Marcella Fernandes Dias
Etimologicamente, o termo “poesia” tem origem no grego poíesis, relacionado à ideia de “criar” ou de “fazer algo”. Essa forma de expressão artística – uma das manifestações mais antigas da humanidade – permite ao poeta compartilhar histórias e experiências de vida, expressar sentimentos e revelar sua visão de mundo por meio do exercício criativo e subjetivo da escrita. Entretanto, com o passar do tempo, a poesia estaria perdendo o seu sentido? Essa é uma das questões que João Mostazo discute na obra Dificuldade da poesia: ensaios de literatura brasileira contemporânea, ao analisar a dificuldade da poesia no fazer crítico e literário.
João Mostazo é bacharel em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com doutorado em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorado pela Unicamp. Além de atuar na área de Letras, com ênfase em Teoria Literária, é poeta e dramaturgo, tendo escrito e produzido espetáculos teatrais como Fauna fácil de bestas simples (2015), A demência dos touros (2017), Roda morta (2018), entre outras peças de sucesso. Além deste livro, Mostazo é autor dos títulos Poemas para morder a parede (2020) e Coisa de mamíferos (2023).
Em Dificuldade da poesia: ensaios de literatura brasileira contemporânea, o autor propõe ao leitor refletir sobre a poesia a partir da ideia de “dificuldade” – relacionada ao “esvaziamento histórico do conceito de resistência”. Ao utilizar esse termo, seu objetivo não é criar um novo conceito, mas nomear o impasse citado. Isso porque, embora a expressão “resistir” seja empregada de forma corrente, ela ainda é pouco discutida e pouco tomada como objeto de reflexão para pensar o que significa, quando e como surgiu, por exemplo. Para tanto, além de textos poéticos, Mostazo estende sua análise a um romance e a uma peça de teatro, articulando crítica literária e análise social.
O livro está organizado em dez capítulos e conta também com um prólogo, intitulado “Os três c’s de crise”. No capítulo inicial, o autor explora questões relacionadas à ideia de resistência, analisando como ela se manifestou durante a ditadura militar por meio da poesia, e dialoga com autores como Alfredo Bosi e Antonio Candido. O segundo capítulo, intitulado “Impotência, opacidade e vício de origem”, analisa as dificuldades do passado, do presente e do futuro da poesia, concluindo que não foi ela que perdeu “a sua capacidade de ‘nomear a vida’, e mesmo de resistir a essa perda”. Segundo o autor, foi, na verdade,
[…] a própria situação contra a qual se resistia que se transformou, situação na qual a poesia reorganiza suas forças. Foram os alicerces sobre os quais a resistência podia ser articulada – recuperação do espaço mítico, presente aberto e projeção do futuro – que perderam os pontos de contato com o real. Para além, a obsolescência da dimensão resistente da poesia é, ela mesma, um dos elementos da sua atual dificuldade.
Na sequência, o terceiro capítulo aborda questões referentes à exploração do sistema capitalista, com a análise dos poemas “Luzia do Brasil” e “Cesta básica”, de Ricardo Domeneck. No capítulo seguinte, intitulado “Organizando o caos”, o autor discorre sobre aspectos e critérios da avaliação literária do poema. No quinto capítulo, Mostazo apresenta e analisa poemas de alguns escritores, como Ana Martins Marques, destacando o percurso poético da autora e evidenciando que a poesia “[…] floresce na equivalência universal dos fragmentos”. O próximo capítulo é dedicado à crise da poesia lírica, que, segundo o autor, tem um lastro histórico da Antiguidade e remete a um lado libertador e limitante na modernidade.
Já no sétimo capítulo, a obra destaca poemas do escritor carioca Paulo Henriques Britto, analisando aspectos como o ser, a ambivalência, a indeterminação, o plano individual e o coletivo, entre outros elementos da composição dos poemas. Intitulado “Do ponto de vista do futuro”, o oitavo capítulo é introduzido com um verso do poema “Como desmontar”, de Edimilson de Almeida Pereira, para mostrar como a contradição e a consistência não são elementos opostos na poesia, mas sim convivem. No penúltimo capítulo, o autor analisa o romance Via Ápia (2022), de Geovani Martins, protagonizado por cinco jovens que moram na favela da Rocinha e lidam com a violenta invasão da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) na comunidade. Por fim, o último capítulo analisa a peça teatral Agropeça, cujo texto foi produzido por Marcelino Freire e o espetáculo dirigido por Antônio Araújo.
Em Dificuldade da poesia: ensaios de literatura brasileira contemporânea, João Mostazo percorre brilhantemente a poesia brasileira, explorando poemas de diversos escritores, com análises detalhadas e explicativas. Trata-se, portanto, de uma obra cuja leitura é essencial não só para estudantes e pesquisadores da área de literatura, como também para todos os amantes de poesia que desejam adentrar o seu universo.
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Dificuldade da poesia: ensaios de literatura brasileira contemporânea
Autor: João Mostazo
ISBN: 9788526817982
Edição: 1ª
Ano: 2025
Páginas: 272
Dimensões: 14 x 21 cm