
Por Gabrielle da Silva Teixeira
A vida é repleta de acontecimentos, conquistas e derrotas, que são guardados na memória como lembrança. As artes visuais podem reviver esses momentos por meio de fotos, filmes e pinturas que, como dito pelo pintor italiano Leon Battista Alberti, foram feitos para conservar as fisionomias daqueles que já partiram. A arte pode tornar presente algo que não existe mais.
Os objetos, as paisagens e as sensações responsáveis por fazer o ser humano viajar em sua própria história são conhecidos como souvenir, um objeto portador de lembrança. Pensando nisso, Fernando de Tacca compôs um livro, sintomaticamente intitulado Souvenirs, em que une fotografia e rememoração, evidenciando o lado artístico e simbólico de cada composição. Publicada pela Editora da Unicamp, a obra mostra como a combinação entre fotos e objetos pode expressar diversos significados que nem sempre são fáceis de decifrar, pois o sentido de cada composição está intrinsecamente ligado a uma memória. Ao todo, são 60 fotografias que compõem o livro e fazem referência a vários monumentos, objetos e pessoas do mundo inteiro, como a pintora mexicana Frida Kahlo ou a personagem de quadrinhos Mafalda.
Fernando de Tacca expõe o lado sentimental presente em um clique fotográfico, podendo ser encontrados em outros livros publicados pelo autor, como Imagens do Sagrado, que apresenta imagens do candomblé relacionadas com temas da antropologia e do jornalismo. Tacca é doutor em Antropologia pela USP, mestre em Multimeios pela Unicamp e ganhador do prêmio Pierre Verger de Fotografia e do Concurso Nacional de Fotografia Marc Ferrez/Funarte.
No texto introdutório, Jorge Coli, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, afirma que a armadilha levantada pelas sensações vivenciadas pelo ser humano ao ver um objeto, acreditando ser capaz de mergulhar no passado, é desfeita nas imagens de Tacca. Segundo ele,
“As fotos se constituem como um elo entre o espectador e o visível, entre eu e um outro que não se dá inteiramente, que adere e que se distancia de mim. A imagem é determinada no espaço (da composição) e no tempo, ou, antes, nos tempos – o da incorporação sentimental desses souvenirs, o do clique fotográfico, o da exposição ao olhar”.
Souvenirs traz também um texto, escrito por Fábio Gatti, doutor em artes pela Unicamp, que narra a história de um casal húngaro que abandona seu país em busca de um lugar tranquilo para criar seu filho Hermes, chegando ao Brasil. Ele constrói sua vida aqui, seguindo a profissão de mensageiro e, após a morte de seu pai, passa a refletir sobre o costume que sua mãe tem em adquirir objetos e preservá-los como uma maneira de se lembrar das coisas. Esse hábito não serve só para alimentar a memória, mas também para confirmar que houve um acontecimento, que uma ação foi realizada. É o que explica a existência de lojas que vendem chaveiros, ímãs, quadros, entre outros itens, para os turistas, tirando proveito do desejo de acúmulo para transformar memórias em dinheiro. Como afirma o personagem Hermes, “a beleza da possessão é sentir-se pleno e a desgraça é sucumbir às suas armadilhas”.
Como essa história pode estar ligada à ideia de Tacca de associar souvenirs à fotografia? A resposta está em Hermes, que avisa para a mãe que as coisas perdem o significado de existir a partir do momento em que se tornam lembranças daquilo que aconteceu. Assim como a imagem, que possibilita ao ser humano acreditar que pode guardar o mundo inteiro em sua cabeça por meio de uma antologia de imagens. Dessa forma, as fotografias buscam transformar a percepção que temos da vida cotidiana, orientada pelo desejo de tornar visível o que passa despercebido. Segundo Gatti:
“‘Para frente, a câmera vê seu objeto, para trás vê o desejo de captar esse objeto específico em primeiro lugar, mostrando assim simultaneamente AS COISAS e O DESEJO por elas.’ Coitadas das imagens que precisam indicarem-se a si mesmas e indicarem-nos a nós quando ainda existem tantos lugares a visitar. Junto com as coisas, mostram-se os lugares”.
Souvenirs é uma obra que instiga a reflexão e a interpretação do leitor que se dispõe a analisar cada fotografia, buscando compreender o olhar de um fotógrafo que tenta expor os sentimentos existentes em cada elemento.
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Autor: Tacca, F. de
ISBN: 9788526814592
Ano da Publicação: 2018
Edição: 1
Formato: 23,00 x 23,00 x 1,00 cm.
Nº Páginas: 144 pp
Peso: 480 g.