Por Thaissa Ribeiro
Quando um povo sai de seu lugar de origem, leva consigo crenças, tradições religiosas e costumes. Não foi diferente com os sudaneses que vieram escravizados para o Brasil, em meados do século XVII. Combinando documentos manuscritos, rituais e tradições, o antropólogo Luis Nicolau Parés conta a história da nação jeje e a influência desse povo no Candomblé.
A formação do Candomblé, obra resultante de mais de sete anos de pesquisa, é uma contribuição para a memória de um grupo que foi majoritariamente esquecido, tanto nos estudos afro-brasileiros como entre o “povo de santo”. A importância da nação jeje de Candomblé é reconhecida nos rituais e entre os especialistas religiosos, mas não havia um estudo aprofundado sobre a origem desse povo no território brasileiro e sobre sua herança ritualística.
O trabalho mostra que as tradições religiosas que ocorriam na Costa da Mina, na África ocidental, especialmente as da área gbe, foram fonte das primeiras referências do que conhecemos hoje como Candomblé. Sem a contribuição do povo dessa região, denominado na Bahia como jeje, o Candomblé teria menor influência dos santos africanos e voduns, e mais aspectos brasileiros.
Diferentemente do que se poderia supor, embora a doutrina não possua um livro de regras básicas, como a católica, há muitos rituais a serem cumpridos pelo povo de santo. E mesmo dentro dessa grande religião, existem divergências quanto à realização dos rituais.
A obra é dividida em oito capítulos. O primeiro apresenta ao leitor informações sobre a própria nação jeje, nagô e as diferenciações essenciais dos povos de que trata o livro. No segundo, o autor aborda a importância das associações religiosas e os valores culturais dessas instituições no Brasil, antes e durante a chegada do Candomblé, como o catolicismo e essa “nova” doutrina se chocaram e foram espaços de sociabilidade nos quais ocorreram processos de identificações étnicas. O terceiro e o quarto capítulos discutem a institucionalização do Candomblé no Brasil e sua contribuição para a formação de uma cultura afro-brasileira. O quinto e o sexto capítulos analisam tradições, rituais e crenças do povo jeje que foram importantes para outras vertentes da própria religião, afinal, o Candomblé não é visto da mesma forma em todos os lugares, nem possui os mesmos ritos em todas as partes da África. É necessário entender as diferenças de espaço, tempo e de terreiro para terreiro. O sétimo e o oitavo capítulos contam aos leitores as transformações pelas quais a religião passou. O livro é um estudo minucioso acerca da formação do espaço que o Candomblé jeje possui no Brasil inteiro.
É um ótimo presente para quem admira as religiões afro-brasileiras e para os curiosos sobre o assunto. Não perca a oportunidade de saber mais!
A formação do candomblé: História e ritual da nação jeje na Bahia
Autor: Luis Nicolau Parés
ISBN: 978-85-268-1464-6
Edição: 3ª ed. rev.
Ano: 2018
Páginas: 424
Dimensões: 16 x 23