
Por Everaldo Rodrigues
A ideia tradicional de direção teatral, conhecida como o processo de coordenar um espetáculo cênico e transpor à cena uma peça, parece um tanto obsoleta atualmente, seja pela diversidade de práticas e técnicas, seja pelas transgressões trazidas por movimentos de vanguarda. Hoje, ela vai além da posição central de uma só pessoa, da sua capacidade de análise de um texto feito para o teatro ou da condução que faz dos elementos cênicos, e deve englobar aspectos que advêm do coletivo e coadunam processos criativos distintos. O livro Introdução à direção teatral apresenta conceitos e fundamentos desta atividade como é vista atualmente, para mostrar com ela demanda o domínio simultâneo da técnica e da arte.
O autor Walter Lima Torres Neto possui doutorado pela Université de la Sorbonne Nouvelle – Paris III e foi professor no curso de direção teatral da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele escreveu e organizou diversos livros sobre o tema, como Ensaios de cultura teatral e Teatro em francês: quando o meio não é a mensagem. Atualmente, é professor titular de estudos teatrais na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador da coleção Dramas & Poéticas da Editora da UFPR.
Em Introdução à direção teatral, Torres Neto aproveita sua experiência não apenas como estudioso do teatro, mas também como espectador, para transmitir os fundamentos dessa arte como uma disciplina propriamente dita. Logo, seu livro não é sobre a história do teatro ou sobre a crítica (ainda que lance mão de alguns desses aspectos) e sim, um manual que introduz o estudante ou aspirante à direção cênica aos conceitos e técnicas fundamentais para a prática do ofício. Além disso, o autor propõe uma reflexão sobre a atividade da direção teatral no Brasil, que, por sua sociedade multiétnica, repleta de contradições, preconceitos culturais, injustiça social e desigualdade econômica, pode oferecer muitos desafios.
A obra é dividida em três partes. Na primeira, “Direção e cultura teatral”, Torres Neto dedica-se a fazer um panorama dos requisitos da direção, unindo aspectos históricos e estéticos. Primeiramente, reflete sobre os quatro modelos ideais presentes no teatro brasileiro: o “ensaiador dramático” (termo herdado da prática luso‑brasileira que designava o sujeito criativo encarregado da condução dos ensaios para a realização de um espetáculo), o “diretor teatral” (vocábulo mais moderno que denomina o sujeito cuja prática criativa é central e articuladora, dentro de aspectos estéticos, políticos e sociais), o “encenador” (cujo interesse em novas fontes de espetáculo gera ruptura com o aspecto pré-formatado da apresentação tradicional, trazendo à cena uma experiência estética que engloba o espectador) e o “performador” (que guia a si mesmo em sua apresentação, valendo-se de diversos elementos da arte e suas linguagens). Além disso, o autor aborda alguns criadores cênicos do Ocidente que se destacaram ao longo da história, como Niemiróvitch‑Dântchenko, Adolphe Appia, José Celso Martinez Corrêa e Antunes Filho, a fim de ressaltar algumas tendências ou princípios que guiaram o trabalho de cada um.
Na segunda parte, “O agenciamento da cena”, o foco está nos elementos que constituem a encenação: texto, atuação, figurino, espaço, iluminação, música de cena, marcação, dentre outros. São eles que “convergem para a cena graças ao esforço e ao trabalho intelectual do diretor em interação com o coletivo de agentes criativos”, ressalta o autor. Ao comentar esses elementos e as dinâmicas criativas coordenadas pela direção, Torres Neto analisa os espetáculos teatrais a que assistiu ao vivo ou por meio de filmes. Ele dedica um capítulo para cada um dos tópicos que considera mais importantes, destacando que, qualquer que seja o “tipo de espetáculo que se esteja interessado em montar, condicionado por uma matriz dramática ou pós‑dramática, uma exibição cênica nunca deixa de ser uma obra espaçotemporal”, realizada a partir da colaboração entre vários agentes criativos e elementos que compõem a teatralidade.
A terceira parte, intitulada “O projeto de encenação”, disponibiliza, para o leitor, um roteiro que ajuda a entender as etapas da criação e produção da montagem cênica. Segundo Torre Neto, um projeto de encenação “serve para planificar as partes e etapas do trabalho teatral, traduzindo suas intenções em palavras”. Ao apresentar os tópicos básicos para a redação de um texto do tipo, o autor auxilia a formação do aspirante a diretor teatral, que em algum momento da sua formação ou vida profissional deverá escrever mais do que uma sinopse ou ideia geral do que deseja encenar. Itens como “Apresentação do projeto”, “Justificativa”, “Objetivos” e “Público-alvo” ajudarão o leitor a ter uma ideia do que um projeto precisa para, literalmente, sair do papel.
Para finalizar o livro, Torres Neto acrescenta um “Caderno de imagens”, no qual estão inseridos esquemas e plantas baixas desenhadas por Doris Rollemberg, arquiteta, cenógrafa e professora de cenografia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Uni-Rio). Esse material, que também conta com diversas fotografias de espetáculos, serve de subsídio visual para o conteúdo do livro e enriquece a aprendizagem com a possibilidade de analisar diversos arranjos cênicos e a maneira como capturam ou direcionam o olhar do espectador ou o esforço criativo do ator.
Introdução à direção teatral foi escrito em linguagem acessível e é ideal não só para aqueles que desejam aprender esse ofício, mas também para estudantes e críticos que buscam entender aspectos básicos da concepção de uma exibição cênica.
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Autor: Walter Lima Torres Neto
ISBN: 9786586253658
Edição: 1
Ano: 2021
Páginas: 240 p.
Dimensões: 23,00 x 16,00 x 1,50 cm.