Por Everaldo Rodrigues
São Paulo não só é a unidade federativa com a maior economia e população do país, como tem também um papel muito significativo na política nacional. Exemplo do multipartidarismo e da representatividade política característicos da democracia, o estado foi berço dos partidos mais importantes da história brasileira recente. O estudo das práticas partidárias desenvolvidas nele e de como elas refletem suas particularidades regionais resultou no livro Política em São Paulo: Uma análise da dinâmica político-partidária no estado, lançamento da Editora da Unicamp.
A obra foi organizada pelas pesquisadoras Rachel Meneguello e Maria Teresa Miceli Kerbauy. Meneguello é doutora em Ciências Sociais, professora titular do Departamento de Ciência Política da Unicamp e editora científica da revista Opinião Pública, que divulga artigos sobre teoria e metodologia em comportamento social e político, cultura política e democracia, estudos de mídia e opinião pública. Kerbauy é doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com experiência nas áreas de políticas públicas, gestão pública e comportamento eleitoral. Ambas são especialistas em partidos políticos, em estudos sobre a democracia e sobre políticas locais, em pesquisas e sistemas eleitorais, além de já terem trabalhado juntas em diversas pesquisas, desde 2002, sobre mídia, sociedade, a falta de confiança dos cidadãos nas instituições e outros temas.
A coletânea reúne trabalhos desenvolvidos no projeto temático “Organização da política representativa em São Paulo”, realizado com o apoio da Fapesp. Dois tópicos guiaram o desenvolvimento do projeto, como destacam as organizadoras na “Apresentação”: o primeiro, mais abrangente, busca demonstrar que partidos políticos continuam sendo instituições com capacidade representativa, possuem organização interna, formam quadros e têm importância junto aos eleitores; e o segundo procura descrever as características da política paulista, abrangendo a organização dos partidos no estado, assim como os efeitos da dinâmica eleitoral na definição de posicionamentos e de padrões de votação. São Paulo é o “principal ponto de origem e formação dos dois partidos que conduziram a política democrática nacional durante mais de 20 anos – PT e PSDB”, mas ao mesmo tempo foi governado durante mais de duas décadas por apenas um partido. Os trabalhos buscaram compreender essa dinâmica partidária, que é altamente fragmentada no âmbito municipal e, no entanto, convive com a hegemonia de um só partido no governo estadual.
A abordagem predominante dos textos é a empírica, apoiada em ampla pesquisa de campo, entrevistas com filiados de partidos e com vereadores das principais agremiações políticas do estado, coletas de dados sobre o funcionamento do legislativo e mapeamento de dados eleitorais. Esses números, segundo as organizadoras, “focalizam as principais dimensões para a compreensão da política paulista” e são as evidências que “permitem afirmar uma realidade distinta do que boa parte da literatura afirma sobre o sistema partidário do país, ou seja, que os partidos brasileiros seriam simplesmente ficções legais”.
Os estudos, em conjunto, abrangem o período de 1994 até 2016. Alguns textos, porém, retrocedem até o início do período de redemocratização para explicar o nascimento e a organização de determinadas siglas partidárias. Para que seja possível entender a amplitude desses estudos, este texto destacará quatro deles, partindo das classificações temáticas apresentadas pelas organizadoras na “Apresentação”. A primeira classificação refere-se aos textos que abordam as proporções do sistema partidário e a estruturação e competição pelos votos. Como exemplo, destaca-se o texto de Jean Lucas Macedo Fernandes, intitulado “Trajetória e desempenho da direita partidária em São Paulo”, em que o autor analisa os cinco principais partidos conservadores atuantes no estado entre os anos de 1982 e 2016. O foco do texto são as origens desses partidos, suas conexões com o Arena e suas posturas morais e econômicas baseadas no neoliberalismo, expondo os fatores que podem ter levado ao declínio dessas siglas frente às novas ou maiores organizações políticas.
O capítulo escrito por Pedro Floriano Ribeiro e Oswaldo E. do Amaral é uma amostra dos textos que tratam dos aspectos da organização dos partidos, de seu funcionamento e do papel das lideranças. Com o título “Existe vida: Filiação e participação de alta intensidade nos partidos políticos paulistas”, o texto de Ribeiro e Amaral examina a relação dos partidos com filiados e militantes. Com base em dados empíricos originais, coletados em pesquisas realizadas com membros de dez dos principais partidos no estado, foi traçado o perfil da militância partidária paulista, abordando as características associadas à intensidade da participação nas agremiações.
Outra classificação temática abordada em alguns capítulos do livro é a dimensão do Poder Legislativo local e estadual, no que diz respeito ao perfil dos vereadores, aos aspectos da dinâmica parlamentar e às características da atividade legislativa local. Thaís Cavalcante Martins trata do assunto em “Instituições, comportamento e produção legislativa: Um estudo da organização e do funcionamento do Legislativo municipal de São Carlos”, que, conforme indica o título, toma o município como amostra, a fim de debater o contexto institucional em que atuam os vereadores. São analisadas no texto não apenas as funções mais conhecidas dos vereadores, como a elaboração de projetos de leis, mas também suas práticas mais cotidianas e menos divulgadas, por exemplo, os pedidos de indicação e requerimentos, dispositivos institucionais que podem servir de instrumentos para a representação de interesses diversos, não necessariamente em prol da sociedade.
Por último, mas não menos importantes, são os capítulos que tratam da relação entre religião e política no estado, principalmente no que diz respeito à importância cada vez maior dos grupos de parlamentares evangélicos. O texto “Uma via de mão dupla: Recrutamento partidário de deputados estaduais evangélicos em São Paulo”, de Marcela Tanaka, desvenda os aspectos do processo de recrutamento da elite parlamentar evangélica no estado e o nível de relação entre as igrejas e determinadas agremiações. A ideia é mostrar como os “políticos de Cristo” têm se inserido na cena brasileira.
Política em São Paulo é uma coletânea essencial para quem deseja compreender os caminhos partidários do estado nos anos pós-redemocratização. Os diversos estudos permitem uma análise ampla desse cenário, contribuem para que se entendam as mudanças políticas dos últimos anos e abrem questões que podem ser exploradas a partir dos resultados das próximas eleições.
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Política em São Paulo: Uma análise da dinâmica político-partidária no estado
Organizadoras: Rachel Meneguello e Maria Teresa Miceli Kerbauy
ISBN: 9786586253412
Edição: 1ª
Ano: 2020
Páginas: 384
Dimensões: 23,00 x 16,00 x 2,00 cm.