Por Maria Vitória Gomes Cardoso

Em 2002, a Unesco instituiu o Dia Mundial da Filosofia, uma data que sempre é celebrada nas terceiras quintas-feiras do mês de novembro. O professor Getúlio Pereira Junior, mestre em Filosofia pela Unicamp, em uma conversa com a ONU News, de São Paulo, comentou sobre a importância dessa ciência nos dias atuais: “A principal contribuição da filosofia é em ser capaz de criar no indivíduo constante capacidade de questionamento da realidade, das informações que ele recebe. Não é um indivíduo passivo, que não reflete sobre as informações que recebe”.

Nos últimos anos, com o crescimento da internet e com a quantidade absurda de informações que as pessoas adquirem todos os dias, a filosofia mostra-se ainda mais essencial. Isso porque, com ela, é possível refletir e questionar sobre o que se lê, aprendendo a diferenciar informações falsas de verdadeiras e selecionar as mais relevantes. Além disso, a filosofia também pode auxiliar em um uso mais ético e respeitoso das redes sociais, e da internet de uma forma geral. 

Por isso, é importante que, ainda na graduação, as pessoas procurem estudar essa ciência mais a fundo, aproveitando também que esse é um momento que normalmente os estudantes possuem um contato maior com diversos estudos e debates.

Desse modo, a Editora da Unicamp decidiu separar alguns livros de filosofia presentes no respectivo catálogo para indicar àqueles que se interessam por essa importante área. 

1. História da filosofia moderna

Organizado pela professora de História da Filosofia, Giulia Belgioioso, e originalmente publicado em italiano, o livro ganhou sua versão brasileira por meio da Editora da Unicamp. Trata-se de um manual que estuda os principais pensadores do fim do século XIV até a metade do século XIX.

O livro é um excelente material tanto para os estudantes de filosofia no ensino médio, quanto para estudos mais avançados e discutidos na graduação. Nele, são abordados diversos conceitos e filósofos extremamente importantes não apenas para o período citado, mas também para os dias atuais, como Montaigne, Francis Bacon, Galileu, Thomas Hobbes, Descartes, John Locke, Isaac Newton, David Hume, Hegel e muitos outros grandes nomes da filosofia moderna. 

História da filosofia moderna, publicado em 2022, é o quarto livro da Coleção Fausto Castilho de Filosofia – Série Estudos, coordenada por Alexandre Guimarães Tadeu de Soares (UFU) e Oswaldo Giacoia Junior (Unicamp). Trata-se de uma extensa obra com 736 páginas, que possui uma abordagem ampla e completa da área de filosofia, essencial para os estudantes e pesquisadores desse campo. 

2. Ser e tempo

A obra Ser e tempo, escrita por Martin Heidegger (1889-1976), importante filósofo, escritor e professor universitário alemão, foi originalmente publicada em 1927, na Alemanha, e em 2012, pela Editora da Unicamp. A obra faz parte da Coleção Fausto Castilho de Filosofia – Série Multilíngues e é essencial para os estudos da filosofia, por desenvolver o que seriam as questões propriamente ontológicas sobre o ser. Nessa coleção, o leitor também encontrará obras em versão bilíngue de textos fundamentais da História da Filosofia.

Ser e tempo é considerada a maior contribuição de Heidegger, um dos principais filósofos do século XX. Nesse volume de 1.200 páginas, em edição bilíngue (alemão-português), o leitor poderá se aprofundar em uma das primeiras questões filosóficas da humanidade: o que significa ser? O que é existir?

Para Heidegger, o ser não é uma noção vazia e indeterminada; ao contrário, o seu sentido determina a compreensão de nós mesmos e do mundo, e nosso comportamento em relação aos demais entes. Portanto, essa obra é essencial para aqueles que querem se aprofundar melhor na questão da existência humana a partir da perspectiva de um dos filósofos que mais contribuiu para o pensamento filosófico moderno.

3. Instituição oratória (tomo I, II, III, IV)

A Instituição oratória é uma obra em 12 volumes sobre retórica teórica e prática publicada pelo retórico romano Quintiliano. A Editora da Unicamp completou, em 2016, a publicação dos 12 livros, editando-os em 4 tomos, cada um tendo respectivamente 584, 552, 632 e 560 páginas.

Marco Fábio Quintiliano foi um orador e professor de retórica romano. Nascido em Calagurris, entre 30 e 40 da Era Cristã, Quintiliano estudou em Roma, onde primeiro exerceu a atividade de advogado e faleceu também nessa cidade, por volta do ano 100.

Ideal para aqueles que estudam e pesquisam sobre retórica, na obra, Quintiliano eleva-a à arte de todas as artes. Muitos aspectos da doutrina do filósofo romano, tanto retóricos como pedagógicos, são válidos ainda hoje, uma vez que se baseiam nas condições perenes da natureza humana.

A importante obra foi traduzida por Bruno Fregni Bassetto, que foi professor titular aposentado da USP, onde fez mestrado, doutorado e livre-docência. Sua área específica era a Filologia Românica, na qual se dedicou ao estudo e à tradução há mais de 40 anos. Assim, com a tradução feita por um especialista na área, o leitor poderá ter contato com essa clássica obra do estudo da retórica.

4. Comentário aos Segundos analíticos

Escrito entre 1272 e 1274 por Tomás de Aquino, Comentário aos Segundos analíticos de Aristóteles tem um propósito principalmente didático. A exposição de Tomás de Aquino tem como objetivo esclarecer a concepção aristotélica de ciência em sentido estrito, isto é, como conhecimento das causas de algo – conhecimento este que é verdadeiro, universal e necessário. 

Nessa inédita edição, publicada em 2021 pela Editora da Unicamp, o leitor encontrará tanto o texto original em latim quanto a tradução feita por Anselmo Tadeu Ferreira, doutor em filosofia pela Unicamp, com tese sobre o comentário de Tomás de Aquino aos Segundos analíticos de Aristóteles, e professor efetivo de história da filosofia medieval no Instituto de Filosofia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). 

O livro, que conta com mais de 700 páginas, também integra a Coleção Fausto Castilho de Filosofia – Série Multilíngues.

Tomás de Aquino foi um frade católico italiano da Ordem dos Pregadores, cujas obras tiveram enorme influência na teologia e na filosofia, principalmente na tradição conhecida como Escolástica. Ao contrário de muitas correntes da Igreja na época, Tomás abraçou as ideias de Aristóteles – a quem ele se referia como “o Filósofo” – e sintetizou a filosofia aristotélica com os princípios do cristianismo. Comentário aos Segundos analíticos é um livro fundamental para estudantes de filosofia, especialmente aqueles que se interessam pela lógica e pela escolástica.

5. As leis

As leis, livro publicado em 2022 pela Editora da Unicamp, em conjunto com a Edufu (Editora da Universidade Federal de Uberlândia), é uma versão bilíngue (latim-português) do livro De legibus de Cícero. 

Marco Túlio Cícero (em latim: Marcus Tullius Cicero) foi um advogado, político e filósofo de Roma que marcou a política romana e exerceu importante influência na filosofia ocidental. Sendo ele um dos maiores oradores e escritores da Antiguidade, sua obra é vasta e muitas não sobreviveram até os dias atuais ou ficaram fragmentadas. 

As leis, que possui 296 páginas, é uma dessas obras que conta com apenas fragmentos. Teoriza-se que ela é, originalmente, composta por cinco livros escritos entre 52 e 51 a.C. e que foi interrompida quando Cícero partiu como pró-cônsul da Cilícia. Contudo, apenas foram recuperados os livros I, II e III, com muitas lacunas e incompletos. No livro I, Cícero discorre sobre a natureza das leis. No livro II, examina as leis romanas com o objetivo de mostrar que “a Cidade Ideal é a própria Roma que os antepassados construíram”. Por fim, o livro III foca nos magistrados.

A obra, desse modo, apesar de incompleta, é extremamente importante, pois constitui-se como uma fundadora do Direito do Ocidente. A leitura desse livro atende diversos públicos, mas é fundamental para os estudiosos e amantes da obra de Cícero e também para aqueles que buscam aprender mais sobre filosofia e a história do Direito ocidental.

6. Sobre a quadrúplice raiz do princípio de razão suficiente

Sobre a quadrúplice raiz do princípio de razão suficiente é a tese que deu o título de doutor a Arthur Schopenhauer, em 1813. Publicado em 2019 e em primeira edição bilíngue para o português, esse livro constitui uma referência essencial para os estudos sobre a obra desse importante filósofo alemão.

Arthur Schopenhauer, nascido em 1788, é considerado um dos mais importantes filósofos europeus. Ao estudar os conceitos da metafísica, ele introduz em suas reflexões aspectos do pensamento indiano e do budismo, criando uma teoria que se propõe ateísta e apresenta excepcional densidade ao teorizar a ética e o conhecimento humano. 

A obra de 360 páginas consiste na dissertação de doutorado de Schopenhauer e também integra a Coleção Fausto Castilho de Filosofia – Série Multilíngues, com texto no original em alemão e tradução feita por Oswaldo Giacoia Jr. e Gabriel Valladão Silva.

Nesse título, Schopenhauer desenvolve o princípio de razão suficiente como “a base da configuração total do mundo da representação” e propõe quatro acepções para esse princípio, em contraposição à literatura desenvolvida sobre o assunto até então. O autor afirma que sua teoria consiste em um sistema filosófico completo e complexo.

7. Kant e o poder de julgar

Publicado pela Editora da Unicamp em 2020 e contendo mais de 500 páginas, Kant e o poder de julgar é resultado da tese defendida em 1992 por Béatrice Longuenesse, professora de filosofia e pesquisadora na Universidade de Nova York. 

Nesse livro, Béatrice Longuenesse explora a concepção kantiana da lógica e mostra seu alcance nas três Críticas, em especial na Crítica da razão pura. Seu ponto de partida é uma investigação da origem das categorias a partir das formas do juízo. Ao mostrar como a razão, a faculdade do juízo e o entendimento são modos do que Kant denomina “poder de julgar”, Longuenesse reconstitui também de modo inédito a conexão entre a Crítica da razão pura e a Crítica da faculdade do juízo.

Immanuel Kant (1724-1804) foi um filósofo alemão e um dos principais pensadores do Iluminismo. Seus abrangentes e sistemáticos trabalhos em epistemologia, metafísica, ética e estética fizeram dele uma das figuras mais influentes da filosofia ocidental moderna. Por isso, é de extrema importância que aqueles que se interessam por filosofia e por Immanuel Kant e sua recepção na contemporaneidade leiam esse livro.

8. Conflito e resistência na filosofia política de Espinosa

Conflito e resistência na filosofia política de Espinosa, escrita por Daniel Santos da Silva, doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo, é uma grande e inovadora contribuição para os estudos espinosanos. A obra trabalha com os conceitos presentes no Tratado teológico-político e no Tratado político, escritos pelo filósofo europeu Baruch Espinosa (1632-1677) no século XVII.

Daniel Santos da Silva desenvolveu em seu livro pontos conflituosos da obra de Espinosa, principalmente no que concerne ao diálogo entre ele, Hobbes e Maquiavel. Além disso, o livro recorre à filosofia de Espinosa para avaliar um cenário atual do indivíduo e da sociedade acerca da potencialidade humana, do poder, da liberdade, da paixão e da razão.

Excelente para os interessados em filosofia política, a obra publicada em 2020 pela Editora da Unicamp conta com mais de 300 páginas de análise e atualização da abordagem de Espinosa. 

9. Sobre a doutrina de Espinosa em cartas ao senhor Moses Mendelssohn

Sobre a doutrina de Espinosa em cartas ao senhor Moses Mendelssohn foi traduzido para o português e publicado pela primeira vez em 2021 pela Editora da Unicamp. Contendo um pouco mais de 200 páginas, o livro é resultado da tradução de Juliana Ferraci Martone, doutora em Filosofia na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). 

A tradução para o português foi um grande avanço para os estudos filosóficos no Brasil, por se tratar de uma obra que estuda profunda e rigorosamente a filosofia espinosana e as filosofias do “um e do todo” (hen kai pan). Além disso, o livro, escrito pelo filósofo alemão Friedrich Heinrich Jacobi (1743-1819), também se notabiliza por criticar a rigidez e a pretensão sistemática do Iluminismo (representado por Mendelssohn).

Sobre a doutrina de Espinosa em cartas ao senhor Moses Mendelssohn é essencial aos filósofos e aos historiadores da filosofia que buscam entender uma virada crucial no pensamento moderno. Também se mostra imprescindível para aqueles que buscam estudar a vida e obra de Jacobi, já que nessas cartas é possível analisar os temas centrais de sua reflexão filosófica.

10. Introdução à filosofia política de Adam Ferguson

Introdução à filosofia política de Adam Ferguson – Progresso e declínio, escrito pela pesquisadora e colaboradora do Instituto de Economia da Unicamp, Eveline Campos Hauck, foi publicado pela Editora da Unicamp em 2022, contando com um pouco mais de 200 páginas sobre o pensamento filosófico de Adam Ferguson. 

Ferguson (1723-1816) foi um filósofo e historiador escocês, além de uma importante figura do Iluminismo escocês. Nesse livro, Hauck intenciona mostrar a construção da filosofia política de Ferguson, sobretudo no Ensaio sobre a história da sociedade civil, tendo em vista avaliar o progresso das sociedades comerciais modernas.

Eveline Campos Hauck dedica-se, sobretudo, ao debate sobre a sociedade comercial moderna no Iluminismo escocês, no âmbito da filosofia política e da economia política. Sua obra mostra-se uma ótima introdução para aqueles que querem se aventurar na produção de Ferguson ou até mesmo conhecer mais sobre o Iluminismo escocês e aventurar-se na área de filosofia política.

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Os livros de filosofia apresentados aqui irão ajudar os estudantes e os interessados na área tanto de estudos mais avançados, quanto de especializações e no início da graduação, quando os estudantes ainda estão obtendo uma introdução aos estudos filosóficos. 

A Editora da Unicamp conta com um vasto catálogo de livros acadêmicos de diversas áreas, sendo a área de filosofia uma das mais extensas, com muitos outros livros. Acesse o site da Editora da Unicamp e conheça o catálogo.