A criatividade pelos acasos

Por Gabrielle da S. Teixeira

A arte é uma forma de expressão humana que tem a capacidade de representar nossas alegrias, tristezas, dores e muitos outros sentimentos. Mas como é o processo de sua criação? No livro Acasos e criação artística, a artista Fayga Ostrower mostra como simples momentos podem se transformar em grandes obras nas mãos de um artista, basta ter atenção e sensibilidade para vê-los.

Fayga Ostrower foi gravadora, ilustradora, teórica da arte e professora. Dedicou sua vida à criação artística, recebendo vários prêmios, entre eles o Grande Prêmio Nacional de Gravura da Bienal de São Paulo, em 1957. Suas obras estão expostas em grandes museus brasileiros e europeus, como o Museu Nacional de Belas Artes e o Museu Charlottenburg. Seus pensamentos, técnicas e análises sobre arte resultaram em diversos livros, como Universos da Arte e Acasos e criação artística, ambos publicados pela Editora da Unicamp.

Em Acasos e criação artística, Ostrower evidencia como a humanidade está estreitamente ligada à arte e quais são os resultados dessa relação. Partindo das sensibilidades e desafios existentes na vivência do ser humano, considera que a arte pode “nos levar a uma existência mais fértil e digna, em que o sofrimento e a luta são fatores pertinentes e, até mesmo, motivadores de um objetivo mais elevado”. A criação artística é uma forma de transcender a condição humana limitada, tornando evidentes todas as fragilidades de um indivíduo, mas também fazendo-o refletir sobre o porquê de sua existência e sobre como pode melhorar sua experiência no mundo.

O tema da obra é a própria criação artística que, para Ostrower, não existe sem acasos. A inspiração para a composição de uma obra de arte pode partir de atividades rotineiras que, em um inesperado momento, recebem um olhar diferente, dando origem à criação. Entretanto, a autora questiona: “os momentos intuitivos da inspiração ou as descobertas que fazemos durante o trabalho artístico e que apontam novos rumos, novas soluções, ocorrendo justamente quando delas precisamos – seriam meros acasos?”.

A partir disso, o livro analisa cada momento do trabalho artístico. O primeiro capítulo, denominado “Inspiração e individualidade”, aborda a relação entre acasos-vivências-significados, voltando-se à individualidade que existe em cada processo artístico e como cada acontecimento presente nesse trabalho pode ser questionado em sua amplitude. Há um real significado para eles acontecerem ou são apenas coincidências? De que forma são meios para inspirar a imaginação de um artista? Nesse capítulo, a artista exemplifica a relação entre acaso e inspiração com sua própria rotina de limpar os instrumentos utilizados para imprimir as gravuras. Ostrower detalha todo o processo que, para ela, sempre era o mesmo, não necessitando atenção para ser feito. Um dia, reparou em uma mancha cintilante que a fez despertar para possíveis criações e observar cada detalhe presente em um pequeno objeto. Embora tenha jogado todo o material utilizado no lixo, os detalhes não saíram de sua mente e, possivelmente, apareceram em suas próximas composições.

O segundo e terceiro capítulos “Percepção: Significados” e “Formas e expressividade” abordam os processos da percepção e as linguagens, como também discutem como as emoções podem levar à criação. Já o quarto capítulo, “Crescimento e desenvolvimento – Espaço: A língua franca do homem”, analisa o processo de crescimento e de conscientização das crianças bem como o processo de conhecimento do mundo e de autoconhecimento enquanto vivências básicas que podem contribuir para a criação de arte. No quinto capítulo, “Computadores e formas artísticas”, são abordados aspectos da linguagem computacional que são envolvidos na composição de uma obra de arte e no processo criativo, observando como ela pode afetar a expressão humana, sem se resumir a uma lógica matemática. No capítulo “Linguagem e conteúdos”, questiona-se: quais são os critérios para que uma ação se torne uma obra? Para isso, Ostrower recorre a obras de diferentes movimentos artísticos para evidenciar quais são seus princípios estruturais e quais foram os problemas estilísticos que surgiram em cada um deles. No último capítulo, “Criação – Estilo”, examina-se a busca pela identidade e as diferentes perspectivas de abordagem das obras de arte, destacando que a atribuição de valor e de sentido para a composição artística não é uniforme por exemplo, a sociedade de consumo somente vê a importância de uma obra em seu produto final, quando passa a ser analisada como uma mercadoria possível de ser negociada.

Assim, o leitor poderá entrar em contato com a visão de uma artista que percebe a arte “como entendimento de uma profunda verdade da vida”. Ideal para aqueles que, como a autora, amam a arte e a vida.

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Acasos e criação artística

Autor: Fayga Ostrower

ISBN: 978-85-268-1023-5

Reimpressão: 1ª – 2016

Edição: 1ª

Ano: 2013

Páginas: 400

Dimensões: 16×23

Um comentário sobre “A criatividade pelos acasos

  1. Acredito que seja bom mesmo esse livro, pois estou lendo outra obra da Fayga intitulado Criatividade e Processo de Criação que é a simplesmente maravilhoso!

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