Uma visão multidisciplinar acerca dos conflitos, riscos e impactos associados a barragens

Marcella Fernandes Dias

No dia 25 de janeiro de 2019, o Brasil enfrentou uma das maiores tragédias ambientais: a barragem I da Mina do Córrego do Feijão – de responsabilidade da mineradora Vale – se rompeu em Brumadinho, Minas Gerais. Depois do rompimento da barragem da Samarco/Fundão em Mariana (MG), em 2015, esse foi o segundo maior desastre do país, resultando na perda violenta de 272 pessoas. Além da dor irreparável enfrentada pelas famílias das vítimas, as consequências no meio ambiente são sentidas até hoje. 

A quantidade de rejeitos de mineração liberados destruiu não só grande parte da vegetação do local, como também contaminou o Rio Paraopeba, desencadeando alta mortalidade de animais e plantas da região. Além disso, diversas comunidades tradicionais – ribeirinhas, indígenas e quilombolas – tiveram suas dinâmicas sociais, culturais e econômicas afetadas em decorrência do rompimento da barragem. Foi diante desse triste e revoltante cenário que o livro Conflitos, riscos e impactos associados a barragens foi organizado por Jefferson L. Picanço, José Mario Martínez, Claudia Pfeiffer e João Frederico Meyer. 

Jefferson L. Picanço tem graduação em Geociências pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e mestrado e doutorado na mesma área pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, é professor do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do Grupo de Pesquisa e Ação em Conflitos, Riscos e Impactos Associados a Barragens (Criab). José Mario Martínez tem graduação em Matemática pela Universidade de Buenos Aires (UBA) e doutorado em Engenharia de Sistemas e Computação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Além de ser professor emérito da Unicamp, é presidente do Conselho do Instituto de Estudos Avançados (IdEA) e bolsista de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

Claudia Pfeiffer tem graduação, mestrado e doutorado em Linguística pela Unicamp. Além de ser professora na instituição, é pesquisadora do Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb) e coordenadora do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Políticas em Saúde, junto com Carlos Corrêa. A pesquisadora foi membra do Criab desde a sua fundação – em 2019 – até 2025. João Frederico Meyer tem graduação em Matemática pela Unicamp, onde também realizou mestrado e doutorado. Atualmente, é professor colaborador voluntário nessa universidade e membro da Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional, da Sociedade Brasileira de Educação Matemática e da Sociedade Latino-Americana de Biomatemática.  

A obra Conflitos, riscos e impactos associados a barragens faz parte da Série Discutindo o Brasil e o Mundo da Editora da Unicamp, que tem como objetivo contribuir para o debate de temas de grande impacto social, político e científico na contemporaneidade. Além disso, o título é resultado de um trabalho multidisciplinar realizado pelo Criab – grupo que surgiu a partir da mobilização da comunidade acadêmica da Unicamp diante do desastre ocorrido em Brumadinho. Os pesquisadores queriam entender o que havia acontecido na região e o que poderia ser feito naquele momento de urgência. 

O Criab é composto de graduandos, pós-graduandos, docentes e pesquisadores e está organizado em três grupos de trabalho: Educação e Sociedade, Meio Físico e Biótico, e Engenharia Matemática. Partindo dessa multidisciplinaridade, o livro tem como objetivo apresentar os riscos e impactos decorrentes da construção de barragens a partir do trabalho desenvolvido nos grupos temáticos. Desse modo, por meio de perspectivas diversificadas, a obra reúne os conhecimentos de diferentes especialistas sobre desastres em barragens, advindos de suas formações e vivências.

A obra está dividida em treze capítulos que exploram o tema por meio de diversos pontos de vista. No primeiro, os autores discutem os impactos do rompimento de barragens nos rios, antes e depois do desastre, ao contaminarem os cursos d’água. O segundo capítulo tematiza o uso de fitotecnologias para mitigar os impactos de desastres provocados por rejeitos de mineração, como a fitoestabilização e a fitodegradação. Na sequência, o tópico discutido é a ocorrência do rompimento de barragens no planeta, bem como suas implicações econômicas e políticas.

Já na próxima parte, os autores abordam a insegurança hídrica decorrente das atividades de mineração e analisam o grande impacto dos rejeitos no Rio Paraopeba e em seus afluentes na cidade de Brumadinho (MG). No quinto capítulo, são apresentadas propostas para aumentar o nível de segurança de barragens e diminuir os riscos para a população à sua volta por meio de tecnologias da Internet das Coisas (IoT). Em seguida, o sexto capítulo destaca os marcos legais sobre barragens e as mudanças recentes no Plano Nacional de Segurança de Barragens (PNSB). 

No restante da obra, são apresentadas formas matemáticas para compreender esse tipo de desastre. Assim, o sétimo capítulo introduz a modelagem numérica de canais naturais – com uso frequente das equações de Saint-Venant –, enquanto a oitava parte traz questões específicas sobre a modelagem do rompimento de barragens por meio de brechas. O nono capítulo propõe revisar modelos matemáticos e numéricos no processo de rompimento, e o subsequente apresenta estudos estatísticos acerca das implicações de desastres com barragens. 

No décimo primeiro capítulo, os autores simulam fluidos em canais naturais por meio de cálculos que dispensam o uso de equipamentos. A próxima parte, por sua vez, simula, em formato 2D, como os rejeitos foram liberados quando a barragem de Brumadinho se rompeu. Por fim, o décimo terceiro capítulo é dedicado ao verbete “desastre-crime” – escrito coletivamente para o Dicionário Crítico da Mineração – e à análise de textos sobre os rompimentos das barragens em Mariana e Brumadinho, publicados em uma revista de divulgação científica. 

Desse modo, Conflitos, riscos e impactos associados a barragens é um livro que contribui para promover justiça social e ambiental, ao discutir as implicações do rompimento de barragens a partir de “uma ciência que possa ser ao mesmo tempo multidisciplinar, participante e cidadã”.

Conflitos, riscos e impactos associados a barragens

Organizadores: Jefferson L. Picanço, José Mario Martínez, Claudia Pfeiffer e João Frederico Meyer

ISBN: 9788526818033

Edição: 1ª

Ano: 2025

Páginas: 312

Dimensões: 21 x 28 cm

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