A vulcanologia como tema na poesia

Por Gabrielle da Silva Teixeira

Sabia que os poemas não são escritos apenas para abordar temas como amor, desencontros e a vida, mas também para contemplar a natureza e seus mistérios? Em Aetna/Etna, publicado pela Editora da Unicamp em versão bilíngue, Matheus Trevizam apresenta um poemeto, escrito em latim, da segunda metade do séc. I d.C., que tem como tema as atividades vulcânicas.

Matheus Trevizam é professor de Língua e Literatura latina da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais e doutor em Linguística pelo Instituto de Estudos da Linguagem – Unicamp. Com outros trabalhos publicados que abordam a língua latina e suas traduções, como Das coisas do campo de Varrão (finalista do Prêmio Jabuti 2013) e Da agricultura, de Catão, o Velho (2016), em Aetna/Etna, dedica-se a analisar o poema Aetna, que apresenta um vulcão localizado nas províncias italianas de Messina e Catânia. Nessa obra, o autor é responsável pela tradução latim-português, pelo estudo introdutório, pelas notas e pelo índice onomástico. 

Para contextualizar os estudos apresentados no livro, o leitor poderá encontrar o poema e outros trechos sobre o monte Etna, escritos pelos autores Lucrécio, Virgílio, Manílio e Ovídio, originais na língua latina e traduzidos para o português. O poemeto parte da importância do ato de escrever poesia, que vai além de uma simples transmissão de conteúdos, e chega à questão moralista sobre quais são as verdadeiras riquezas do ser humano, exposta pela história de dois irmãos de Catânia que decidiram salvar seus pais de uma erupção do Etna enquanto outras pessoas buscavam salvar bens materiais. 

Em meio a assuntos como galerias de fluxo de ar, fogo e água presentes no interior do vulcão italiano, a mitologia e a ciência são contrastadas quando o autor anônimo se coloca contra as explicações mitológicas sobre as erupções. Essa contraposição é uma evidência da dissociação entre conhecimento empírico e religião que Paulo Sérgio Vasconcelos, na “Apresentação”, diz ser ainda bastante atual:

“um tema que hoje volta à baila num mundo em que se adensam, em certos meios, anti-intelectualismo e desconfiança em relação à ciência. Como os epicuristas, quando não consegue discernir a causa de um fenômeno entre várias possíveis, o poeta enumera todas estas últimas sem pudor: reconhece as limitações de seu conhecimento, mas ainda crê que entre as várias causas racionais reside a verdadeira, e é isso que importa”.

Embora o mito seja confrontado por conhecimentos científicos – expostos por meio das preocupações do autor em explicar o funcionamento eruptivo do monte –, ele não deixa de aparecer na composição do poemeto, visto que o leitor poderá encontrar representações mitológicas para explicar o funcionamento do vulcão, como a menção ao deus Apolo. 

Em “Introdução: a Appendix Vergiliana e questões de data/autoria”, Trevizam recorre aos textos associados a Virgílio para apresentar suas composições e a questão de autoria por meio dos detalhes presentes nas obras. O autor expõe diferentes análises sobre a dificuldade em determinar se o poema pertence a Sêneca – devido a seu estilo de escrita, métrica e número de versos abertos –, ao grupo que se relacionava com esse poeta ou até mesmo a Virgílio, por razão de a polifonia ser uma característica do poema, sendo correlacionada às ideias presentes em Geórgicas virgilianas. 

No capítulo “Conteúdo e conformação literária do poema Aetna”, Trevizam evoca diferentes autores, como Horácio, Aristóteles e Quintiliano com sua obra Institutio oratoria, para explicar como o gênero da poesia didática antiga pode não ter uma separação muito clara diante de outras tipologias literárias no mundo greco-romano (épica, lírica etc.). São apresentados, também, estudos de Peter Toohey e de Katharina Volk para explicar a presença da poesia didática em Horácio e Quintiliano e a existência de várias subespécies de textos que eram reconhecidas na Antiguidade Clássica e que tinham características que podem ser encontradas no poema Aetna, como a “ presença de uma só voz autoral, revestida com o éthos do magister/“mestre” de uma ciência ou técnica qualquer”.

No terceiro capítulo, denominado “O poema Aetna e a tradição da poesia didática romana”, aborda-se como foi o processo de consolidação desse tipo de poesia em Roma, a partir do poema Hedyphagetical de Quinto Ênio que resultou em outros textos de semelhante qualidade artística, de acordo com Trevizam. Além disso, os procedimentos construtivos de Aetna, a rejeição da mitologia e a estruturação proemial e final das Geórgicas virgilianas são expostos nessa seção.

“Fontes letradas do poema Aetna”, o quarto capítulo, expõe quais foram as obras que serviram de base para a composição do poema didático, tanto no tema quanto na forma. Assim, o poemeto pode não ser considerado como original, uma vez que “a atividade vulcânica já tinha, antes desta vez, atraído considerável atenção dos filósofos, bem como oferecido um tópos desafiador para poetas”, como afirmado pelo estudioso Francis Goodyear.

O livro conta com uma breve nota sobre a tradução realizada por Trevizam, que menciona qual foi a primeira tradução do poema Aetna para a língua portuguesa e como o procedimento escolhido, de colocar lado a lado as versões original e traduzida, facilita não só a compreensão das ideias apresentadas no poema, mas também a leitura de cada verso.

A obra é rica em detalhes e análises sobre esse poema tão importante na literatura greco-romana, sendo uma leitura indispensável não só para latinistas, mas também para pesquisadores da história das ciências por apresentar um conhecimento romano sobre a vulcanologia, entrelaçando conhecimento empírico, poesia e mitologia em um único texto.

Para saber mais sobre o livro e adquirir o seu exemplar, acesse o nosso site!

Aetna/Etna

Autor: Matheus Trevizam

ISBN: 9786586253436

Edição: 1

Formato: 21,00 x 14,00 x 1,00 cm.

Nº Páginas: 184 pp

Peso: 300 g

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