
Por Gabrielle da S. Teixeira
Organizado pela Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest) e publicado pela Editora da Unicamp, o livro Redações do vestibular Unicamp: 2020 está em sua 22ª edição e é uma antologia das melhores produções textuais dos candidatos do último vestibular dessa universidade.
O livro, composto por 30 redações dos candidatos aos cursos de medicina e engenharia, predominantemente, tem por objetivo apontar aos professores e alunos o desempenho de cada vestibulando com as propostas apresentadas e, também, a expectativa da banca corretora com a mudança da prova nestes últimos anos para melhor selecionar os seus futuros alunos. Uma dessas alterações, por exemplo, foi a possibilidade de escolher uma entre duas propostas de redação totalmente diferentes, porém sempre com assuntos atuais, evidenciando “a capacidade de renovação do sistema seletivo desta Universidade”, como afirmado por José Alves e Márcia Mendonça, respectivamente diretor e coordenadora da Comvest.
A redação do vestibular Unicamp é diferente das provas de outras universidades, pois não se limita a uma dissertação argumentativa, mas espera que o vestibulando, a partir da leitura crítica da coletânea, exponha seu entendimento de maneira objetiva e ética. No vestibular 2020, a primeira proposta de redação abordou o gênero roteiro de podcast, exigindo que o candidato assumisse o papel de um colunista de uma revista eletrônica especializada em temas ambientais e, a partir disso, escrevesse uma matéria relacionando dois conceitos – biodiversidade e sociodiversidade – e delineando a importância de cada um para o crescimento sustentável do Brasil. Esse gênero foi escolhido como forma de ressaltar “a importância da produção de textos dos gêneros orais formais públicos”, sendo esperado que cada candidato soubesse correlacionar as informações apresentadas na prova, que contou com textos de Nicolas Beher, Naiara Galarraga Gortázar e Ana Lucia Azevedo, a seus próprios conhecimentos e referências atuais, como o posicionamento da ativista Greta Thunberg e as tragédias de Mariana e Brumadinho.
A banca avaliadora salientou que houve várias informações presentes na coletânea que poderiam ser usadas como bons argumentos na elaboração do podcast. Entretanto, o essencial era que o candidato não recorresse a todos os textos-base, mas sim realizasse um recorte, “selecionando e articulando argumentos”. Essa mobilização pode ser observada na redação de Ketrin Cristina optante pelo curso de medicina. Em sua redação, ela promoveu um diálogo direto com seus interlocutores em “Bom dia, queridos ouvintes! Estamos aqui em mais um podcast, trazendo informação e reflexão para você”, algo usual nesses programas. Como também, soube relacionar a importância das comunidades tradicionais brasileiras com a preservação da biodiversidade, expondo que tais grupos não veem a terra como um simples produto mercadológico, mas como uma parte de sua história, desenvolvendo uma relação simbólica entre homem e natureza por meio de práticas sustentáveis comuns aos povos indígenas.
Já a segunda proposta trouxe o gênero crônica com o desafio de que o vestibulando assumisse o papel de um cronista que decidiu escrever sobre “micromachismo” após ler uma matéria de Ianko López e perceber que já vivenciou situações como aquelas expostas pelo autor, por exemplo: “Achei necessário explicar algo a uma mulher sem que ela me pedisse, pelo simples fato de ser mulher”. Nas produções apresentadas em Redações do vestibular Unicamp: 2020, o leitor poderá notar como episódios de “micromachismo” estão presentes na sociedade, mesmo camuflados em indivíduos que afirmam ser “livre de preconceitos de gênero”, e como esse assunto pode ser abordado de diversas maneiras. Um quesito importante para a banca era que os candidatos soubessem explorar diferentes aspectos de sua produção, voltando-se tanto para “a caracterização da personagem-cronista quanto para a construção do tempo da narrativa”. A subjetividade foi um traço presente nas redações selecionadas, como a de Karina Lopes (também pleiteando vaga em medicina), que relatou como ser mulher muitas vezes a torna “imune aos tais micromachismos”, porém é surpreendida pelo fato de ver a contribuição da figura masculina nas tarefas domésticas como uma ajuda, e não obrigação, levando-a a refletir em alguns acontecimentos pessoais e como isso é assustador por ser visto como algo natural.
Por meio das expectativas da banca corretora, a obra mostra para a sociedade e, principalmente, para cada candidato que não basta somente “saber ler e escrever”, mas que é preciso compreender as condições de produção de cada discurso, os argumentos relevantes apresentados em cada texto-base que colaboram para a análise de um tema, como também articular um projeto de escrita para elaborar uma boa redação. Esse aprendizado somente é obtido por meio dos esforços dos professores e das escolas que buscam a cada dia “ensinar seus alunos a escrever no seu sentido mais amplo, o que envolve compreender a escrita como prática social e não como mera técnica”.
Dessa forma, Redações do vestibular Unicamp: 2020 traz exemplos úteis a todos aqueles que desejam dominar os conceitos da produção textual e utilizar o conhecimento de forma integrada para a elaboração de redações no vestibular Unicamp. Uma contribuição fundamental para “o trabalho de professores e pesquisadores, especialmente quanto ao ensino de leitura e escrita”.
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Redações do vestibular Unicamp: 2020
Autor: Comvest
ISBN: 978-65-86253-36-8
Edição: 1ª
Ano: 2020
Páginas: 160
Dimensões: 14x10x1 cm