feito apenas até o preenchimento das vagas disponíveis.

Na década de 1980, Paulo Freire retornou ao Brasil do exílio e, em 1989, tornou-se secretário da educação no município de São Paulo. Ele também lecionou na Unicamp e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), inspirando pessoas por onde passava.

A redemocratização do Brasil após o período da ditadura militar gerou a Constituição de 1988 e, depois, a Constituição de 1996. Em ambas, a educação foi bastante visada e foram desenvolvidas leis para garantir a qualidade do ensino público brasileiro. No entanto, passadas décadas, ainda não temos um ensino de qualidade para todos no país. 

Embora a taxa de analfabetismo tenha caído, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) sobre educação de 2023 realizada pelo IBGE, o Brasil tem 9,3 milhões de analfabetos, sendo 8,3 milhões acima de 40 anos. Esse número representa 5,4% da população brasileira e, no ano anterior, representava 5,6%. A mudança pequena indica que ainda há muito o que ser feito para que se garanta educação universal, pública e de qualidade para todos.

A área de educação vem sendo foco de pesquisas há séculos e esses estudos foram intensificados nos últimos anos. A educação é a base de qualquer área, seja ela científica ou não, por isso, a Editora da Unicamp preocupa-se em publicar livros sobre esse campo de estudo. Neste artigo, reunimos dez livros sobre educação muito importantes para aqueles que são da área ou que se interessam por ela. Conheça-os!

  1. Paulo Freire, a cultura e a educação

A obra Paulo Freire, a cultura e a educação segue uma disposição teórica composta por “sete textos organizados segundo uma linha histórico-cronológica da vida, do trabalho e das obras de Paulo Freire”. Para isso, a autora, Débora Mazza, faz uso da metáfora da mangueira, árvore presente na vida e nos textos de Freire em várias circunstâncias e que lança luz e sombra sobre a educação do povo nas Américas, na Europa e na África. 

Paulo Freire, conhecido como o patrono da educação, é leitura obrigatória para todos aqueles que estudam ou se interessam pela área de educação, pois suas contribuições foram de extrema relevância para o sistema educacional brasileiro.

O livro, publicado em 2022 com 240 páginas, foi escrito por Débora Mazza, doutora em Ciências Sociais pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp e pós-doutora pela École des Hautes Études en Sciences Sociales e pelo Centre de Recherche Sociologiques et Politiques, ambos em Paris. Atualmente, ela é professora da Faculdade de Educação da Unicamp.

  1. Debate educacional nas origens da “Nova República”

Essa obra investiga um período do Brasil em que emergiram novos sujeitos sociais a partir de lutas sociais e que, por meio das camadas mais baixas da população – mulheres, negros, camponeses, trabalhadores fabris, moradores de periferias –, possibilitaram uma nova perspectiva de democracia. Esse estudo baseia-se na análise de duas revistas – Ande e Educação & Sociedade – que comportaram, na época, as principais concepções sobre educação presentes nas lutas pela democracia, as quais confrontavam a ditadura empresarial-militar. Debate educacional nas origens da “Nova República” traz luz às importantes discussões educacionais que ocorreram e que estabeleceram demarcações da escola unitária. 

A obra foi escrita pela doutora em Educação pela Unicamp, Fabiana de Cássia Rodrigues. Atualmente, Rodrigues é professora livre-docente na Faculdade de Educação da Unicamp, onde atua como professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação e como pesquisadora no Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação e Crítica Social (Gepecs) e no Grupo de Estudos e Pesquisas em “História, Sociedade e Educação no Brasil” (Histedbr).

Debate educacional nas origens da “Nova República” foi publicado em 2022 com 208 páginas e é uma obra de extrema relevância para se estudar uma parte da história da educação brasileira e compreender o contexto atual da educação no Brasil.

  1. Escola Nova: políticas de reconstrução

Esse livro discute sobre um importante período da história da educação do qual emergiram ideias relevantes para a expansão e a transformação da escola pública – o período da Escola Nova. Com ele, o autor propõe “pensar a inovação educacional como uma invenção política custosa, com várias frentes de atuação e de difícil administração, a partir de um dos ramos do movimento de renovação educacional do país, aquele que liga o Rio de Janeiro a São Paulo entre 1927 e 1938”. 

O livro foi escrito pelo historiador André Luiz Paulilo, doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), que atua como docente na Unicamp e também escreveu a obra Políticas públicas de educação, sobre a qual falaremos a seguir.

Escola Nova: políticas de reconstrução foi publicada em 2022 com 288 páginas e é uma obra muito relevante tanto para a área de educação de modo geral quanto para o campo da história.

  1. Políticas públicas de educação

Livro também escrito pelo historiador André Luiz Paulilo, Políticas públicas de educação discute como o ensino foi administrado no período que se inicia na posse de Carneiro Leão na função de diretor-geral de instrução do Distrito Federal, em 1922, e termina na exoneração de Anísio Teixeira do Departamento de Educação da Prefeitura da capital, em 1935. O autor analisa a legislação de reforma, as instruções normativas, os ofícios, os editais e as atas de concurso de promoção de professores para buscar compreender como o mando foi praticado na Diretoria Geral de Instrução Pública do Distrito Federal, durante esse período de mais de uma década. Esse livro aborda os mandatos de Carneiro Leão (1922-1926), Fernando de Azevedo (1927-1930), Anísio Teixeira (1931-1935) e debate como eles conduziram a Diretoria Geral de Instrução Pública do Distrito Federal.

Com a experiência de Paulilo na área de educação, a obra Políticas públicas de educação é muito importante para os estudos não apenas no campo da educação, mas também nos campos da ciência política e da história. O livro foi publicado em 2015 e tem 464 páginas.

  1. Na rota da educação

Esse livro toma epistemologia, teoria e ciências da educação como objetos-problema dentro de “uma história da educação antropológico-pedagógica e institucional”, buscando uma epistemologia compreensiva e diferencial da educação, pautada em um “conhecimento pluridisciplinar e interpelativo do contexto: teoria, história, antropologia, pedagogia; representação da educação-instituição; perspectiva sistemática e crítica das ciências da educação”. Na rota da educação traz um debate muito importante para a história da educação ao problematizar o conhecimento e discutir dialética teórica, prática e praxeologia.

Publicado em 2022, Na rota da educação tem 256 páginas e foi escrito por Justino Magalhães, professor catedrático de História da Educação do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. Justino é autor de várias obras, entre elas Tecendo nexos. História das instituições educativas e Da cadeira ao banco. Escola e modernização, séculos XVIII-XX.

  1. A educação superior na América Latina e os desafios do século XXI

Essa obra traz um panorama da educação superior na América Latina a partir de textos de diferentes autores pesquisadores desse assunto. Trazendo dados de 1960 e seguindo até a atualidade, a totalidade dos escritos conseguem mostrar ao leitor as diferenças e as semelhanças entre os países da América Latina no quesito educação e situá-las em relação a outros países como EUA e Coreia do Sul. 

A educação superior na América Latina e os desafios do século XXI é muito relevante para os estudos da área de educação, pois, além de pontuar os atrasos de nosso país em relação a outros, o livro também discute o que tem sido feito na área de produção e disseminação do conhecimento. Esse tipo de informação é fundamental para podermos aprimorar a formação superior.

Lançada em 2015, a obra tem 288 páginas e foi organizada por Simon Schwartzman, doutor em Ciências Políticas pela Universidade da Califórnia, que foi diretor científico do Núcleo de Pesquisas sobre o Ensino Superior na USP (1990-1994) e presidente do IBGE (1994-1998).

  1. A aula como produção de conhecimentos

A obra A aula como produção de conhecimentos foi escrita a partir das discussões feitas na disciplina Sociologia da Infância, oferecida em 2021 pelas professoras Ana Lúcia Goulart de Faria e Adriana Alves da Silva, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Unicamp. Essa disciplina pautou-se na concepção freiriana de educação, tomando a infância como centro das atenções e considerando a modificação que as crianças causam ao criarem culturas infantis em suas interações. Os temas discutidos são diversos e permeiam sempre assuntos relevantes para a educação e a infância, como infância e políticas públicas, participação das crianças na luta de classes e possibilidades de uma educação emancipatória, efeitos da colonialidade na educação das crianças manauaras, entre outros assuntos que fazem dessa obra leitura basilar para aqueles que estudam a educação e a infância.

A aula como produção de conhecimentos foi publicada em 2022 e conta com 304 páginas. Essa obra foi organizada por Ana Lúcia Goulart de Faria – professora aposentada e colaboradora voluntária da Faculdade de Educação da Unicamp –, Eduardo Pereira Batista – professor de educação física na educação infantil, na rede municipal de Vinhedo e professor temporário na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo – e Rosali Rauta Siller – professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). 

  1. Currículo, narrativa pessoal e futuro social

Currículo, narrativa pessoal e futuro social discute o embate entre as aspirações coletivas e individuais e as políticas de educação, baseadas em um novo padrão que busca responsabilizar cada vez mais os professores, linha de frente da realização dos serviços. 

A primeira parte da obra analisa um espectro de questões ligadas ao currículo escolar. As outras duas partes focam no “aspecto biográfico e na narrativa de vida de diversos profissionais”. Você pode saber mais sobre a obra neste artigo em nosso Blog. 

Currículo, narrativa pessoal e futuro social discute temas ímpares para a área de educação, leitura sempre interessante para estudantes, professores e pesquisadores da área.

O livro, publicado em 2019 com 396 páginas, foi escrito por Ivor Goodson, historiador econômico. Ele é o editor fundador do Journal of Education Policy e, recentemente, recebeu o prêmio Michael Huberman da American Educational Research Association por seu trabalho na vida dos professores.

  1. O conceito de universidade no projeto da Unicamp

O conceito de universidade no projeto da Unicamp busca debater “os obstáculos que dificultam a introdução da universidade moderna no Brasil” ao refletir sobre diversas questões que abarcam o conceito de universidade, como: “A universidade pública no Brasil de hoje atende efetivamente aos termos da renovação institucional que põe a pesquisa em primeiro plano?”, “De que modo essa universidade procura resolver o problema da anterioridade histórica da faculdade em relação à universidade?”, entre outras questões. Dessa forma, o livro é muito relevante para aqueles que têm interesse na área de educação, de modo geral, e nos estudos sobre universidades no Brasil, em específico.

O autor da obra é Fausto Castilho, foi membro da Comissão de Planejamento da Unicamp (Coplan). Castilho teve papel fundamental na formulação do plano geral e na implementação dos institutos centrais da Universidade, além de ter participado da organização de toda a área das humanidades na Unicamp. Ele também fundou e foi o primeiro diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH).Além de Castilho, O conceito de universidade no projeto da Unicamp também contou com Alexandre Guimarães Tadeu de Soares como organizador, que é professor na Universidade Federal de Uberlândia. Ele também é autor da obra O filósofo e o autor.

  1. Humanidades e ciências naturais

Essa obra busca estabelecer um diálogo entre humanidades e ciências naturais, de modo a contestar a fragmentação do saber em áreas e subáreas, tendo em vista a complexidade de alguns campos, como sociedade de controle, big data, data science, sociedade da informação, cidades inteligentes, internet das coisas, inteligência artificial, datificação, sociedade de risco, tecnologia social, engenharia genética, áreas complexas e interdisciplinares. Nesse sentido, Humanidades e ciências naturais, publicada em 2021 com 240 páginas, destina-se para, principalmente, cursos de graduação de ciências exatas e biológicas que tenham disciplinas de humanidades em sua grade curricular, mas também pode interessar cursos de humanas que buscam diálogo com outras áreas.

A obra foi organizada por Márcio Barreto, doutor em Ciências Sociais pela Unicamp. Atualmente, é professor na Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp. Ele já publicou outros livros, como Trama matemática e A física no ensino médio: livro do professor.

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A área de educação é um campo de pesquisa muito profícuo e aberto a diversas possibilidades, ter acesso a bons livros é essencial para conhecer as diferentes frentes de estudo dessa área. As obras aqui indicadas são apenas uma parte dessas possibilidades. Acesse o site da Editora da Unicamp para conhecer outras obras sobre educação e navegue pelo nosso catálogo.

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