
O Brasil não admite a existência de partidos políticos estaduais. No entanto, vocês duas afirmam que ‘a implantação do multipartidarismo no país deu-se sob o formato das políticas estaduais específicas’? O que isso quer dizer?A política nacional é marcada por uma matriz regional de forte influência em todo o período republicano. E, embora nosso sistema de partidos seja nacional, as políticas estaduais se desenvolvem com racionalidades contextuais próprias, que definem a organização das elites e as tendências dos eleitorados. Isso explica porque em São Paulo, por exemplo, apesar do multipartidarismo presente, o PSDB paulista tem uma dominância política notável, de forma distinta de outros Estados.
O que explica essa dominância tucana? E há efeito nas eleições municipais no interior do Estado?O sucesso paulista do PSDB tem explicações tanto na história do partido, quanto em sua trajetória eleitoral. Com sua fundação, herdou boa parte da estrutura organizacional do antigo PMDB. A herança inicial de importantes lideranças de lá, com relevância nacional, como Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas, foi fundamental para suas bases de adesão. Nas eleições de 1996, o partido já estava presente em todos os municípios paulistas. Os dados eleitorais e de organização desde o início dos anos 1990 indicam que o trabalho de construção de bases locais, que resultou na penetração territorial e a permanência do partido, explicam grande parte da dominância do PSDB no Estado. E desde que o partido venceu a primeira, das sete vezes, para o governo, em 1994, o PSDB manteve seu domínio em ao menos 25% dos municípios do Estado ao longo de 20 anos.Ex-governador de São Paulo André Franco Montoro, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-prefeito da capital paulista, Mario Covas Foto: André Dusek / Estadão
Por que o Estado de São Paulo é formado do que vocês chamaram de ‘redutos resistentes à forte fragmentação partidária’?Os 35 partidos registrados no País no período têm bases no Estado, é um terreno político de ampla competitividade, colocando em disputa um conjunto volumoso de cargos. No entanto, são poucos os partidos que estruturam o voto, criam preferências eleitorais e a adesão política. Entre 1996 e 2008, por exemplo, os dez principais partidos (PSDB, PMDB, PFL/DEM, PTB, PPB/PP, PL/PR,PT, PDT, PSB e PPS) concentravam 90% das prefeituras no Estado. Essa porcentagem caiu ao longo dos anos, mas a concentração continua significativa: na última eleição, de 2016, esses dez partidos concentravam 75% das cidades. Assim, alguns partidos conseguem criar redutos, o PSDB, por exemplo, no período estudado consolidou 79 redutos eleitorais, rebatendo as possibilidades de fragmentação que o quadro partidário possibilitaria.
Como que esse vigor se reflete na militância partidária paulista?Realizamos uma pesquisa com uma amostra de filiados e militantes dos dez principais partidos no Estado, e os resultados nos permitem dizer que há uma vida interna nos partidos, com atividades constantes de militantes. E indicações que os filiados têm alguma relevância interna, não apenas nos partidos de esquerda, mas também nos de centro e de direita. Sobre o perfil da militância, vimos que o predomínio da militância partidária é de homens, reafirmando o que muitos estudos apontam que a política partidária em todo o País é um terreno ainda muito masculino. Uma das principais conclusões desta pesquisa é que demonstramos que os partidos políticos não são meras ficções legais que apenas atuam em conjunturas eleitorais. Isso é muito bom para a democracia brasileira que precisa recuperar e ampliar sua confiança nas instituições representativas.
O cenário apresentado no livro permite alguma pista sobre cenários possíveis das eleições no Estado neste ano?O PSDB continua mantendo sua força em uma parcela importante de municípios, mas também deve ocorrer a dispersão de prefeituras em um número maior de partidos, seguindo uma tendência que já se esboçava. Há espaço para crescimento de outras forças políticas, como foi observado para o PSB na última eleição. Entre 2016 e 2020, três fatores ocorreram e também devem ter impacto importante: o revigoramento no Estado das tendências conservadoras, sobretudo com partidos de direita como o PSL, a partir das eleições gerais de 2018. A alteração da legislação proibindo as coligações partidárias para a eleição de vereadores. E o terceiro é a pandemia do coronavírus. É uma crise que afeta diretamente as dinâmicas da Saúde, da Educação e da Economia, e esses são fatores decisivos para compor a escolha política de nível local.
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SOBRE O LIVRO

Organizadores: Rachel Meneguello e Maria Teresa Kerbauy
ISBN: 9786586253412
Ano da Publicação: 2020
Edição: 1
Formato: 23,00 x 16,00 x 2,00 cm.
Nº Páginas: 384 pp
Peso: 580 g.