Obra apresenta as várias nuances do colonialismo moderno

Escrita por João Quartim de Moraes e Ligia Osorio Silva, Novo mundo: metamorfoses da colonização percorre 500 anos da história moderna e das incursões europeias pelo oceano Atlântico

Por Gabriel de Lima

Pretendendo reunir e debater o rico e vasto acervo de arquivos a respeito da colonização europeia, os professores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) João de Moraes e Ligia Silva pretendem demarcar, no decorrer do livro, o percurso histórico do Velho Mundo e os eventos que se sucederam nos territórios dominados, com o objetivo de proporcionar uma completa compreensão do sistema colonial transatlântico para os leitores brasileiros. Em vista disso, Novo mundo: metamorfoses da colonização analisa tanto as construções ideológicas quanto as situações históricas concretas que envolveram o projeto imperialista europeu.

Editora da Unicamp: Quais foram as motivações para a publicação do livro Novo Mundo: metamorfoses da colonização

João Quartim Moraes: A ideia de reunir numa obra conjunta estudos acumulados em décadas de pesquisa, no Brasil e no exterior, correspondeu à constatação de que eles trariam uma contribuição para o entendimento da colonização do Novo Mundo sob novas perspectivas. Os três primeiros capítulos percorrem os impactos iniciais do encontro entre europeus e autóctones, o crescimento da intolerância religiosa no Estado imperial espanhol e o debate teológico sobre a escravidão. O quarto mostra a passagem do mito do bom selvagem à expropriação das terras comunitárias, remetendo às diferentes formulações sobre a propriedade da terra, que, gestadas no mundo europeu, impactaram decisivamente as formas de colonização americana. O quinto explica o fracasso da política de atração de imigrantes franceses promovida pelo Estado imperial brasileiro, a despeito da intensa propaganda feita para atraí-los na França. Nossa intenção era elaborar uma obra sintética, destacando a longa duração do fenômeno e a articulação entre colonização, escravização dos indígenas e propriedade da terra. 

Editora da Unicamp: Por abranger mais de cinco séculos da história moderna e as complexidades que envolvem o sistema colonial, quais os maiores desafios durante o processo de escrita da obra? 

João Quartim Moraes: O maior desafio na preparação do livro era manter o formato sintético, limitando as digressões, exceto quando o assunto exigia esclarecimentos mais amplos. Convinha também conferir certa harmonia de estilo e construção do texto aos capítulos, escritos por dois autores distintos. Procuramos ter sempre em vista o trabalho em seu conjunto, evitando repetições e redundâncias temáticas. 

Editora da Unicamp: Na opinião de vocês, podemos dizer que o ideário do colonizador continua sendo peça central da atual configuração sociopolítica das Américas? Por quê? 

João Quartim Moraes: A propagação da fé cristã serviu de justificação aos dois primeiros impérios coloniais da era moderna, Portugal e Espanha, para submeter os povos indígenas à corveia das minas e os africanos escravizados à cruel disciplina das grandes plantações. O catolicismo latino-americano transmutou a religiosidade dos povos originários e das populações africanas, forjando uma nova cultura popular que sintetizava subalternamente suas crenças e costumes com os valores impostos pelos colonizadores. Nos Estados Unidos não houve essa fusão: os povos indígenas foram expulsos de suas terras, uns após os outros. No final do século XIX quase todos haviam sido exterminados; os poucos remanescentes foram confinados em reservas. A ideologia estadunidense do “Destino Manifesto” resultou num genocídio manifesto. 

Editora da Unicamp: Qual a importância, dentro e fora do Brasil, de publicar obras documentais que discorrem, pelo viés da contextualização histórica, todo o percurso da colonização moderna? 

João Quartim Moraes: Empenhamo-nos em beber nas fontes a informação histórica, redimensionando a tragédia colonial para reconstituí-la em sua complexa densidade. Um exemplo, entre outros: Bartolomeu de Las Casas é merecidamente reconhecido como o mais denodado defensor dos povos originários agredidos pelos conquistadores. Mas é a Francisco de Vitoria, seu compatriota e contemporâneo, que devemos a fundamentação teológico-jurídica da universalidade da condição humana e de sua igualdade natural.

Novo mundo: metamorfoses da colonização

Autores: João Quartim de Moraes e Ligia Osorio Silva

ISBN: 9788526815711

Edição: 1a

Ano: 2022

Páginas: 264

Dimensões: 16 x 23 cm

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