A matéria sobre o livro As crianças de Clarice – Narrativas da infância e outras revelações, escrito por Mell Brittes, foi publicada no site do Jornal Literário Rascunho em 30 de março de 2022. Clique aqui para ler o texto ou role a página até o fim.

Para compreender as diferentes visões da infância presentes na obra de Clarice Lispector, Brites cria dois eixos de análise: o primeiro perpassa os contos Restos do Carnaval, Cem anos de perdão, Felicidade clandestina e Os desastres de Sofia, voltados aos leitores adultos; e o segundo foca nos livros A mulher que matou os peixes, O mistério do coelho pensante e A vida íntima de Laura, passando também de forma mais breve por Quase de verdade e Como nasceram as estrelas, todos direcionados ao público infantojuvenil.
Na primeira parte, Brites observa que, por meio de narradoras em primeira pessoa, Clarice usa como parte do material ficcional passagens de sua própria infância, vivida em Recife. Enquanto, na segunda parte, as narradoras — muitas vezes caracterizadas como mães, escritoras e até de nome Clarice — estabelecem conversa com o leitor, utilizando-a como fio condutor da narrativa.
Nos contos adultos, as personagens se sentem isoladas, habitando um cenário em que parece haver pouco espaço para a infância, e a felicidade se manifesta por meio da entrada em um mundo de fantasia ou pela experiência do despertar da sexualidade. Já nos livros infantis, as narradoras adultas, cientes das dores inerentes à vida, buscam criar para o interlocutor um ambiente seguro, acolhedor e aconchegante.