
Ana Alice Kohler
Hoje, atuando na área do áudio, compreendo a importância fundamental do arranjo em todas as etapas de uma produção musical, da concepção inicial à gravação, à mixagem e à masterização. Um fonograma interessante começa com um arranjo bem pensado, seja ele escrito, articulado oralmente ou improvisado. Contudo, o papel dos arranjadores nem sempre é devidamente reconhecido, sendo relegado a um segundo plano no imaginário de muitos ouvintes.
O relato de Lucas Bonetti no Prefácio de Arranjo aplicado à música brasileira evidencia o arranjo como elemento central para a criação e a apreciação musical. Definido como a adaptação de uma composição para um grupo específico de vozes ou instrumentos, o arranjo organiza elementos musicais e permite a transposição de canções para outros gêneros. Tendo em vista que sua importância ainda é pouco reconhecida, a obra, publicada pela Editora da Unicamp, traz à tona técnicas e aplicações essenciais para estudantes e profissionais da área que buscam aprimorar seus conhecimentos.
O livro Arranjo aplicado à música brasileira, escrito por Paulo Tiné, faz parte da Série Extensão Universitária da Editora da Unicamp em parceria com a Pró-Reitoria de Extensão, Esporte e Cultura (ProEEC), que publica obras de caráter extensionista. O título agrega valor à Série, pois “busca sistematizar mais de 20 anos de prática de ensino no campo do arranjo”, oferecendo ao público geral acesso ao conteúdo ministrado por Tiné na Faculdade Santa Marcelina e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Dessa forma, o livro contribui para a missão da universidade de produzir ensino, pesquisa e extensão, por meio de “tecnologias, programas, conhecimentos e metodologias referentes a várias áreas de atuação acadêmica e profissional de grande interesse social”.
Paulo Tiné é bacharel em Música com habilitação em Regência pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre e doutor em Artes pela mesma instituição. Atualmente, é professor do Instituto de Artes da Unicamp e líder do grupo de pesquisa “Transcriações Musicais”. Além disso, já publicou outros títulos frutos de seus estudos sobre arranjo musical, gravou sete álbuns como instrumentista, intérprete, compositor e arranjador, e dirigiu diversos grupos musicais institucionais, big bands e orquestras populares.
Em Arranjo aplicado à música brasileira, Tiné combina a prática e a teoria do arranjo musical por meio da apresentação de técnicas clássicas de arranjo e do oferecimento de “exemplos práticos, sugestão de exercícios e análises de excertos de arranjos e composições de grandes nomes da música brasileira”. Dessa forma, o leitor encontra arranjos destinados a diversos gêneros musicais brasileiros, como samba, choro, bossa nova, frevo, baião, entre outros. Além das partituras disponíveis no livro, a edição ainda conta com QR Codes que dão acesso a amostras de áudio feitas com softwares de música, para que a experiência de aprendizado seja completa e multimídia. Dividido em seis partes principais, o livro trata do arranjo em diversas situações de aplicação.
Após uma breve apresentação, na qual o autor explica algumas das escolhas metodológicas e pedagógicas adotadas, o leitor encontra um capítulo inteiro dedicado a “O acabamento vocal”, que constitui a primeira parte do livro. Nela, Tiné aborda temas como o contracanto passivo, o arranjo vocal com seção rítmico/harmônica e os tipos de acompanhamento. Logo após, o segundo capítulo da obra traz conceitos teóricos e exercícios voltados ao arranjo de cordas arcadas, que incluem explicações acerca das cordas no contexto da gravação sonora. Já a terceira parte do livro apresenta as aplicações do arranjo na música brasileira relativas, especificamente, à seção de madeiras, por meio de diferentes técnicas e articulações.
O quarto capítulo de Arranjo aplicado à música brasileira, intitulado “O naipe de saxofones”, aborda temas como a posição espalhada (spreads), o uso do ritmo harmônico no arranjo e a transcrição para orquestra clássica. Na quinta parte, o leitor encontra técnicas e exercícios de arranjo para a seção de metais, incluindo instruções específicas para o frevo, por exemplo. Por fim, o último capítulo da obra traz informações detalhadas sobre o arranjo para o naipe de percussão, as quais orientam o leitor quanto a blocagem por intervalos, tríades diatônicas sob baixos não diatônicos, escrita linear, etc.
Nas Considerações Finais do livro, o leitor encontra um resumo da trajetória de Paulo Tiné como arranjador, desde as suas primeiras tentativas na área, no fim dos anos 1990, até seu estudo mais aprofundado de temas como a blocagem. Dessa forma, o autor explica algumas das principais dificuldades encontradas por quem busca se aventurar no arranjo, como a aplicação prática das “técnicas do contraponto e da harmonia tradicional” para músicas populares, que resultavam, frequentemente, em uma sonoridade neoclássica no início de sua carreira. Ao aprendizado adquirido pela experimentação e pela falha, Tiné somou sua experiência com a escrita para big bands, grupos instrumentais de jazz.
Em Arranjo aplicado à música brasileira, portanto, o leitor encontra o resultado dessa longa jornada: o conhecimento teórico e prático da arte de arranjar para a música brasileira – expresso inclusive nas últimas páginas da obra, que contêm um “pequeno glossário de arranjo” com os principais termos explorados pelo autor.
O que este livro busca, também, é a construção de atalhos, caminhos que permitam que músicos não mergulhados no universo da escrita jazzística e orquestral possam mais rapidamente alcançar resultados, se não originais, satisfatórios […]. Desse modo, espero que Arranjo aplicado à música brasileira contribua para a formação de futuros arranjadores e músicos que, tendo a técnica como dada, possam ter novas ideias e encontrar novos caminhos para o arranjo brasileiro.
Aproveite para conhecer as demais obras da Série Extensão Universitária e adquira Arranjo aplicado à música brasileira em nosso site!

Arranjo aplicado à música brasileira
Autor: Paulo Tiné
ISBN: 9788526817968
Edição: 1ª
Ano: 2025
Páginas: 216
Dimensões: 14 x 21 cm