
Por Ana Carolina Pereira
No século XVIII, o Marquês de Pombal instituiu uma série de reformas para reestruturar o poder português, para que o Estado voltasse a ser uma metrópole forte como antes. Tais reformas também aconteceram nas colônias portuguesas, principalmente no Brasil, o que alterou substancialmente a vida dos que aqui moravam. Depois, com a vinda da família real portuguesa para a colônia em 1808, todos os setores do território brasileiro foram ainda mais modificados, como, por exemplo, a abertura dos portos, que significou um grande passo para a futura Independência da região.
Para estudar os horizontes políticos e culturais da sociedade brasileira no período da Independência e, assim, discutir as mudanças que ocorreram na colônia e, posteriormente, no Império do Brasil, Iara Lis Schiavinatto escreveu o livro Visualidade e poder – Ensaios sobre o mundo lusófono (c. 1770-c. 1840). Schiavinatto fez mestrado, doutorado e livre-docência na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde é docente atualmente. Além disso, a autora já publicou vários artigos na área de história, como “Pátria coroada: o Brasil como corpo político autônomo, 1780-1831”.
O livro Visualidade e poder – Ensaios sobre o mundo lusófono (c. 1770-c. 1840) foi publicado pela Editora da Unicamp em formato digital, para dar aos leitores maior flexibilidade de leitura. A obra toma como argumento central que “a construção dos horizontes políticos e culturais que estruturaram a sociedade brasileira ao redor do período da independência dependeu intrinsecamente das formas de organização do conhecimento promovidas a partir das reformas pombalinas em Portugal”. Para isso, a autora parte do que foi descrito no jornal O Patriota, em 1813: a existência, entre os habitantes da colônia, de um “sentimento de vertigem” em relação aos acontecimentos ocorridos na Europa que tiveram grandes reverberações no Brasil da época. A Revolução Francesa, por exemplo, irradiou para diversos lugares do mundo, influenciando inclusive colonos brasileiros, que, insatisfeitos com a Coroa portuguesa, inflaram a Revolução Pernambucana, que deu 75 dias de liberdade para a região, até que Dom João VI sufocou a revolta com o auxílio da Marinha e do Exército.
Grande parte da elite política brasileira formou-se na Universidade de Coimbra, na época da ascensão do Iluminismo na Europa, o que trouxe novos parâmetros político-culturais para a colônia, gerando uma interação entre o que acontecia em cada lado do Atlântico, sendo isso discutido pela autora no livro. Schiavinatto também observa como essa nova dinâmica entre os anos 1770 e 1830 gerou “um regime de imagens próprio, expresso em diferentes sistemas de representação”. As imagens tiveram um importante papel na sociedade colonial brasileira, pois elas, “vincadas por seu feitio utilitário e agradável, compuseram e educaram a representação do mundo natural – dito brasileiro depois – dessa geração de luso-brasileiros da virada do século XVIII para o XIX”. O livro traz uma análise do papel dessas imagens de modo inovador para os estudos da área.
A vinda da família real para a colônia proporcionou a criação da imprensa oficial, o que também é analisado no livro como um fato importante para o regime de imagens próprias criado pelas rápidas mudanças no Brasil. Visualidade e poder discute como os primeiros períodos brasileiros “aproveitaram e transformaram os modelos de cultura letrada vindos da metrópole, adequando-os à nova realidade criada com a chegada da corte ao Brasil”. Assim, a autora, nos capítulos 2 e 3 do livro, aponta para a indispensabilidade da imprensa na criação “desse novo tipo de homem público e da invenção de imagens a ele associadas”, analisando como a circulação de determinadas matérias com intenções políticas influenciou a Independência do Brasil e a criação de uma Monarquia no novo país. Para realizar o percurso dessa análise, a autora também discute o ambiente político-cultural de Lisboa da época, já que o que acontecia em Portugal reverberava no Brasil de diversas formas.
A obra Visualidade e poder não discute somente as imagens do período em questão, mas também o contexto político da colônia e da metrópole, já que tais contextualizações são necessárias para se entender a estrutura político-cultural do Brasil nos séculos XVIII e XIX. Nesse sentido, é primordial os mecanismos sociais que geraram os regimes visuais de poder nos espaços entre Portugal e Brasil serem estudados, para se compreenderem as relações entre visualidade e poder nesses espaços. Partindo dessas indagações, o livro segue com a discussão da formação e da atuação das elites no interior do mundo luso-brasileiro. Para encerrar, o último capítulo traz um exemplo concreto do novo homem letrado da colônia, sendo a construção desse personagem analisada no livro com base em Hercule Florence. Assim, como bem pontua Claudia Mattos Avolese, que escreveu o Prefácio à obra: “Evidenciando a importância das redes de comunicação, circulação e troca de conhecimento entre Portugal e Brasil para a construção de uma cultura visual luso-brasileira, o livro oferece, ainda, uma visão dinâmica e unificada da tradição imagética que fluiu entre Europa e América, costurando narrativas sobre um período que até então tendia a ser dividido entre visões parciais da história, imaginadas a partir de cada lado do Atlântico”.
O livro Visualidade e poder traz, portanto, uma importante e inovadora visão do mundo luso-brasileiro e analisa a construção e estruturação da imagem de um novo homem letrado da colônia. Essa discussão é fundamental para se compreenderem os caminhos que levarão ao processo de Independência do Brasil e como a região se organizou como país independente. Com uma linguagem clara e de fácil compreensão, a obra é muito importante para estudiosos de história do Brasil.
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Visualidade e poder – Ensaios sobre o mundo lusófono (c. 1770-c. 1840)
Autora: Iara Lis Schiavinatto
ISBN: 9788526815544
Edição: 1a.
Ano: 2022
Formato digital