
Maria Eduarda Peloggia Lunardelli
Cumpre aos linguistas intervir para proporcionar ferramentas àqueles que não têm tempo para encontrá-las [i.e., os professores]. A tarefa mais delicada compete, contudo, aos professores, que terão de escolher o modo como utilizar tais ferramentas e em que momentos apresentá-las. (Guglielmo Cinque)
Sabe-se que o processo de ensino da língua portuguesa em sua norma-padrão não é simples, muito menos uniforme, mas é essencial. Seja para que o aluno realize uma boa formação acadêmica, se insira no mercado de trabalho ou dê continuidade aos estudos em nível superior, há diversas situações cotidianas em que a utilização da gramática normativa é exigida. Contudo, nem todos conseguem aprendê-la de maneira eficaz e plena, a ponto de aplicá-la corretamente no dia a dia.
Nas escolas, a língua portuguesa é comumente ensinada para atender aos padrões definidos pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que propõe duas frentes de ensino: a norma-padrão e a análise linguística. Entretanto, a forma como esse ensino é conduzido ainda segue modelos arcaicos, que desconsideram, entre outros aspectos, a realidade de cada aluno. A imposição da norma culta mostra-se, na maioria das vezes, incompatível com a cultura, as necessidades e as afinidades dos estudantes, e essa pressão para a aprendizagem de um conteúdo repleto de regras, termos, teorias e exceções acaba resultando em reprovações, frustrações, discriminações e até no término da vida escolar sem o domínio adequado da leitura e da escrita.
Diante desse dilema, a figura e o papel do professor ganham destaque. De que forma ele poderia ensinar a língua portuguesa para que seja aprendida e utilizada de maneira eficaz? É fato que o ensino de qualquer conteúdo se torna muito mais proveitoso quando, além de considerar o que já foi internalizado pelo estudante, fornece condições para que os novos conhecimentos sejam aplicados em suas próprias vivências. Assim, é importante ressaltar que a língua portuguesa, em seu aspecto normativo, deve ser ensinada de modo a orientar o aluno, que tem o português como primeira língua, a conhecer e dominar seu idioma materno para que, dessa forma, possa explorá-lo e utilizá-lo naturalmente no dia a dia.
Compreendendo a natureza do problema e com o objetivo de auxiliar os professores nas dificuldades enfrentadas ao ensinar essa língua, Aquiles Tescari Neto, professor livre-docente do Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (IEL/Unicamp), redigiu o livro Gramática e formação de professores de língua portuguesa, que apresenta sugestões metodológicas para o ensino da gramática.
Aquiles Tescari Neto é licenciado em Letras (português e italiano) pela Universidade Estadual Paulista (Unesp/São José do Rio Preto) e mestre em Linguística pela Unicamp. Obteve o título de doutor em Ciências da Linguagem pela Università Ca’ Foscari di Venezia, Itália, e atualmente ministra aulas sobre teorias linguísticas e ensino de língua portuguesa na Unicamp. Além disso, é editor da revista Cadernos de Estudos Linguísticos e autor de Sintaxe Gerativa: uma introdução à Cartografia Sintática (Editora da Unicamp, 2021) e de Gramática na ponta do lápis (Editora Lexikon, 2024).
Gramática e formação de professores de língua portuguesa surge, então, como uma ferramenta de apoio à formação de professores, sejam eles já graduados e em formação continuada, ou futuros docentes. Por meio da mobilização da Linguística Teórica, sobretudo a Teoria da Gramática Gerativa, de Noam Chomsky, Tescari Neto propõe sugestões metodológicas para o ensino das duas vertentes da língua portuguesa destacadas pela BNCC, tanto para alunos do Ensino Médio quanto para os dos anos finais do Ensino Fundamental.
O livro é composto de cinco capítulos, além da introdução e das considerações finais. Os três primeiros são voltados à explicação das teorias que embasam a obra, e os dois últimos se destinam à apresentação da aplicação prática da metodologia. Assim, o capítulo 1 introduz o contexto do ensino da gramática e discute as possíveis acepções da Linguística Escolar. O capítulo 2 apresenta uma discussão sobre as duas frentes do ensino da língua portuguesa, apoiando-se na argumentação de Tescari Neto & Souza de Paula em “O lugar das normas gramaticais e das práticas de análise gramatical no ensino básico e na formação dos professores de língua portuguesa no Brasil” (2021). Em seguida, o capítulo 3 enfoca os julgamentos da aceitabilidade, expediente metodológico típico dos gerativistas. Por fim, os capítulos 4 e 5, a partir da mobilização dos conceitos e conteúdos teóricos introduzidos anteriormente, explicam de que maneira a linguística pode facilitar o acesso dos estudantes à norma de referência, além de fornecer exemplos práticos de aplicação das sugestões metodológicas.
Em vista disso, o livro se mostra uma leitura importante para alunos de licenciatura em Letras, professores em formação continuada (aqueles já graduados) e todos os interessados em compreender como a produção acadêmica, de cunho puramente teórico, pode ser mobilizada, transformada e ressignificada para causar impacto direto na sociedade por meio dos projetos de extensão universitária.
Nessa perspectiva de ressignificar o papel das pesquisas acadêmicas e de difundir conhecimento, a Série Extensão Universitária – uma parceria entre a Editora da Unicamp e a Pró-Reitoria de Extensão, Esporte e Cultura da Unicamp (ProEEC) –, da qual Gramática e formação de professores de língua portuguesa faz parte, apresenta livros de diferentes áreas do conhecimento que colaboram com a divulgação de conteúdos produzidos nos projetos de extensão realizados na Unicamp.
Para ter acesso a mais informações sobre o livro e sobre a Série, acesse o nosso site!

Gramática e formação de professores de língua portuguesa
Autor: Aquiles Tescari Neto
ISBN: 9788526817371
Edição: 1a
Ano: 2025
Páginas: 216
Dimensões: 14 x 21 cm