Jornal da Unicamp publica entrevista com Marcos Rodrigues, autor do livro “Ypabuçu: a vida nas lagoas”

Entrevista foi publicada no Jornal da Unicamp em 20 de novembro de 2022.

definindo o significado dos termos acadêmicos mencionados, apresentando os nomes científicos das espécies citadas e suas respectivas denominações populares. Rodrigues, que é biólogo e professor na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escreveu também O equinócio dos sabiás (Editora da UFPR, 2018) e Um sabiá sujo (Editora da Unicamp, 2020). Nesta entrevista, o autor fala sobre a sua obra mais recente.

Jornal da Unicamp – Do ponto de vista da execução do projeto, quais as principais semelhanças e diferenças entre este livro e o seu  anterior, Um sabiá sujo?

Marcos Rodrigues – São muito diferentes. Um sabiá sujo é um livro ligeiramente técnico, há conceitos biológicos a serem explicados assim como dados reais coletados na natureza, além da análise desses dados. Ypabuçu, por sua vez, é um livro de crônicas, destinado a um público muito mais amplo e que apresenta conceitos biológicos mais simples. Procurei mesclar situações contemplativas e processos biológicos fáceis de serem compreendidos por quem não tem nenhuma relação com o mundo da ciência.

JU – Qual a motivação para escrever um livro sobre natureza e biologia tendo como ponto de partida diferentes lagoas?

Marcos Rodrigues – Lagoas são uma referência em minha vida. Faço caminhadas ao longo dessas lagoas há anos. A partir de observações e de diários que escrevo, percebi que as lagoas poderiam ser um bom ponto de partida para entendermos as relações ecológicas a que estamos sujeitos neste planeta.

JU – Ao pesquisar para escrever este livro, você deve ter se deparado com dados que reforçam a preocupação mundial com a degradação do meio ambiente. Na sua obra, você incorpora essas preocupações quando, por exemplo, denuncia o desastre ambiental  nos Grandes Lagos norte-americanos. Você acha que seu livro pode promover uma maior conscientização ecológica? Por quê?

Marcos Rodrigues – A criação dos canais que ligam os Grandes Lagos americanos ao Oceano Atlântico foi um dos grandes desastres ambientais do planeta. Os Grandes Lagos são naturais, mas sua conexão com o oceano era parcialmente barrada pelas Cataratas do Niágara. Com a criação dos canais, muitos organismos, como moluscos, peixes e lampreias, puderam invadir os Grandes Lagos e ali desencadear um processo de degradação ambiental irreversível. Eu tento mostrar isso no meu livro. A introdução de peixes não nativos aconteceu em várias lagoas e lagos importantes do mundo, como, por exemplo, no grande Lago Vitória, localizado na África Oriental. No Brasil, temos esse problema com a introdução de tilápias e tucunarés em lagos, lagoas e rios onde essas espécies não existiam. No livro Ypabuçu, tentei explicar por que isso é um desastre e como isso é desencadeado. Espero que meu livro chegue às pessoas que desconhecem esse problema. Talvez elas se conscientizem sobre a questão e comentem com colegas e amigos a respeito dela. Um olhar diferente sobre as coisas é o primeiro passo para uma mudança.

Foto de satélite que mostra lagos na superfície do planeta Terra.
Grandes Lagos americanos vistos do espaço: introdução de espécies desencadeou processo de degradação ambiental irreversível (Foto: Divulgação)

JU – Como mostram seus livros anteriores, você é um cientista que faz divulgação científica de um ponto de vista muito pouco acadêmico, visando atingir um público mais amplo. Por que essa opção?

Marcos Rodrigues – Porque os acadêmicos já conhecem os problemas muito melhor do que eu, mas as pessoas fora da academia não têm ideia da importância de certos processos. Eu tenho um capítulo dedicado a uns insetos, os efemerópteros, que invadem os lares próximos às lagoas. Ninguém gosta de ter as tardes de verão invadidas por insetos, não é mesmo? Contudo, em Ypabuçu, eu mostro o que são eles, onde e como vivem e explico que um mundo sem efemerópteros seria um desastre para nós, humanos. No meu livro, quero trazer esse outro lado, esse outro olhar. 

JU – Por que, em Ypabuçu, você intercala textos literários e letras de música com as observações científicas?

Marcos Rodrigues – São referências que me vêm à cabeça e que acredito que muitos também têm. Um texto precisa ter referências. Tento fazer ligação daquilo que estou descrevendo com poesias ou canções, que acredito que sejam mais significativas para o leitor do que meras descrições objetivas. Um texto de divulgação científica precisa fazer aflorar a subjetividade que cada um tem dentro de si. Só nos ligamos a algo por simpatia, por sentimento, e não pela razão. A poesia é o melhor espaço para isso.

JU – Qual o papel da divulgação científica na aproximação da comunidade acadêmica com a população em geral? 

Marcos Rodrigues – A divulgação científica é mais do que necessária. As pessoas vivem dentro de um mundo que foi gerado pela  ciência, desde o arroz que comemos no almoço, passando pelos remédios até os celulares. Tudo foi gerado por ideias científicas, mas ninguém percebe isso. Tomamos o mundo como se ele fosse “de graça” e não perguntamos como são as coisas. A divulgação científica precisa chegar à população que não tem ideia do que seja ciência e a pessoas que não tiveram oportunidade de saber o que é ciência. Acrescento que, atualmente, precisa chegar também às pessoas que foram “ensinadas” a não gostar de ciência ou a não acreditar nela.

Para ler a entrevista no site do Jornal da Unicamp, clique aqui.

SOBRE O LIVRO

Ypabuçu: a vida nas lagoas

Autor: Marcos Rodrigues

Páginas: 232

Formato: 14 x 21 cm

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