Couto: um modernista de primeira hora, em primeira mão

Por Beatriz Burgos

Em 2022, completaram-se cem anos da Semana de Arte Moderna, evento artístico que, ao longo do século XX, foi reconhecido por pesquisadores como o principal acontecimento de arte da história do Brasil contemporâneo. A Semana fundou um modo associativo de produzir exposições com múltiplas linguagens, um fazer artístico dentro de novas premissas e uma forma diferente de pensar o Brasil, o brasileiro e suas realidades. Célebres nomes da literatura brasileira revelaram-se no evento, e, até hoje, são lembrados e reconhecidos por sua contribuição.

Antônio Carlos Couto de Barros – ou, simplesmente, Couto – foi um fazendeiro, empresário e escritor modernista de primeira geração: ajudou a planejar as principais manifestações do Modernismo, entre 1922 e 1932, e nelas tomou parte, inclusive na Semana de Arte Moderna. Ao lado de grandes nomes como Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida e Graça Aranha, fundou e dirigiu as principais revistas do Modernismo: Klaxon (1922), Terra Roxa e Outras Terras (1925) e Revista Nova (1931). Os textos escritos para esses e outros periódicos, até agora inéditos em livro, bem como a trajetória artística de Couto, foram reunidos pela professora Maria Eugenia Boaventura em dois volumes e publicados pela Editora da Unicamp em parceria com a Ateliê Editorial: O filósofo da malta e Couto de Barros: a elite nos bastidores do Modernismo paulista.

Maria Eugenia Boaventura é ensaísta e professora titular de literatura brasileira do Departamento de Teoria Literária da Unicamp. Sua especialidade é a literatura brasileira como um todo, embora seja referência nos estudos sobre o Modernismo e a literatura contemporânea. É pesquisadora relevante também sobre fontes primárias e arquivos pessoais – foi com eles, e a partir de minuciosa exploração na extensa coleção (arquivo, biblioteca e obras de arte) preservada pela família de Couto de Barros, que a autora/organizadora foi capaz de reconstruir a teia modernista em que o autor e seus amigos estiveram envolvidos.

Assim, em Couto de Barros: a elite nos bastidores do Modernismo paulista, um dos dois volumes lançados, Boaventura rastreia a atuação do escritor na vida cultural, política e econômica de São Paulo, em boa parte do século XX. Segundo a própria autora, apontando para as ricas iconografia e documentação recolhidas, a partir de um registro neutro da descrição, a obra “esmiúça em detalhes a história miúda, a fim de mostrar a peculiaridade da vida familiar, jornalística e política, da formação escolar e da relação com os colegas de um intelectual, empresário, advogado, jornalista, escritor e professor paulista daquela época”.

Em 13 capítulos, o livro pormenoriza acontecimentos como a colaboração de Couto em diversos periódicos modernistas – alguns dos quais fundou e dirigiu –, sua contribuição na formação do Partido Democrático e na criação da Escola Livre de Sociologia e Política (1934). O volume conta, ainda, com uma lista de abreviaturas e siglas usadas para nomes próprios no decorrer da obra, o que facilita a consulta de informações-chave e o resgate de qualquer referência necessária durante a leitura.

O caráter biográfico do livro não é encontrado no segundo volume, lançado em conjunto: O filósofo da malta, intitulado com o apelido dado ao escritor por seus colegas, compõe-se inteiramente por textos modernistas de autoria de Couto de Barros, reunidos e organizados por Boaventura. O autor não tinha uma coluna regular de crítica literária ou de arte; a organizadora, a partir de cuidadosa busca na coleção preservada, reuniu textos que representam a participação dele nos diferentes periódicos do Modernismo que dirigiu, nas revistas de colegas nas quais colaborou, bem como no jornal do qual foi um dos sócios e diretor, o Diário Nacional (1927-1932), e em palestras em escolas e associações culturais.

O volume é organizado em sete seções, por afinidade de tema e assunto, seguindo a ordem cronológica. A primeira delas, “No calor da hora”, constitui-se de resenhas e análises de textos de diversos autores do período, como Oswald de Andrade, Sérgio Milliet e Mário de Andrade. Com frequente uso de digressões e referências a nomes consagrados da literatura – coisa que o autor faz para armar o seu raciocínio na intenção de aproximar propostas e ideias –, nessa seção inicial o leitor tem contato com o Couto-crítico. Os capítulos seguintes seguem-se com artigos que expõem a opinião e os apontamentos gerais de Couto de Barros sobre diferentes tópicos: desde a agenda modernista até a política mundial. O autor depara-se também com críticas de arte e textos voltados para o debate do momento tanto aqui quanto lá fora; são abordados temas gerais como o conceito de ciência, a representação de tempo e espaço, ciência e magia, o universo mental do homem primitivo, o critério racial como traço de cultura etc. Maria Eugenia Boaventura fecha o livro com trabalhos de natureza política que fazem um diagnóstico duro da situação do país, visto pela elite que tinha consciência do seu papel: contribuir para mudar a situação de atraso decorrente.

Nessa reunião de textos tão diversos, de autoria de um autor igualmente versátil – e brilhante –, Boaventura faz de O filósofo da malta a primeira coletânea de textos de Couto de Barros, isto é, lança o primeiro volume existente composto pela obra do autor. Da mesma forma, Couto de Barros: a elite nos bastidores do Modernismo paulista inaugura a primeira obra crítica e biográfica unicamente centrada em Couto de Barros. Os dois lançamentos, portanto, publicados no ano em que se comemora o centenário da Semana de Arte Moderna, apresentam pioneiramente no mercado um nome tão importante e fundamental do movimento modernista – nome esse que foi cabeça e colaborador de eventos e publicações medulares na história da arte e da cultura brasileira, crítico distinto no período e pensador de questões que afetam toda a história do Brasil e do brasileiro, cujas raízes perduram até hoje, assim como Couto mesmo.

Para saber mais sobre os livros, visite o nosso site!

O filósofo da malta

Autor: Couto de Barros

Organização: Maria Eugenia Boaventura

ISBN: 9788526815308

Edição: 1a

Ano: 2022

Páginas: 184

Dimensões: 21 x 25,8 cm

Couto de Barros: a elite nos bastidores do Modernismo paulista

Autora: Maria Eugenia Boaventura

ISBN: 9788526815292

Edição: 1a

Ano: 2022

Páginas: 352

Dimensões: 21 x 25,8 cm

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