Políticas e pesquisas situadas no novo regime climático: como a ciência deve agir nesse novo contexto

Maria Eduarda Peloggia Lunardelli

É fato e de conhecimento geral que vivemos uma nova realidade climática, na qual já não se trabalha mais com a ideia de “mudanças climáticas” futuras, mas sim com a de mudanças drásticas nas quais já estamos imersos. Essa nova realidade que enfrentamos é denominada “novo regime climático”, termo consolidado e popularizado principalmente a partir do texto Face à Gaïa: Huit conférences sur le nouveau régime climatique (2015), do filósofo e sociólogo francês Bruno Latour. Nesse livro, Latour amplia o alcance do termo para além dos estudos das ciências naturais, inserindo-o nos debates das ciências humanas e da filosofia, de modo a enfatizar que, nesta nova era, as distinções conhecidas entre Sociedade e Natureza se alteraram gravemente devido às nossas próprias ações. 

Dessa maneira, o novo regime climático, intrinsecamente ligado ao desenvolvimento das sociedades modernas, é uma marca evidente da transição radical entre as eras geológicas, Holoceno e Antropoceno. O primeiro (termo reconhecido oficialmente), conhecido como a “era da estabilidade”, é marcado por um clima estável e ameno, com níveis moderados de emissão de CO₂ e uma influência humana ainda limitada sobre o meio ambiente. Por sua vez, o Antropoceno (termo proposto e ainda não oficializado) é a “era da influência humana”, na qual o impacto da espécie é capaz de modificar, por exemplo, paisagens, ciclos naturais de elementos e espécies, o clima global e a química dos oceanos.

Assim, mediante tamanha influência humana, as formas de vida no planeta são alteradas e passam a exigir medidas extremas para frear ou retardar a frequência e a intensidade de eventos também extremos – tempestades, inundações, furacões, incêndios, ondas de calor, secas etc. 

Pensando nisso e após vivenciar diferentes catástrofes ambientais, Jean Carlos Hochsprung Miguel direcionou seus estudos para o campo de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), relacionando-o à nova situação climática em que nos encontramos, a fim de promover reflexões sobre como as transformações no Antropoceno envolvem não somente tecnologias e ciências, mas também sociedade e decisões públicas.

Professor no Departamento de Política Científica e Tecnologia do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (IG/Unicamp), Jean Carlos Hochsprung Miguel é também professor permanente do Programa de Pós-Graduação do Instituto. Tem formação em Ciências Sociais pela Universidade Regional de Blumenau (Furb) e mestrado e doutorado em Política Científica e Tecnológica pela Unicamp. Além disso, realizou pós-doutorado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e foi pesquisador visitante na School of Environmental Sciences da Universidade de East Anglia, no Reino Unido. Durante as décadas de sua formação e enriquecimento de sua carreira acadêmica, Miguel desenvolveu diversas pesquisas sobre a relação entre ciência e política climática no Brasil, que, dada a relevância para a compreensão do novo regime climático ao abranger questões políticas, científicas, sociais e ecológicas, foram sistematizadas no livro Ciência e política no novo regime climático.

Dessa maneira, o livro apresenta uma análise das interfaces entre ciência e política climática, demonstrando como os estudos de CTS podem contribuir de forma significativa não somente para pesquisas sobre o novo regime climático, mas principalmente para a orientação de ações governamentais voltadas à adaptação e à prevenção de eventos climáticos extremos. A obra, composta de oito capítulos, textos prévios para apresentação e introdução do tema, e uma conclusão, tem como objetivo a discussão conceitual e programática de tópicos fundamentais relacionados às múltiplas maneiras de se relacionar política e ciência. 

No primeiro capítulo, “Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS)”, são apresentadas as perspectivas dos estudos CTS, destacando a interdisciplinaridade do campo e a forma como ele interpreta as interações entre tecnologia e ciência em diferentes contextos. Em seguida, o capítulo “O papel da ciência” identifica a função da ciência na política hoje, a partir do histórico de concepções dos estudos científicos e da disseminação do modelo tecnocrático e positivista. Por sua vez, o terceiro capítulo, “Pós-verdade”, aprofunda as discussões em torno dos recentes ataques à ciência, tratando principalmente da onda de negacionismo climático que assola o Brasil. O quarto capítulo, então, discute as incertezas existentes nas ciências climáticas e como elas dificultam a comunicação e o aconselhamento político. No quinto capítulo, é exposta a proposta analítica e normativa da produção em comum da ciência e da política climática, além de destacar as dificuldades de aplicação dessas propostas. Em “Cultura política”, é discutida a importância desse conceito como condição das conexões entre política climática e ciência. No penúltimo capítulo, aborda-se o papel das infraestruturas de pesquisa na formação de horizontes para as políticas climáticas. Por fim, o oitavo capítulo discute como a ciência pode incluir e se aprimorar a partir da participação pública.

Portanto, Ciência e política no novo regime climático sugere novas reflexões sobre as conexões entre ciência e política climática e propõe direcionamentos para as novas formas de governança nesse contexto, a partir de uma maneira de fazer ciência que inclui e necessita da sociedade para sua eficácia e relevância social. 

Sendo assim, o título é uma leitura fundamental para estudiosos de CTS, Antropologia e Sociedade e do jornalismo científico, e também para pesquisadores das ciências humanas e do meio ambiente, da sustentabilidade e da governança ambiental, além de ser relevante para os curiosos e leigos no assunto, haja vista que trabalha os conceitos fundamentais do tema de maneira clara, didática e com exemplos práticos do cenário brasileiro. 

Para saber mais sobre o livro, acesse nosso site!

Ciência e política no novo regime climático

Autor: Jean Carlos Hochsprung Miguel

ISBN: 9788526817173

Edição: 1ª

Ano: 2025

Páginas: 280

Dimensões: 16 x 23 cm

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