Por Tina Zani
Apesar da amplitude da pesquisa dedicada às imagens, estas ainda nos escapam. É que, enquanto buscávamos adequá-las às nossas ciências, elas perambulavam pelo mundo e pela história, e seguiam sua vocação de transformar nossa sensibilidade.
Ronaldo Entler, na orelha do livro.
No ensaio que inaugura o livro Como pensam as imagens, Etienne Samain – que também é o organizador da obra – problematiza a questão-título propondo três possibilidades de aproximação: (1) toda imagem nos oferece algo para pensar; (2) toda imagem é portadora de um pensamento e o veicula ao levar consigo algo do objeto representado – de um lado, a perspectiva de quem a produziu e, de outro, a de todos que já olharam para ela e nela incorporaram “suas fantasias, seus delírios e, até, suas intervenções”; (3) toda imagem é uma “forma que pensa”, ou seja, independentemente dos autores e dos espectadores, ao combinar em si um conjunto de dados sígnicos ou ao associar-se com outras, ela teria vida própria e poder de ideação, “um potencial intrínseco de suscitar pensamentos e ideias”.
A obra, que reúne textos de dez pesquisadores, contempla escritos sobre a fotografia em diálogo com a ideia mais ampla de imagem e levando em conta a existência humana e suas várias maneiras de se expressar comunicativamente. O livro é o resultado de um ciclo de estudos, debates e discussões nos quais os autores se dispuseram a responder à questão-título. Conforme afirma Samain, “as imagens são portadoras de pensamento e como tal nos fazem pensar; […] indo ainda mais longe, ousamos admitir que elas, ao associarem-se, são ‘formas que pensam’”.
A coletânea é apresentada em três partes. A primeira lida com a questão epistemológica central da obra: “pensar por imagens”. A segunda reúne textos que evocam histórias humanas a partir de fotografias antigas de família. A terceira e última retoma a epistemologia por meio de percursos críticos entre “modo de ver” e “modo de pensar”.
O organizador considera que as imagens fazem parte do grupo das coisas vivas do mundo, pois trazem impregnadas em si memórias, emoções e sensações – características de seres vivos. São, ademais, capazes de interagir com outras, suscitando mais ideias, memórias e pensamentos. De acordo com ele, interessa o lado positivo da comunicação visual contemporânea, na medida em que ela redimensiona as relações com a própria imagem e com o “pensamento por imagem”. Conforme afirma, é “necessário livrar-nos dessa epistemologia da comunicação, que ignora, enquadra e reduz a indizibilidade e a riqueza polissêmica do sensorial humano”. E, ao procurar entender como as imagens existem, como vivem e nos fazem viver, interroga “quais são suas maneiras de nos fazer pensar?”.
Samain entende que ainda há um longo caminho a percorrer. A obra se propõe a deixar germinar novas ideias em torno da imagem – de todas elas. Afinal, “o tempo das imagens é um pouco como o tempo dos rios e das nuvens: rola, corre, murmura, quando não se cala”. Como pensam as imagens abre um debate instigante.
Organizador: Etienne Samain
ISBN: 978-85-268-0961-1
Reimpressão: 2ª – 2018
Edição: 1ª
Ano: 2012
Páginas: 240
Dimensões: 23×23