Religar o ser humano ao meio ambiente

Por Ana Carolina Pereira

Todas as cidades do Brasil têm um lago ou uma lagoa como atrativo principal, seja para uma caminhada pela orla, seja para um piquenique na grama próxima à água. Muitas lagoas são famosas e principais pontos turísticos de cidades, como a lagoa da Pampulha, cartão-postal de Belo Horizonte. Esses lugares são um ponto de vida selvagem em meio a cidades industrializadas e servem como meio de conexão com a natureza. No entanto, o ser humano pouco valoriza tais locais e as modificações ambientais causadas por ele prejudicam seriamente o meio ambiente.

Com o objeto de religar o ser humano à natureza, Marcos Rodrigues escreveu o livro Ypabuçu: a vida nas lagoas, publicado pela Editora da Unicamp. Marcos Rodrigues é biólogo, fez mestrado em Ecologia pela Unicamp e doutorado em Zoologia pela Universidade de Oxford, Inglaterra. Atua como professor na Universidade Federal de Minas Gerais e já publicou diversos artigos e livros na área de biológicas, entre os quais se encontra a obra Um sabiá sujo, publicada pela Editora da Unicamp em 2020. O seu livro O equinócio dos sabiás (Editora UFPR) foi premiado como melhor livro de Ciências da Vida pela Associação Brasileira de Editoras Universitárias (Abeu) no ano de 2019.

Ypabuçu foi escrito em formato de crônicas que narram as observações feitas pelo autor sobre a fauna e a flora dos lagos e lagoas por onde ele esteve nos últimos anos. Para isso, o leitor acompanha Rodrigues em suas caminhadas pelas orlas com o objetivo de mostrar que “a natureza e as relações dela conosco estão bem à nossa frente e podem (talvez devam) ser contempladas frequentemente”. A obra é composta por 13 capítulos nomeados de acordo com os meses do ano – indo de março a março do ano seguinte –, cada um dividido em subcapítulos.

Parte do conteúdo do livro foi retirada do diário de Rodrigues, e outras partes foram escritas a partir do conhecimento prévio do autor com base na leitura de artigos e livros sobre o assunto. A lagoa Santa, no município de mesmo nome em Minas Gerais, foi a inspiração central para a escrita do autor, mas, ao longo da leitura, também são citados lagos e lagoas igualmente famosos, como a lagoa do Peixe, na região gaúcha dos banhados, e o lago da Vitória, entre Uganda, Quênia e Tanzânia. O que o autor encontrou nesses lugares é o assunto do livro. Suas observações científicas são intercaladas com citações de poemas que se relacionam com o tema da crônica. Poetas como Alberto Caeiro, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, Mário Quintana, entre outros, são usados como um passo de originalidade de Rodrigues, caracterizando a sensibilidade de sua obra.

Mesmo com observações de cunho científico, Ypabuçu apresenta uma linguagem clara, evitando jargões teóricos, o que facilita o entendimento daqueles que não são da área de biológicas. Porém, há termos científicos ao longo dos textos, os quais Rodrigues colocou em um Glossário no final do livro, o que também é um ponto muito positivo para leitores leigos. O Glossário também apresenta o nome científico de espécies citadas com nomes populares, tornando o livro bastante acessível, como pontua Leandro Fróes, que escreveu o Prefácio do livro e fala que Marcos Rodrigues, na obra, “mostra-se advertido como autor de que um cientista é capaz de sair do isolamento nos gabinetes de estudo para atingir o grande público e dar à sua atuação maior repercussão social”. Fróes também traz uma consideração importante sobre o livro:

Este Ypabuçu, a vida nas lagoas é uma crônica de fatos diversos e de sutis estados de espíritos, sendo em resumo uma narrativa encantada e encantatória das caminhadas que o autor se habituou a fazer pelo contorno e as reentrâncias de um lugar cheio de história, de pesquisas importantes e de lendárias crendices: sua amada e famosa lagoa Santa, no município mineiro de igual nome, que vem a ser Ypabuçu do título. Na narrativa feita por Rodrigues, ciência e sensibilidade se entrelaçam numa simbiose perfeita.

Atualmente, ocorrem muitos colóquios, reuniões, discursos, relatórios, livros e publicações ecológicas sobre os danos ambientais que são cada vez mais intensos e prejudicam a integridade do planeta, mas essas ações são insuficientes na medida em que as atividades nocivas para o meio ambiente continuam acontecendo. Leandro Fróes diz que nos falta discernimento científico, faróis racionais e “uma dose absoluta e transfiguradora de sensibilidade diante das belezas e das magias da vida” para lutar contra os danos ambientais, e o livro Ypabuçu pode ser essa sensibilidade que nos falta. A obra traz diversos alertas sobre o meio ambiente e sobre as alterações no planeta que prejudicam diretamente a própria vida humana. Assim, Rodrigues mistura sensibilidade e ciência, assumindo uma posição de responsabilidade ao indicar mudanças no ambiente aquático que ocasionam diversos prejuízos ambientais e financeiros.

Segundo Fróes, “se a sensibilidade humana às belezas da vida encontra-se em estado de torpor, isso é talvez o que mais torna difícil o estabelecimento de uma relação inteligente e saudável com a natureza”. Para lutar contra isso, precisamos nos reconectar com a natureza e, como pontua Rodrigues, “as lagoas são especiais para isso porque é na água que tudo começa, assim como é a água que liga tudo que vive neste planeta”. Esses lugares são importantes para que continue havendo vida no planeta Terra e compreender essa importância no nível prático é um passo fundamental para proteger o meio ambiente dos diversos danos que o ser humano vem causando. Nesse sentido, a leitura de Ypabuçu é relevante não apenas para quem é da área de biologia, mas para todos aqueles que procuram uma dose de sensibilidade e conexão com a natureza.

Para saber mais sobre o livro, visite o nosso site!

Ypabuçu: a vida nas lagoas

Autor: Marcos Rodrigues

ISBN: 978-85-268-1553-7

Edição:1a

Ano: 2022

Páginas: 232

Dimensões: 14 x 21 cm

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