A inovação e o desenvolvimento científico no interior paulista: as relações entre a Unicamp e o polo de tecnologia de Campinas

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Crédito das imagens : Arquivo do Siarq

Por Bianca Vasconcellos Krauze Silva

Massa Crítica: Unicamp e a origem do polo de tecnologia de Campinas é o primeiro livro do jornalista Guilherme Gorgulho pela Editora da Unicamp. A ideia da obra partiu de Julio Cesar Hadler Neto, docente titular do Instituto de Física Gleb Wataghin e obteve suporte de Marcelo Knobel, atual reitor da Unicamp, para continuação do projeto.

Gorgulho escreve sobre a relação entre a construção da Universidade Estadual de Campinas e o estabelecimento do polo de tecnologia de Campinas. Ele narra a história entre meados de 1960 até 1997, ou seja, da constituição da universidade até a construção do primeiro anel LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncroton).

No prefácio, apresenta-se o questionamento principal do livro: teria sido espontânea a criação de um polo de tecnologia próximo à Unicamp, ou um planejamento estratégico estaria envolvido neste processo?

O autor apresenta sua teoria e introduz no texto a figura de Zeferino Vaz, presidente da comissão organizadora da Unicamp e  primeiro reitor da universidade. Vaz é colocado como protagonista nesse processo de reestruturação da ciência no Brasil e de desenvolvimento tecnológico no interior de São Paulo:

“Zeferino não tinha dinheiro, nem prédios, nem equipamentos, mas dispunha de ótimos contatos no alto escalão governamental e tinha um plano ousado para a Unicamp: ser um polo de atração de cérebros a partir de um projeto diferenciado de universidade.” (p.23)

Mesmo que ele tenha prometido além dos recursos que dispunha, a Universidade Estadual de Campinas teve sua pedra fundamental colocada no dia 05 de outubro de 1966. O projeto diferenciado de Vaz foi alavancado, nos primeiros anos, por dois principais fatores: o alinhamento com o governo e os recursos financeiros provenientes do “milagre econômico” da época.

O livro identifica mais figuras importantes para consolidar o projeto, como os físicos Sérgio Porto e Rogério César de Cerqueira Leite, o físico argentino Carlos Arguello e o engenheiro eletrônico José Ripper. Junto com eles, o grupo diversificado e com múltiplas especialidades veio a compor o Instituto de Física Gleb Wataghin, formando uma amálgama de profissionais de peso para o impulsionamento tecnológico na área de lasers e semicondutores.

A pretensão de Zeferino Vaz era incentivar a Unicamp a romper com o modelo engessado de cátedras no qual a maioria das universidades estava estabelecida. O conceito “torre de marfim” é trazido como a designação de intelectuais que tenham seus questionamentos ou pesquisa desvinculados com situações práticas do dia a dia.  A saída  para o paradigma da “torre de marfim” seria a proposta de troca entre os cientistas e a sociedade: o reitor tinha expectativas de que a Unicamp pudesse não só fortalecer o mundo acadêmico, como também promover a detecção e a solução de problemas da comunidade que rodeava.

Gorgulho também ressalta em seu livro como a parceria com a empresa estatal Telebras (que visava produzir tecnologia própria) foi importante para o desenvolvimento dos projetos “Sistemas de Comunicações Ópticas” empregando laser de semicondutor para geração e transmissão e “Sistemas de Comunicação por Amostragem” de digitalização de sinais telefônicos.

No final do texto, Gorgulho destaca a importância da Unicamp para o polo de tecnologia de Campinas, dado que a universidade pode oferecer, tanto a empresas estatais quanto a privadas, um número expressivo de profissionais especializados e qualificados a fim de dar continuidade ao projeto ousado de Zeferino Vaz. A construção e consolidação do polo de tecnologia de Campinas, portanto, não teria sido fortuita ou espontânea em relação à Unicamp; o jornalista desenvolve as inúmeras articulações políticas e financeiras que estariam ligadas à necessidade de retomar a produção de ciência e tecnologia nacional para o interior paulista.

O livro é resultado de setenta horas de entrevistas com professores, estudantes e técnicos, além de contar com a reunião de centenas de reportagens, de cunho público e privado. O apoio do SIARQ (Sistema de Arquivos da Universidade Estadual de Campinas) mostra-se fundamental para a composição do livro, uma vez que uma quantidade significativa das imagens que ilustram o livro são desse acervo. A escrita de Gorgulho prende o leitor com facilidade, pois serve-se de várias contextualizações e citações com certo tom humorístico, as quais criam um clima leve sem retirar a relevância e respeitabilidade do texto.

Capa - Massa Critica_14 x 21 cm.inddMassa crítica – Unicamp e a origem do polo de tecnologia de Campinas

Autor: Guilherme Gorgulho

ISBN: 978-85-268-xxxx-x

Edição: 1ª

Ano: 2019

Páginas: 208

Dimensões: 14×21

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