Conheça a Série Discutindo o Brasil e o Mundo da Editora da Unicamp

Ana Alice Kohler

Partindo da opinião de especialistas ou da população em geral, o diagnóstico dado ao clima sociopolítico mundial da última década tem sido negativo. Os conflitos armados ao redor do globo, o avanço da extrema direita e a crise da informação na era digital são alguns dos dilemas enfrentados no século XXI. Pensando nisso, a Editora da Unicamp, em 2022, organizou o I Seminário Discutindo o Brasil e o Mundo, do qual participaram autoridades brasileiras e estrangeiras e no qual se discutiu acerca da crise da democracia ao redor do mundo, seus impactos e o papel do livro e da ciência nesse contexto. A primeira edição do Seminário, que aconteceu no Centro de Convenções da Unicamp, deu-se por ocasião da Festa do Livro, evento que marcou os 40 anos da Editora da Unicamp.

Dessa experiência, nasceu a Série Discutindo o Brasil e o Mundo, que reúne obras de autores nacionais e internacionais e que tem como objetivo divulgar análises qualificadas acerca da contemporaneidade e de seus desafios, frutos de “reflexões e pesquisas rigorosas e abrangentes”. Os títulos que compõem a Série discutem os mais variados temas, como o conflito da Ucrânia, a crise climática, os reveses da democracia chilena e os movimentos trabalhistas em torno da empresa Amazon, além dos sintomas da condição adversa que toma conta do capitalismo moderno.

Com a expansão da Série e o remapeamento dos dilemas globais, portanto, surgiu a necessidade da realização do II Seminário Discutindo o Brasil e o Mundo, em 2024, que teve como tema “A crise contemporânea: Sentidos geopolíticos, sociais e econômicos”. O evento também contou com a participação de diversos especialistas, que trataram de questões como o Plano Biden, a crise da democracia na América Latina e o capitalismo de plataforma. Além disso, houve o lançamento de novos livros da Série, com a presença de seus autores e de grandes nomes da área. 

A seguir, conheça as obras que fazem parte da Série Discutindo o Brasil e o Mundo e saiba mais sobre as principais questões que permeiam o debate geopolítico atual:

  1. Amazon: Trabalhadores e robôs

Em Amazon, Alessandro Delfanti apresenta relatos de sua experiência investigando o funcionamento e, principalmente, as condições de trabalho dos armazéns da multinacional norte-americana e de outros e-commerces. A obra é composta, dessa forma, por entrevistas com funcionários de diferentes níveis hierárquicos, na tentativa de divulgar o resultado do avanço do capitalismo digital no âmbito laboral. Por meio do contato com esses operários, com instâncias sindicais e com o movimento trabalhista, Delfanti detalha, a partir do exemplo da Amazon, como a automação e o capitalismo de plataforma impactam nas condições de trabalho contemporâneas.

Alessandro Delfanti é professor de Cultura e Novas Mídias na Universidade de Toronto, onde pesquisa a intersecção entre o avanço digital e o conhecimento científico. Suas principais áreas de interesse são o capitalismo digital em relação a trabalho, automação, contraculturas e produção científica.

  1. Linha vermelha: A Guerra da Ucrânia e as relações internacionais no século XXI

Linha vermelha: A Guerra da Ucrânia e as relações internacionais no século XXI, organizado por Felipe Loureiro, reúne textos de diversos pesquisadores brasileiros e estrangeiros acerca de um dos conflitos mais importantes deste milênio. A guerra iniciada pela Rússia em fevereiro de 2022 é o tema das análises expostas na obra, que tratam das razões por trás da animosidade, das estratégias militares exploradas e das consequências humanitárias do conflito. 

Felipe Loureiro é historiador e professor associado do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo. Já foi pesquisador visitante em diversas universidades norte-americanas e, atualmente, é coordenador do Observatório da Democracia no Mundo (Odec), da USP. Em Linha vermelha, obra finalista do Prêmio Jabuti em 2023, Loureiro reúne textos importantíssimos para a compreensão da forma como as relações internacionais vêm se desenhando nos últimos anos.

  1. A memória do futuro: (Chile 2019-2022)

A memória do futuro trata de um dos acontecimentos mais importantes para as democracias latino-americanas nos últimos anos: o levante popular intenso que tomou conta do Chile entre os anos de 2019 e 2022. A obra, escrita pelo filósofo francês Pierre Dardot, reflete acerca desse momento político como uma experiência de liderança por parte dos movimentos sociais e de reinvenção da democracia neoliberal como a conhecemos. 

Dardot é filósofo e pesquisador do laboratório Sophiapol da Universidade Paris-Nanterre. Especialista no pensamento de Marx e Hegel, suas principais áreas de estudo envolvem o neoliberalismo contemporâneo, a sociologia e a filosofia política. No livro, o autor evidencia a importância da imaginação política no momento de crise democrática, em especial a partir do que as feministas chilenas chamam de “memória do futuro”, uma esperança que não é orientada pelo retorno ao passado supostamente glorioso, mas pelo que ainda virá.

  1. Novos horizontes do Brasil na quarta transformação estrutural

Novos horizontes do Brasil na quarta transformação estrutural, escrito por Marcio Pochmann, é composto por cinco capítulos que tratam da contemporaneidade à luz do desenvolvimento nacional. A obra estrutura uma hipótese segundo a qual o Brasil vem passando por uma intensa “mudança de época”, em que a passagem para o mundo digital é acompanhada pelo deslocamento dos centros de poder do Ocidente para o Oriente e pela crise ambiental.

Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia na Unicamp e pesquisador das áreas de economia, trabalho, sociedade e políticas públicas. Além de ser autor de dezenas de livros sobre os mais variados temas, já atuou na gestão pública como secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da cidade de São Paulo e como presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em Brasília. Em sua nova obra, Pochmann pretende dar conta das intensas transformações pelas quais o Brasil tem passado nas últimas décadas, de forma a relacioná-las a outras revoluções socioeconômicas vividas pelo país no passado.

  1. O olhar ecológico: A construção de uma história da arte ecocrítica

O olhar ecológico, escrito pelo professor escocês Andrew Patrizio, enxerga na história da arte o potencial para lidar com a crise ecológica de forma privilegiada. A obra pretende, portanto, construir um projeto que combine histórias da arte ecocríticas que foram negligenciadas e políticas de ecologia atuais. Abrangendo tópicos como a evolução do ecocriticismo na história da arte, as ecologias do feminismo e o anarquismo artístico, O olhar ecológico trata de dois grandes temas que estão presentes nos debates contemporâneos: o papel social da arte e a crise climática.

Andrew Patrizio é professor de História da Arte na Universidade de Edimburgo, na Escócia, e é especialista em arte contemporânea. Além de ser curador de arte, é também membro do conselho da Scottish Contemporary Art Network, trabalhando diretamente com artistas em exposições. Seu principal interesse de estudo teórico está relacionado ao ecocriticismo, tema da obra publicada pela Editora da Unicamp.

  1. A rebeldia tornou-se de direita?

A obra A rebeldia tornou-se de direita?, de Pablo Stefanoni, procura investigar os discursos das chamadas “direitas alternativas” atuais, principalmente no que se refere ao seu apelo à juventude. Segundo o autor, é necessário que as esquerdas se atentem para a produção ideológica das direitas emergentes para que seja possível compreender seu funcionamento. Assim, a obra pretende explicar “como o antiprogressismo e a anticorreção política estão construindo um novo sentido comum (e por que a esquerda deveria levá-los a sério)”.

Pablo Stefanoni é doutor em História pela Universidade de Buenos Aires e professor da Universidade Nacional de San Martín, na Argentina. Especialista nos estudos acerca da extrema-direita e das esquerdas latino-americanas, já colaborou com diversos periódicos importantes, como o El País. Em sua obra publicada pela Editora da Unicamp, Stefanoni traz um panorama político-ideológico da contemporaneidade.

  1. Reinventando o Estado de bem-estar

Em Reinventando o Estado de bem-estar, Ursula Huws investiga a atual situação do trabalho na era digital, em especial seus efeitos na classe operária britânica, que vem, desde 2016, sucumbindo a uma posição polarizada ou completamente inativa. Para isso, a autora trata de temas como a divisão internacional de trabalho, o fim do “Estado de bem-estar” do século XX, a igualdade de gênero e a relação entre as plataformas digitais e as políticas públicas.

A socióloga britânica Ursula Huws desenvolve pesquisas acerca do teletrabalho desde a década de 1970 e tem obras publicadas em diversos idiomas. Uma de suas principais obras, A formação do cibertariado – Trabalho virtual em um mundo real, foi publicada pela Editora da Unicamp em 2017. Professora da Universidade de Hertfordshire, na Inglaterra, Ursula Huws é uma autora dentre os principais nomes da sociologia do trabalho e, em Reinventando o Estado de bem-estar, propõe uma análise acerca do presente sob o ponto de vista da situação de vida dos trabalhadores.

  1. O segundo círculo: Centro e periferia em tempos de guerra

O segundo círculo é uma coletânea de textos escritos por cientistas políticos e economistas do mundo todo acerca dos “pontos críticos da quadra histórica atual”. A obra, organizada por André Singer, Bernardo Ricupero, Cicero Araujo e Fernando Rugitsky, dá ênfase para as democracias latino-americanas no contexto geopolítico contemporâneo. Em especial, discute-se os projetos do governo dos Estados Unidos de Joe Biden e a crise da democracia moderna.

André Singer é cientista político, jornalista e professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP). Bernardo Ricupero, que também é professor da mesma instituição, é diretor-presidente do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea e tem diversas publicações acerca da história política do Brasil. Cicero Araujo tem graduação em Física pela Unicamp, onde se tornou mestre em Filosofia. Atualmente, é professor da USP e pesquisa Teoria Política. Fernando Rugitsky é professor de Economia na Universidade de West of England Bristol, no Reino Unido, e pesquisa a distribuição de renda na América Latina. Os quatro organizadores são membros do grupo de pesquisa “Pensamento e política no Brasil” do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania da USP.

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A Série Discutindo o Brasil e o Mundo reúne diversos livros essenciais para o entendimento dos principais temas que preocupam a geopolítica atual, seja em âmbito nacional ou global. As obras tratam desses dilemas de forma didática e embasada nesses temas preocupantes, de maneira que são ótimos guias para quem busca aprofundar-se nesses assuntos ou apenas conhecê-los para melhor entender o mundo. 

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