8 livros essenciais sobre a América Latina disponíveis na Editora da Unicamp

Marcella Fernandes Dias

No dia 24 de março, comemora-se o Dia da União dos Povos Latino-Americanos. A data tem por objetivo fortalecer os laços e as trocas interculturais entre os países dessa região, que, embora compartilhem características semelhantes advindas de um passado colonial, são bastante diversos entre si. A América Latina consiste em uma divisão regional do continente americano cuja quantidade de países que a compõem não é consenso. Nesse sentido, a regionalização pode variar a depender dos aspectos que serão considerados, como políticos, históricos, econômicos e culturais.

A América Latina é composta por países da América do Sul, da América Central e por um único país da América do Norte, o México. Um exemplo de lista que pode ser encontrada é a seguinte: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Em uma listagem mais ampla, por sua vez, que além de levar em consideração a Guiana e o Suriname, localizados na América do Sul, são adicionados também à regionalização os demais territórios da América Central. São eles: Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Jamaica, Santa Lúcia, São Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas, Trinidad e Tobago.

O conjunto dos países latino-americanos é formado por uma enorme e rica diversidade de culturas, tradições e costumes, sobretudo, pela forte influência dos povos originários. Aliado a isso, as contribuições africanas e a exploração colonial europeia foram fatores que influenciaram decisivamente a heterogeneidade cultural da América Latina. Exemplo disso são os idiomas falados atualmente com a predominância do espanhol, uma das línguas dos colonizadores, junto com o português e o francês. Para além disso, línguas indígenas, africanas e diversas outras somam-se à diversidade cultural e linguística da região. Há também uma pluralidade de religiões, festividades, gêneros musicais e pratos culinários, que têm como base o milho e a mandioca, principalmente.

Antes da colonização europeia, a América Latina era habitada por diferentes povos nativos, como os maias, os astecas e os incas, que desenvolveram organizações sociais e políticas próprias. Porém, com o processo violento de chegada dos colonizadores, a cultura europeia foi imposta forçadamente aos nativos, os seus territórios foram ocupados e explorados, e essas populações foram escravizadas e dizimadas em sua maioria. Diante desse cenário, no século XIX, os territórios latino-americanos iniciaram as lutas por suas independências. Mais tarde, ao longo do século XX, muitos deles ainda foram alvos de governos autoritários e ditatoriais, enfrentando um processo marcado por grande violência e violação dos direitos humanos. 

Após os regimes ditatoriais, a América Latina passou por um processo de redemocratização com a forte influência dos movimentos sociais e de mobilizações populares. Entretanto, a reconstituição da democracia ainda permanece, já que vem ocorrendo um constante avanço da extrema-direita no contexto atual. Além disso, tendo em vista o passado histórico marcado por diversas instabilidades políticas, as nações latino-americanas continuam lutando ainda hoje contra as profundas desigualdades socioeconômicas em seus territórios. 

Apesar dos problemas enfrentados, essa região é de suma importância para o cenário geopolítico e é responsável por abrigar uma enorme diversidade cultural. Pensando nisso, a Editora da Unicamp selecionou oito livros que abordam a temática da América Latina para que os leitores explorem diversas questões em torno dos países latino-americanos. Conheça as obras!

  1. Um Atlântico liberal

O livro Um Atlântico liberal: think tanks, Vargas Llosa e a ofensiva de direita na América Latina, de María Julia Giménez, partiu da tese de doutorado da autora e tem por objetivo contribuir ao debate sobre as redes transacionais de think tanks na região da América Latina. Para isso, ela tomou como base o caso da Fundación Internacional para la Libertad (FIL), durante o período de 2002 a 2016, procurando articular e compreender a atuação desse tipo de organização política que se inscreve na lógica liberal. Nesse sentido, tendo em vista o contexto político atual latino-americano, marcado pelo constante avanço das direitas em suas agendas liberais, o livro destaca-se como uma leitura indispensável para compreender mais sobre o assunto.

María Julia Giménez tem bacharelado e licenciatura em História pela Universidad Nacional del Sur (UNS), mestrado em História pela Universidad Nacional de La Plata (UNLP) e em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Em 2021, ela obteve o título de doutorado em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Além disso, Giménez atua como comunicadora popular com a produção de conteúdos sobre Direitos Humanos, Memória, Verdade e Justiça, Questão Agrária e Direito à Comunicação.

  1. A memória do futuro

A obra A memória do futuro: (Chile 2019-2022), escrita por Pierre Dardot e traduzida por Clarissa Penna, discute sobre o impacto do neoliberalismo e das manifestações que ocorreram no Chile, em 2019, diante do aumento do valor do bilhete de metrô em Santiago, capital do país. Além disso, a partir das lutas e reivindicações dos movimentos sociais, o livro de Dardot apresenta uma esperança de futuro desejada pela população que busca fortalecer a democracia como um valor político coletivo e inegociável. Desse modo, a obra é um excelente material para estudiosos e para o público em geral que desejam estudar a história chilena e saber mais sobre o neoliberalismo na América Latina.

Pierre Dardot é filósofo e pesquisador da Universidade Paris-Ouest Nanterre-La Défense, que se dedica ao estudo das obras de Marx e Hegel. Além do livro A memória do futuro: (Chile 2019-2022) publicado pela Editora da Unicamp, Dardot é coautor, com Christian Laval, das seguintes obras: A nova razão do mundo, Marx, prénom: Karl, Comum e Dominer.

  1. Origens do pensamento e da política radical na América Latina

Em Origens do pensamento e da política radical na América Latina, Fabio Luis Barbosa dos Santos analisa as raízes ideológicas de projetos políticos que objetivaram a democratização radical na América Latina. Organizado em três partes, o estudo comparativo aborda três perspectivas teóricas e políticas: José Martí, em Cuba; Juan B. Justo, na Argentina; Ricardo Flores Magón, no México. O objetivo do livro não é tentar explicar o porquê de esses projetos terem sido propostas frustradas, mas sim identificar as origens desse pensamento radical no contexto latino-americano. Logo, o livro é uma leitura interessante para explorar, por meio de uma análise comparativa, algumas perspectivas políticas e ideológicas que atuaram radicalmente na América Latina.

Fabio Luis Barbosa dos Santos tem doutorado em História Econômica pela Universidade de São Paulo (USP) e é docente de Relações Internacionais na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Alguns temas de estudo de seu interesse são a História Contemporânea, a História da América Latina, as Relações Internacionais na América Latina e no Sul Global, entre outros assuntos.

  1. O protagonismo popular

De autoria de Márcia Cury, o livro O protagonismo popular: experiências de classe e movimentos sociais na construção do socialismo chileno (1964-1973) tem como proposta analisar um dos períodos mais marcantes da história do Chile: o governo da Unidade Popular, sob a presidência de Salvador Allende. A obra, organizada em cinco capítulos e que conta com um texto introdutório e considerações finais, apresenta as experiências e as práticas políticas de figuras que foram protagonistas no processo, mas que são menos conhecidas: os trabalhadores chilenos. Nesse sentido, o livro é uma excelente leitura por resgatar a atuação dos trabalhadores nas lutas por direitos sociais.

Márcia Cury tem pós-doutorado pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual de Feira de Santana (BA), doutorado em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e mestrado em História pela Universidade Estadual Paulista – Franca. A autora atua com ênfase em História Social, História Política, Movimentos Sociais, Classe Trabalhadora, entre outros temas que são de seu interesse.

  1. A educação superior na América Latina e os desafios do século XXI

O livro A educação superior na América Latina e os desafios do século XXI, organizado por Simon Schwartzman, oferece um panorama da educação superior nos países latino-americanos por meio de dados que vão desde 1960, com destaque para o percurso do ensino superior a partir de 1990. Isso permite que o livro consiga captar as diferenças e as semelhanças entre os países da América Latina no que diz respeito à educação, além de situá-los em relação aos Estados Unidos e à Coreia do Sul, por exemplo. Logo, a obra é extremamente relevante não só por destacar as produções feitas para a disseminação do conhecimento no continente, como também por contribuir ao debate sobre como a formação superior pode ser aprimorada.

Simon Schwartzman fez graduação em Sociologia e Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestrado em Sociologia pela Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais (Flacso, Chile) e doutorado em Ciências Políticas pela Universidade da Califórnia. Além disso, o sociólogo foi diretor do Núcleo de Pesquisas sobre o Ensino Superior na Universidade de São Paulo (USP), de 1990 a 1994, e presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), durante o período de 1994 a 1998. Além do livro citado acima, do qual ele foi organizador, ele é autor de Bases do autoritarismo brasileiro e Um espaço para a ciência, publicados pela Editora da Unicamp.

  1. A questão ambiental na América Latina

Considerando a importância significativa assumida pelas pautas sobre o meio ambiente, a obra A questão ambiental na América Latina, organizada por Leila da Costa Ferreira, apresenta resultados de discussões teórico-metodológicas sobre questões de sustentabilidade, políticas públicas, interdisciplinaridade, sociologia ambiental, teoria social, ciência e produção intelectual no continente latino-americano. Desse modo, a obra é uma leitura muito importante, pois analisa a extensão dos problemas no meio ambiente e os conflitos relacionados com a natureza, considerada na obra tanto como ambiente natural, quanto como espaço construído. 

Leila da Costa Ferreira é professora no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), vice-presidente da Comissão de Mudança Ecológica e Justiça Ambiental e do Comitê Assessor de Sustentabilidade da mesma instituição. Ela tem doutorado em Ciências Sociais pela Unicamp e pós-doutorado pela Universidade do Texas, nos Estados Unidos, e pela Universidade de York, na Inglaterra.

  1. A Bienal de São Paulo e a América Latina 

A obra A Bienal de São Paulo e a América Latina: trânsitos e tensões (1950-1970), de Maria de Fátima Morethy Couto, tem por finalidade analisar o impacto da Bienal de São Paulo no cenário latino-americano. Tendo em vista que essas mostras artísticas desempenharam um papel muito importante para a difusão da arte, a obra analisa os circuitos artísticos e as estratégias de internacionalização, o impacto das primeiras bienais de São Paulo, a recepção de exposições de artistas latino-americanos na Bienal de Veneza, entre outras questões que se somam à discussão. Nesse sentido, é uma obra essencial para os estudiosos e os amantes das artes que têm interesse em saber sobre a recepção de obras de artistas latino-americanos e desejam conhecer mais sobre a história da arte. 

Maria de Fátima Morethy Couto é doutora em História da Arte e Arqueologia pela Universidade de Paris I (Panthéon-Sorbonne) e docente de história da arte moderna e contemporânea na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Além disso, ela foi presidente do Comitê Brasileiro de História da Arte (gestão 2010-2013) e publicou pela Editora da Unicamp as obras Por uma vanguarda nacional e Políticas da diferença, sendo uma das organizadoras desta última.

  1. Uma editora italiana na América Latina 

No livro Uma editora italiana na América Latina: o Grupo Abril (décadas de 1940 a 1970), escrito por Eugenia Scarzanella e traduzido por Regina Silva, a história da Editora Abril na Argentina é reconstruída por meio de um ensaio sobre transnacionalidade e empreendedorismo étnico. Em meio a um período turbulento, que abrange desde o peronismo até o golpe de 24 de março de 1976, com a ascensão do general Jorge Rafael Videla ao poder, a história da Argentina entrelaça-se com a da Itália, revelando uma relação entre os países. A obra apresenta uma proposta bastante interessante para conhecer não só a história da editora, mas também para saber mais sobre o contexto histórico da América Latina.

Eugenia Scarzanella é cientista política e membro fundadora do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Bolonha. Além disso, ela foi pesquisadora visitante em diversas faculdades internacionais, tendo como interesses de pesquisa a história da emigração italiana para a América Latina de 1880 a 1960 e a história de mulheres e crianças.

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