Jornal da Unicamp publica entrevista sobre o livro “Como falar com um negacionista da ciência”

A coleção Meio de Cultura pretende, por meio de textos acessíveis, divulgar os caminhos percorridos pelo desenvolvimento científico ao longo dos séculos, os desafios encontrados e as soluções buscadas. A coleção conta com a coordenação de Peter Schulz, doutor em física pela Unicamp e pós-doutor pelo Instituto Max Planck de Física do Estado Sólido em Stuttgart (Alemanha). Atualmente, Schulz trabalha como professor na Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp e dedica-se à divulgação científica. Na entrevista a seguir, o pesquisador revela alguns detalhes acerca da coleção Meio de Cultura e do livro Como falar com um negacionista da ciência.

Jornal da Unicamp – Qual a proposta da coleção Meio de Cultura?

Peter Schulz – A proposta da coleção consta do preâmbulo de cada um dos livros e vale reproduzir aqui: “A coleção traz textos que, em linguagem acessível a todos, apresentam os caminhos e descaminhos da ciência e tecnologia. Neles encontramos histórias de sucesso e fracassos, contradições e embates, enigmas e polêmicas da ciência e da tecnologia na sociedade – uma bússola para explorar a cultura científica até as fronteiras do saber. Nosso cotidiano é permeado de ciência e tecnologia, e a coleção Meio de Cultura procura despertar o encanto pelo conhecimento, pela curiosidade, pela beleza e pelos mistérios do universo e da humanidade”.

A proposta inicial modificou-se um pouco, desde seu início, em 2008, mas permanece a mesma em sua essência: apresentar os diferentes aspectos da ciência e tecnologia de forma acessível. A proposta temática relaciona-se com a curadoria de autorias. Desde seu início, a coleção caracteriza-se por ser um espaço para novos autores e autoras nacionais e latino-americanos, não se limitando a traduzir autoras e autores consagrados do Hemisfério Norte.

JU – Como são selecionados os livros que compõem a coleção? Já há uma definição sobre o próximo?

Peter Schulz – Uma comissão editorial, que seleciona os livros a serem publicados, acompanha a coleção. A escolha ocorre por consenso, a partir de sugestões trazidas por seus membros. Já testamos a alternativa de lançar editais para novos livros. No futuro, talvez lancemos um novo edital. O próximo livro está quase definido, faltando apenas a aprovação final de todos os membros da comissão.

JU – De que forma Como falar com um negacionista da ciência contribui com a coleção?

Peter Schulz – Bem, esse livro é uma tradução de um autor do Hemisfério Norte, o filósofo Lee McIntyre. O título do livro já diz a que vem a obra, ao abordar um tema de enorme importância atualmente – o negacionismo da ciência. Um tema com o qual, quando do lançamento da coleção, há mais de 15 anos, nem imaginávamos teríamos de nos preocupar.

JU – O que o leitor pode esperar da leitura do livro?

Peter Schulz – O livro contempla tudo o que a proposta da coleção busca, a começar pela linguagem acessível a todos. Além disso, o negacionismo da ciência representa um dos descaminhos, das contradições e dos embates envolvendo a cultura científica de nossa sociedade. Como então reconhecer isso e lidar com isso? Aprendendo a falar com o negacionista da ciência. E o livro oferece, assim, uma fantástica bússola nesse sentido.

O autor, apesar de filósofo, fez um trabalho de antropólogo na obra. Conversou com negacionistas de diferentes tipos (terraplanistas, negadores das mudanças climáticas, antivacinas e até os que repudiam os organismos geneticamente modificados), em diferentes situações e lugares a fim de entender os mecanismos e, talvez principalmente, as motivações do negacionismo da ciência. O livro também identifica, para o leitor, pontos em comum entre os negacionistas. Além disso, os relatos sobre seu trabalho de campo compõem belas crônicas de leitura extremamente prazerosa. O caminho que o autor aponta para a conversa é o que ele buscou ao longo de tudo relatado no livro: o diálogo, ainda que difícil.

JU – Quais os principais desafios para a produção de livros de divulgação científica?

Peter Schulz – A coleção Meio de Cultura, por exemplo, já carrega uma tradição e faz parte de uma editora universitária, portanto sua manutenção depende apenas das pessoas envolvidas no projeto. A coleção, porém, precisa ter mais penetração entre os públicos-alvo. O desafio maior consiste em disseminá-la como possibilidade entre potenciais autores. Nós não temos uma grande lista de possíveis livros a serem publicados. Essa busca revela-se muitas vezes difícil. A produção de livros de divulgação científica por parte de editoras comerciais pequenas enfrenta o problema da viabilidade econômica, o que provavelmente leva as grandes editoras a se limitarem aos autores consagrados. A exploração da “cultura científica até as fronteiras do saber”, como afirma a proposta da coleção, ainda tem um longo caminho a percorrer.

Para ler a entrevista no site do Jornal da Unicamp, clique aqui.

Como falar com um negacionista da ciência

Autor: Lee McIntyre

Edição: 1ª

Ano: 2024

Páginas: 400

Dimensões: 14 cm x 21 cm

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