A técnica artística do Renascimento

Por Gustavo Gonçalves

O Renascimento foi um dos mais importantes movimentos culturais que existiram. Suas ideias impactaram toda a Europa, trazendo inovações em diferentes áreas sociais. No século XIV, a cidade de Florença – na Itália, berço do Renascimento – foi palco de inúmeros ícones da arte que revolucionaram o mundo por meio de seus trabalhos, como mostrado no livro da Editora da Unicamp sobre a vida do gênio renascentista Michelangelo. Os estilos criados durante o período definiram o meio artístico ocidental por séculos. 

Com a intenção de compartilhar os fundamentos teóricos criados em Florença, e consolidar tais bases, o livro Da pintura, de Leon Battista Alberti, é a primeira obra na literatura artística a considerar a pintura um objeto de teoria e de uma doutrina sistematizadora. Além disso, pelo fato de o autor ser familiarizado com as artes liberais – com formação plena multidisciplinar dos ofícios Trivium (lógica, gramática, retórica) e Quadrivium (aritmética, música, geometria, astronomia) –, o texto singulariza-se de qualquer outro até então criado, fazendo uso de uma retórica poética e da geometria para construir sua argumentação.

Humanista, arquiteto e teórico da arte, Leon Battista Alberti foi o primeiro autor pós-clássico a escrever uma obra contra técnicas de fazer artístico antigas. Alberti também foi pioneiro nos estudos de arquitetura; é reconhecido por seus projetos, como a fachada do Palácio Rucellai e a reforma da Basílica de Santo Estêvão Redondo. Por conta de seus desenhos e textos, trabalhou com os grandes ícones do Renascimento de Florença: Donatello, Masaccio e Brunelleschi. 

A tradução foi realizada por Antônio da Silveira Mendonça, professor convidado da Universidade de São Paulo (USP). O livro conta com a colaboração de Leon Kossovitch, professor sênior da Universidade de São Paulo (USP), responsável pela Apresentação, na qual traça a história pré-quatrocentista da arte na Europa; pelo Prefácio, introduzindo as teorias presentes na obra; e pelas Notas, contextualizando cada parágrafo de Leon Battista Alberti com pesquisas e livros contemporâneos.

Em sua quarta edição, Da pintura se baseia em sua versão “vulgar”, escrita na língua toscana. O tratado traz elementos de outras áreas, como a geometria. Porém, a obra não se enxerga de maneira matemática, usando esses recursos apenas para esclarecer teorias artísticas. O livro é dividido em três partes: “rudimentos”, “pintura”, “pintor”.

O primeiro capítulo foca a geometria e as análises da luz dentro da teoria da arte. Para esclarecer como funciona a óptica e a representação de distância para dimensionar os objetos, algumas vezes e de maneira empírica, Alberti vai contra a base euclidiana. 

A geometria euclidiana – também conhecida por “geometria plana” – baseia-se nos cinco postulados de Euclides, grande matemático do século III a.C. Esses postulados trazem estudos sobre o espaço e o plano, em duas ou três dimensões. No entanto, estão restritos aos aspectos geométricos que operam na visão que temos de uma obra. A luz, a cor, a transparência, a luz solar, a natureza do olho, todos esses aspectos são excluídos por Euclides por não serem geometricamente analisáveis. No que diz respeito a esse tópico, Alberti se aproxima da teoria óptica de Alquindi. Além disso, o capítulo destaca a importância da perspectiva e da recepção de luz na superfície, que fazem parte das três modalidades de raios visuais no método da pirâmide visual, o mais utilizado na Renascença. Os raios podem ser extrínsecos, a primeira parte da pintura; médios, a recepção de luzes; e cêntrico, determinado pela perspectiva.

A divisão da pintura, formada por preceitos e conceitos, constitui o segundo capítulo. Nele, é muito presente o teor encomiástico, considerado, até o século XVIII, um gênero. Alberti compara a pintura com outras artes, como a escultura e a arquitetura, para poder mostrar que suas bases não “perdiam” para elas nem em questão de valor. Ele destaca a beleza da pintura e sua aprovação geral pela sociedade da época: “a pintura agrada a todos, doutos e não doutos, nobres e plebeus, a todos se dirigindo e a todos cativando”.

Na terceira parte, a obra foca o pintor como indivíduo, trazendo suas virtudes e seus conhecimentos práticos. O capítulo retoma as teorias para apresentar suas execuções, com o ofício do artista sendo, principalmente, descrever o mundo com linhas e pintá-lo com cores. Além disso, Alberti apresenta características que, para ele, são de suma importância para o pintor, como, por exemplo, o conhecimento nas artes liberais e na geometria.

Da pintura influenciou, já durante o Renascimento, o trabalho de muitos artistas. A substituição do uso de ouro – metal precioso em pó utilizado para dar os tons dourados à obra pictórica – por uma técnica de pintura que desse o mesmo efeito, e o uso da cor preta na modelagem – que tornou as criações renascentistas italianas mais sombrias – foram algumas das contribuições mais imediatas do tratado. Grandes nomes da época já incorporaram essas técnicas em seus trabalhos, como Donatello, Ghirlandaio, Ghiberti e Botticelli. Alberti não só estendeu a técnica artística para além dos limites de Florença, como moldou partes essenciais da arte ocidental. O livro Da pintura é indispensável para os apaixonados e estudiosos da arte e do período renascentista.

Para saber mais sobre o livro e adquirir o seu exemplar, acesse o nosso site!

Da pintura

Autor: Leon Battista Alberti

ISBN: 978-85-268-1083-9

Edição: 4a

Ano: 2015

Páginas: 160 p.

Dimensões: 18 x 10,5 x 1 cm

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