Por Ana Carolina Pereira
A educação faz parte das Ciências Humanas e, por vezes, é desvalorizada enquanto ciência, assim como os outros campos das humanidades. No senso comum, a ação de ensinar é tida como um dom, sendo comum ouvir frases como “ela nasceu para ser professora” ou “ele tem o dom de ensinar”, ignorando o fato de que educadores precisam estudar e se aperfeiçoar para desempenhar esse papel. A formação de educadores, nesse sentido, parte de tomar a educação como uma ciência, a qual precisa de pesquisas e desenvolvimento teórico, da mesma maneira como outras ciências. A caracterização da educação como conhecimento científico necessita de uma abordagem interdisciplinar, superando, para isso, a fragmentação temática da ciência moderna. Do mesmo modo que outras ciências, a educação passou por mudanças e evoluções ao longo da história, além de concepção de diferentes bases teóricas para desenvolver estudos nesse campo.
Nesse contexto, a Editora da Unicamp lançou o livro Na rota da educação: epistemologia, teoria, história, que se propõe a discutir a epistemologia da educação abordando teoria, história, antropologia, pedagogia e outros temas que perpassam o assunto principal. A obra, escrita por Justino Magalhães, doutor em Educação pela Universidade do Minho e professor catedrático de História da Educação do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, foi publicada a partir de uma parceria entre a Editora da Unicamp e a Edufu (Editora da Universidade Federal de Uberlândia), e faz parte da Coleção “História, Pensamento e Educação”, sendo o volume 11 da Série “Novas Investigações”. Desde quando essa coleção foi criada em 2009, fruto do Núcleo de Estudos e Pesquisas em História da Educação da UFU, foram publicados 18 livros.
A educação é constitutiva do humano (antropológico, social, espiritual). Ganha substância nas culturas, nos saberes, nos saberes-fazer, nos valores, nos gestos; manifesta-se como pessoalidade, humanitude, societude. Adquire sentido nos modos de pensar e viver, de estar e ser, de sentir e sonhar. Inscreve-se nos percursos de vida sob a forma de experiências, memórias, ideias, pensamentos, decisões, êxitos, sofrimento. Pela educação, os indivíduos tornam-se pessoas, realizam-se, elevam-se. Cumprindo o presente, a pessoa reordena o passado, entretece o futuro. A unidade da educação é a vida – uma vida humana. (Da Introdução)
Segundo o autor, o Estado tomou a responsabilidade da educação nas sociedades modernas e contemporâneas e “refundou o institucional escolar como conhecimento, razão, aculturação, norma, mobilização, crescimento, progresso”. Nesse sentido, a educação faz as instituições evoluírem e estas unem Estado e sociedade. Para discutir tal tema, o autor aborda importantes filósofos e estudiosos da educação, como Platão, Coménio, John Dewey, Edgar Morin, entre outros nomes relevantes da área.
O autor buscou, no livro, de modo pluridisciplinar, discutir uma “epistemologia compreensiva e diferencial da educação”, de modo que teoria e ciências da educação são colocadas como “objetos-problema de uma história da educação antropológico-pedagógica e institucional”. Tais objetos-problema serão analisados ao longo da obra tomando-se a educação enquanto fenômeno e processo, e não apresentando as discussões realizadas em formato de manual ou de enciclopédia. A educação é contemplada como campo epistêmico, ciência e fonte de análise e pesquisa. Nesse sentido, o livro trata-se de uma obra técnica e com linguagem mais acadêmica, sendo muito interessante para os estudiosos da área e pessoas já familiarizadas com tal campo de pesquisa.
Na rota da educação: epistemologia, teoria, história é dividido em capítulos e subcapítulos, o que deixa a leitura mais fluida. No primeiro capítulo, o autor aborda a epistemologia da educação, discutindo os fundamentos e o pacto social da educação e as questões sobre a escola, como o modelo, o currículo e a instituição. Ele coloca, nesse capítulo, que “a educação é reconhecimento do eu-humano e reconfiguração do eu-pessoa”, esboçando como ele considera a posição e a importância da educação na vida do indivíduo. No capítulo seguinte, são abordadas teoria e práticas educativas, discutindo-se representação e escrita da educação. O próximo capítulo aborda as Ciências da Educação, pensando em uma epistemologia diferenciada para a área. Por fim, o quarto capítulo fala sobre a História da Educação, discutindo a conceitualização e a interdisciplinaridade desse campo de estudos para pensar “uma história antropológico-pedagógica e institucional”.
Desse modo, Na rota da educação: epistemologia, teoria, história apresenta uma linearidade ao longo dos capítulos e aborda os principais pontos da pesquisa em História da Educação. É uma obra rica e bem fundamentada, e importante leitura para pessoas da área da educação. Os estudiosos da área também podem se interessar pelos outros livros da Coleção “História, Pensamento e Educação”, os quais podem ser encontrados na Edufu. A Editora da Unicamp também tem outras obras de educação em seu catálogo, como Políticas públicas de educação: a estratégia como invenção – Rio de Janeiro, 1922-1935 e o lançamento Escola Nova: políticas de reconstrução – A educação no Rio de Janeiro e em São Paulo (1927-1938).
Para saber mais sobre o livro, visite o nosso site!

Na rota da educação: epistemologia, teoria, história
Autor: Justino Magalhães
ISBN: 9788526815643
Edição: 1a
Ano: 2022
Páginas: 256
Dimensões: 15 x 21 cm