Por Sophie Galeotti
O músico usa o som para se expressar. A repercussão dita o ritmo, os instrumentos mobilizam uma infinita combinação de notas e vão compondo o tom, a voz traz as palavras em forma de melodia e tudo se articula naquilo que é tão essencial às nossas vidas: a música. Não coincidentemente, plataformas de streaming têm crescido cada vez mais, como Spotify, Deezer, entre outras. Em suas redes sociais, você certamente viu muitas retrospectivas musicais recentemente: “Este ano, fulano ouviu 10.000 minutos de música… o gênero favorito é o pop dance!”. Novos artistas menores também têm mais espaço para se lançarem por esses canais e já fidelizarem um público. Basta estar no ônibus, indo ao seu destino, que as probabilidades de se deparar com um novo artista são altas pela sugestão algorítmica.
Constatações à parte, e os músicos que se aventuram na gravação de suas obras ou na interpretação de alguma? Que dicas podem ser valiosas para essas pessoas e para os músicos que buscam gravar os seus trabalhos no geral? Como mencionado, o som é o canal de expressão do músico. Assim sendo, a reverberação de cada nota faz diferença no resultado final da gravação. A inclinação do microfone pode interferir em como o violão soará ou um tipo de microfone pode dar “mais brilho” a um saxofone. São muitos detalhes a serem pensados antes de chegar à música gravada em si. É olhando atentamente para cada um deles e por meio de uma abordagem prática e didática que o professor Daniel Tápia escreveu Áudio musical – uma introdução, lançamento da Editora da Unicamp.
Tápia é músico há mais de 15 anos. Em contato com o violino desde os 10 anos de idade, o autor profissionalizou-se: é educador musical formado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e se qualificou mestre e doutor pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); seu doutorado deu origem ao livro. Antes mesmo de concluir o mestrado, começou a trabalhar com áudio para shows. Hoje, é professor do Departamento de Teoria da Arte e Música do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), onde atua principalmente nas áreas de áudio, música e tecnologia. Tápia busca usar de sua extensa experiência para fins didáticos, “sempre procurando a melhor forma de viver a vida artística”, como ele mesmo escreve.
O livro é de caráter multimídia; contém QR Codes para serem escaneados pelo leitor para que entre em contato com a prática da teoria. Tápia aborda os microfones em fase e fora de fase, mas traz os assuntos à cena de forma gradual e explicativa. Antes de se aprofundar nesse assunto, aborda o funcionamento dos microfones em si. Começa explicando o foco de captação usando de seu paralelismo com o conceito ótico de foco, muito utilizado na fotografia. Fazer com que feixes de luz coincidam em um só lugar gera uma imagem “em foco”. Há uma analogia entre os focos visual e sonoro; na física, por exemplo, foco também é uma palavra usada para designar a convergência de ondas sonoras. Portanto, o entendimento do conceito de foco é útil para investigar o funcionamento dos microfones. Eles são muito particulares; por exemplo, quando conversamos em um bar lotado, conseguimos focar na voz do nosso interlocutor. Os microfones, no entanto, não têm essa capacidade. É o aparato técnico montado pelos músicos que pode ter esse tipo de efeito.
Os microfones tampouco têm a capacidade de dar zoom, como é o caso de uma fotografia. Cada onda sonora tem o seu comprimento e a distância que pode percorrer, e é fundamental entender essas especificidades para que certas partes do som sejam privilegiadas em suas captações. Assim sendo, a distância do microfone é uma das artimanhas essenciais para uma gravação de música bem-sucedida.
O autor convida o leitor a constatar por ele mesmo essa diferença: o QR Code Áudio 8 apresenta três diferentes focos de captação de gravação de um piano e pede que o leitor relacione cada uma das gravações a um estilo musical diferente.
Mais adiante, Tápia trata da possibilidade de direcionamento do microfone aos sons que captará, trazendo o conceito de padrão polar para explicar a diferenciação entre as direções. Entender o padrão polar já influencia no entendimento do direcionamento dos microfones, para que captem os instrumentos da melhor forma. Tápia escreve: “estamos lidando com a proporção entre intensidade daquilo que é desejado e intensidade daquilo que é indesejado”. E alerta: “no momento de decidir pelo posicionamento, desconfie das relações acústicas óbvias, como achar que o som ‘sai’ pelo buraco do instrumento. Isso raramente é verdade para vários grupos de instrumentos, como cordas, madeiras e percussão”. O próximo QR Code convida o leitor a fazer o mesmo exercício que o anterior, mas, dessa vez, com a gravação de um violão.
No livro, há também trechos estruturados em dúvidas e respostas, como o item “Dúvidas comuns”, na página 91. Por exemplo, a segunda pergunta, “Diante de tanta variabilidade, como eu escolho um microfone para ter em casa?”, traz uma resposta especialmente informativa aos músicos que gravam e produzem as próprias obras e aos educadores da música. Além disso, há tópicos destinados às técnicas acústicas usadas em apresentações ao vivo.
Mais de 70 tópicos são tratados, de captadores e sintetizadores a bateria, DAW e cancelamento de fase. Eles podem ser encontrados por meio do índice remissivo, que facilita a consulta do leitor. Além do mais, o corpo textual em si é formado por uma escrita fluida e didática: as explicações são detalhadas, porém focadas na prática, e as principais dicas – assim como os QR Codes – vêm em quadrados centralizados, em estrutura semelhante à utilizada em livros escolares, trazendo as lições de forma gradativa e destacando os principais pontos a serem levados em conta.
Trazendo informações extremamente atualizadas, o livro Áudio musical – uma introdução é indispensável às prateleiras dos músicos e educadores da música que desejam aventurar-se no mundo das apresentações e gravações. Prática, técnica e didática, a obra vai ajudar a sua harmonia de sons a virar um show e/ou uma gravação musical.

Áudio musical – uma introdução
Autor: Daniel Tápia
Ano: 2021
Edição: 1
ISBN: 978-65-862-5395-5
Páginas: 254
Formato: 23 x 16 x 2 cm