Mais de 15 livros de Antropologia que todo estudante de Ciências Humanas precisa ler

Rafaela Neres Poiani

O termo “antropologia” tem sua etimologia proveniente da junção dos vocábulos gregos anthropos, que significa “homem”, e logos, que faz referência a estudo, conhecimento, ciência. É, portanto, o estudo do ser humano em seu aspecto mais amplo, abrangendo suas crenças, sua cultura, seu comportamento em sociedade e seu desenvolvimento. Nesse sentido, diferentemente de áreas como a Medicina – a qual se concentra na fisiologia do homem –, a Geografia – com foco na ocupação geográfico-política – ou mesmo a História – como ciência que se debruça sobre o desenvolvimento do ser humano em relação ao tempo –, a Antropologia encarrega-se de estudar o homem e tudo o que o envolve de maneira integrada. Vejamos o que Hoebel e Frost comentam a respeito desse pressuposto antropológico:

Uma proposição fundamental da Antropologia é que nenhuma parte pode ser entendida plenamente, o mesmo, com exatidão, separa-se do todo. E, de modo inverso, o todo não pode ser percebido com exatidão sem o conhecimento profundo e especializado das partes. Para compreender qualquer aspecto do comportamento sexual humano, por exemplo, deve examiná-lo em termos de genética, fisiologia, características climáticas, sistema de valores e estruturas técnicas, econômicas, de parentesco, religiosas e políticas de cada sociedade humana. A Antropologia toca em virtualmente todos os campos possíveis do conhecimento, aproveita-se deles e neles se inspira. As habilidades do antropólogo devem ser altamente diversificadas, mas a unidade da disciplina é mantida pela concentração no caráter global do homem e da cultura.

Dessa forma, a Antropologia considera o homem como um ser biológico e social, capaz de produzir cultura. O profissional dessa área é responsável pela investigação das expressões culturais ao longo do tempo e do espaço, analisando como elas acontecem, como surgem, qual impacto têm na história e quais são as diferenças e semelhanças nas variações de práticas em todo o mundo. A concepção de cultura entendida pelos antropólogos pode ser bastante ampla e engloba as religiões, os mitos, os rituais, os hábitos – alimentares, de moradia e de convivência – as crenças, as manifestações folclóricas e as relações de parentesco.

Para estudar os mitos, processos históricos, linguagens, hábitos, crenças, produções culturais, leis, aspectos físicos e biológicos de uma sociedade, foi preciso desenvolver um método que pudesse dar conta de dissecar todos esses elementos: o método antropológico. Ele abarca a Etnografia, a qual consiste na descrição do trabalho de campo, em conjunto com a Etnologia – que é um resumo dos conteúdos descritos no mesmo trabalho. De acordo com o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, a Etnografia corresponde “aos primeiros estágios da pesquisa: observação e descrição, trabalho de campo”. Já a Etnologia seria “um primeiro passo em direção à síntese” e a Antropologia, “uma segunda e última etapa da síntese, tomando por base as conclusões da Etnografia e da Etnologia”.

É necessário elucidar que a caminhada da Antropologia no contexto científico foi marcada, de forma fundamental, pela passagem da prática etnocêntrica para a análise que priorizou relativizar os valores culturais. Apesar das críticas feitas ao relativismo – na medida em que alguns podem considerá-lo limitador das exigências científicas –, é possível concluir que o relativismo e o conceito de cultura são os balizadores do exercício antropológico. Exercício esse que prima pelo reconhecimento do “outro” e da sua cultura a partir de seu contexto, sem qualquer construção de juízo de valor: desse modo, “fazer antropologia” é, obrigatoriamente, relativizar.

No campo de estudos da Antropologia, entre os principais subtipos, podemos citar a Arqueologia, Antropologia Biológica/Física, Antropologia Cultural, Antropologia Social, Antropologia Linguística, Antropologia Psicológica e Antropologia Educacional. Por exemplo, a Antropologia Biológica/Física concentra seus estudos nos aspectos genéticos e biológicos do homem, enquanto a Arqueologia é a investigação das sociedades humanas através da análise de vestígios materiais por elas deixados – os artefatos. 

Quanto aos tantos nomes importantes da área, Darcy Ribeiro (1922-1997) está entre os mais notáveis, famoso por suas pesquisas sobre as culturas indígenas, as quais ele buscava estudar e defender. Outro estudioso que se destacou foi Arthur Ramos (1903-1949), um dos mais relevantes antropólogos brasileiros do século XX não apenas devido à sua inestimável contribuição ao debate acerca das culturas afro-brasileiras, como também pelo seu papel no processo de institucionalização da Antropologia no Brasil, com destaque para a fundação da Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia (SBAE) em 1941. Entre tantos renomados antropólogos, a título de curiosidade, citamos alguns em ordem cronológica: Nina Rodrigues (1862-1906), Câmara Cascudo (1898-1986), Gilberto Freyre (1900-1987), Gioconda Mussolini (1913-1969) e Florestan Fernandes (1920-1995).

Tendo em mente a ampla gama de assuntos que podem ser abordados na Antropologia, a Editora da Unicamp selecionou 17 obras da área que abordam diversas temáticas atuais e necessárias, entre elas, os direitos da comunidade LGBTI+, as questões raciais e de gênero. Conheça-as!

  1. Estação etnográfica Bahia

Publicada em 2023, a obra Estação etnográfica Bahia reúne importantes estudos sobre algumas das principais teorias raciais desenvolvidas por quatro pesquisadores estadunidenses entre as décadas de 1930 e 1960, na Bahia: o casal Frances e Melville Herskovits (brancos); Edward Franklin Frazier e Lorenzo Turner (afro-americanos). Segundo o autor, Livio Sansone, embora os protagonistas do livro tivessem agendas teóricas e políticas distintas, tinham em comum o compromisso antirracista e o desejo de incentivar os intercâmbios e a compreensão mútua entre Brasil e Estados Unidos. 

A obra divide-se em três seções: a primeira trata da trajetória dos quatro pesquisadores a partir da saída de seu país até o posterior retorno; a segunda, por sua vez, marca a importância que a Bahia teve na vida deles e realiza um comparativo entre os trabalhos de cada um, estudando suas diferentes perspectivas de interesse e pesquisa; a última, por fim, apresenta como esses estudiosos abriram caminho para a nova geração de pesquisadores dos estudos afro-brasileiros (e, de certo forma, de ativistas negros). 

O antropólogo e sociólogo Livio Sansone – fundador e diretor do Museu Afrodigital da Memória Africana e Afro-Brasileira – tem graduação em Sociologia pela Universidade de Roma La Sapienza (Itália), com mestrado e doutorado em Antropologia pela Universidade de Amsterdã (Países Baixos). Ainda em solo estrangeiro, de março a junho de 2007, ocupou a Cátedra Simón Bolívar no Instituto de Altos Estudos sobre a América Latina (Iheal), na Sorbonne (França). Atualmente, Sansone é professor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e realiza pesquisas sobre identidades e percepção das desigualdades no Recôncavo da Bahia, no Senegal, na Guiné-Bissau e em Cabo Verde. 

  1. Ascensão e declínio da etnologia alemã 

Em Ascensão e declínio da etnologia alemã, publicado em 2022 pela Editora da Unicamp, o autor Erik Petschelies reconstitui mais de dez expedições realizadas na Amazônia por seis etnólogos alemães, ao longo dos séculos XIX e XX. A obra é fruto da pesquisa de doutorado As redes da etnografia alemã no Brasil (1884-1929), defendida por Petschelies no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH-Unicamp), em 2019. O objetivo do livro é recuperar a pesquisa desenvolvida pelos americanistas alemães Karl von den Steinen, Paul Ehrenreich, Herrmann Meyer, Max Schmidt e Theodor Koch-Grünberg. A partir de seus estudos no interior amazônico, o grupo de pesquisadores permitiu – mesmo antes da colonização europeia – a possibilidade de preservação cultural e étnica dos povos originários que vivem nas Américas. 

Erik Petschelies é bacharel em Ciências Sociais, mestre e doutor em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi pesquisador-visitante da Universidade de Marburg (Alemanha), entre 2016 e 2017, e é membro da Associação Europeia de Antropólogos Sociais, da Sociedade Internacional de Etnologia e Folclore e da Associação Brasileira de Antropologia (ABA). Desde 2020, realiza pós-doutorado em Antropologia na Universidade de São Paulo (USP) acerca da história da antropologia e das ciências naturais de língua alemã desenvolvidas no Brasil, na virada do século XIX para o XX. 

3. A formação do candomblé

Em suas 424 páginas, A formação do candomblé, obra publicada em 2018 pela Editora da Unicamp, discute a história da nação jeje e sua influência na religião, assinalando como os cultos aos voduns forneceram as bases para a formação do candomblé baiano. Entre os principais tópicos, o leitor encontrará: a contribuição da nação jeje na institucionalização do candomblé no século XIX, a história paralela de análise de dois terreiros dessa etnia na segunda metade do século XIX – além da abordagem das características dos rituais jeje-mahi na Bahia, bem como o panteão adotado por esses povos e as transformações pelas quais ele passou. 

Luis Nicolau Parés tem graduação em Filologia Inglesa pela Universidade de Barcelona (Espanha), mestrado pelo Instituto de Tecnologia de Nova York (EUA) e pós-doutorado pela Universidade de Londres (Inglaterra). Atualmente, é professor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Suas principais áreas de pesquisa incluem a história e a antropologia das religiões afro-brasileiras e africanas e suas conexões atlânticas. Além de sua obra A formação do candomblé, Parés é autor de O rei, o pai e a morte (2016) e coeditor de Sorcery in the black Atlantic (2011). 

O exemplar é um rico material para os estudiosos e interessados pela cultura africana e pelas religiões afro-brasileiras. Aos que se interessam por e-books, A formação do candomblé faz parte do catálogo de livros digitais da Editora da Unicamp. 

4. Alegria é devoção

Em Alegria é devoção, resultado da tese de doutorado do norte-americano Michael Iyanaga, é-nos apresentada uma análise inédita e minuciosa sobre uma das mais significativas tradições afrodiaspóricas da Bahia: a tradição domiciliar de sambar e cantar para São Roque, São Cosme, Santo Antônio e outros santos de devoção. A obra de Iyanaga promove uma interessante e abundante multidisciplinaridade, uma vez que atravessa domínios diversos, como música, arte, religião, tradição, história e política. Com o objetivo de imersão dos leitores nas rezas, o autor incluiu gravações de áudio, realizadas em locais distintos – distrito de Santo Amaro, Cachoeira, Muritiba, São Félix e Fazenda Pilar (zona rural de São Félix) –, que podem ser acessadas ao fim da leitura, disponíveis em QR Codes

Michael Iyanaga é graduado em Execução Musical pela Universidade da Califórnia (EUA), mestre e doutor em Etnomusicologia pela mesma instituição, tendo realizado pós-doutorado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pela Universidade William and Mary (EUA). É coorganizador do livro Desafios e particularidades da produção antropológica no Norte e Nordeste do Brasil (2017). Além de suas publicações – nacionais e internacionais –, é ativo como tradutor e professor, tendo lecionado em várias universidades do Brasil e dos Estados Unidos.

5. Religião automática

A obra Religião automática, publicada originalmente em dezembro de 2020, ganhou uma nova edição, agora com tradução de Bhuvi Libanio, lançada pela Editora da Unicamp em 2023. O livro, que dispõe de uma linguagem técnica e aborda conceitos caros aos estudos antropológicos, abre mão de uma cronologia estrita, de forma que diferentes questões são articuladas em cada capítulo. O autor pontua, contudo, que “automático” e “agência” são os dois termos que delimitam o estudo que originou o livro, o qual “reflete sobre uma série de pessoas e coisas quase humanas assinaladas como autômatos desprovidos de vontade que, ainda assim, tornaram-se agentes”. Adicionalmente, a análise é complementada com uma reflexão sobre pessoas escravizadas no Brasil e pacientes psiquiátricos franceses e brasileiros que eram designados “autômatos”. Entre os vocábulos imprescindíveis à obra – devidamente explicados na Introdução –, “agência ambígua”, “automático”, “autômato”, “religião automática”, “quase humano”, “incômodo”, “livre-arbítrio” são alguns deles. 

Paul Christopher Johnson é doutor pela Universidade de Chicago (EUA), professor da Universidade de Michigan (EUA) e editor da revista Comparative Studies in Society and History (CSSH). Sua área de estudo é a antropologia e a história das religiões no Brasil e no Caribe. Além de Religião automática, Bhuvi Libanio traduziu os livros Amazon: trabalhadores e robôs e O olhar ecológico, publicados pela Editora da Unicamp em 2023. 

6. Direitos em disputa

Direitos em disputa reúne estudos de 32 autores de diferentes regiões do Brasil, dispostos em 20 capítulos, em que as organizadoras – Regina Facchini e Isadora Lins França – analisam as políticas públicas voltadas à comunidade LGBTI+ e, em alguns textos, as práticas governamentais que enfraquecem e desmantelam essas ações positivas também são abordadas. Adicionalmente, a obra indica para um processo de disputa em torno dos direitos não só de LGBTI+, mas de outras populações marginalizadas no Brasil, como pessoas negras, mulheres, indígenas e pobres. 

Sendo uma produção multifacetada, Direitos em disputa é atravessada por intersecções entre gênero, sexualidade, classe social, raça e geração e pode interessar aos estudiosos das áreas de Psicologia, Antropologia, Sociologia, Educação, Saúde e Direito. Fazendo jus à diversidade, a obra também traz autores de diferentes instituições e gerações, os quais disponibilizam um rico panorama do que tem sido produzido em relação à temática da diversidade sexual e de gênero em solo brasileiro, proporcionando uma valiosa leitura crítica do cenário atual de ataque aos direitos e à dignidade de LGBTI+, mas com o apontamento de que as saídas possíveis residem também nas transformações nos ativismos. 

Regina Facchini tem graduação em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), mestrado em Antropologia Social e doutorado em Ciências Sociais, ambos pela Unicamp. Desde 2010 é pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu, no IFCH da Unicamp, onde também é professora desde 2011. 

Isadora Lins França é historiadora, mestre em Antropologia Social pela USP e doutora em Ciências Sociais pela Unicamp, com pós-doutorado vinculado ao Núcleo de Estudos de Gênero Pagu (IFCH-Unicamp), onde é pesquisadora. É professora do Departamento de Antropologia do IFCH (Unicamp) e, além de Direitos em disputa, França é autora de Consumindo lugares, consumindo nos lugares: homossexualidade, consumo e subjetividades na cidade de São Paulo (2012). 

Direitos em disputa também faz parte do catálogo de livros digitais da Editora da Unicamp; aproveite para conhecer todos os livros disponíveis em nosso site!

7. Política em São Paulo

São Paulo é o “principal ponto de origem e formação dos dois partidos que conduziram a política democrática nacional durante mais de 20 anos – PT e PSDB”. Tendo isso em mente, a coletânea Política em São Paulo, organizada pelas pesquisadoras Rachel Meneguello e Maria Teresa Miceli Kerbauy, reúne trabalhos desenvolvidos no projeto temático “Organização da política representativa em São Paulo”, realizado com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). 

As quase 400 páginas ocupam-se dos estudos compreendidos entre os anos 1994 e 2016, acerca dos caminhos partidários do estado nos anos pós-redemocratização. Com uma abordagem predominantemente empírica, o livro é produto de ampla pesquisa de campo e de coleta de dados oficiais, através de entrevistas com filiados de partidos e vereadores das principais agremiações do estado. Embora os principais eixos do livro sejam os partidos políticos, as eleições e o poder legislativo, há também, entre os vários tópicos, o texto “Uma via de mão dupla: recrutamento partidário de deputados estaduais evangélicos em São Paulo”, escrito por Marcela Tanaka, a qual discorre a respeito da relação entre religião e política, com o objetivo de mostrar como os “políticos de Cristo” têm se inserido na cena brasileira. 

Rachel Meneguello, além de fazer parte do corpo docente do Departamento de Ciência Política (IFCH-Unicamp) e do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop-Unicamp), é editora científica da revista Opinião Pública. Meneguello tem como principais áreas de pesquisa partidos políticos e eleições, comportamento político e eleitoral e cultura política. 

Maria Teresa Miceli Kerbauy é socióloga pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara (FCLAr), mestre e doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); com pós-doutorado em Ciência Política pelo Instituto de Iberoamérica (Espanha), Kerbauy tem experiência na área de políticas públicas, governo local, gestão pública, comportamento eleitoral e partidos políticos.

Atuando na direção contrária do que boa parte da literatura defende sobre o sistema partidário brasileiro, Meneguello e Kerbauy buscam evidenciar os partidos políticos como instituições ativas no dia a dia, e não como “ficções legais”. E, conforme outros livros já mencionados, Política em São Paulo também pode ser lido em formato digital

8. Aculturações

Aculturações tem 248 páginas e foi publicado em 2017 pela Editora da Unicamp. Em relação ao conteúdo, segundo o autor Miguel Alvarado Borgoño, o conceito de cultura parece um “subterfúgio ritual” no contexto da formação social pós-ditadura no Chile, ensejando uma formação discursiva ambígua que impediu o desenvolvimento das ciências da cultura e propiciou um uso equivocado desse conceito. Assim, primou num amplo espectro de nossas ciências humanas um vazio, uma ausência, uma visão culposa que atualmente, já introjetada, se torna um peso, obrigando-nos a assumir novas categorias e a nos comprometermos com os processos históricos. Dessa forma, Borgoño deposita suas esperanças no recente movimento estudantil, com o sonho de que esse grupo venha com a coragem de falhar, ressignificar e recriar. 

Miguel Alvarado Borgoño é antropólogo pela Universidade do Chile, mestre em Ciências Sociais pela Universidade Gregoriana de Roma (Itália) e doutor pela Universidade de Göttingen (Alemanha), tendo realizado pós-doutorado em Estudos Transculturais pela Universidade de Frankfurt (Alemanha). 

Para aqueles que se interessam pela área de linguagens, Borgoño também organizou, com Ana Iris Díaz Martínez, o livro Raízes e interpretação: ensaios transdisciplinares sobre literatura e ciências humanas, publicado pela Editora da Unicamp em 2019. Essa obra disponibiliza um documento gratuito, com o texto de sua Apresentação, intitulado “Devaneio e recuo. Das ciências humanas e literaturas”, traduzido por Greciely Costa. 

9. Ancestrais e suas sombras

O livro Ancestrais e suas sombras foi publicado em 2016 pela Editora da Unicamp e ficou em 3º lugar no Prêmio Jabuti de 2016, na categoria “Ciências Humanas”. Como explicita o próprio subtítulo, Antonio Guerreiro apresenta ao leitor uma abordagem etnográfica sobre a cultura dos Kalapalo, comunidade indígena residente do Alto Xingu (MT). Ancestrais e suas sombras divulga o resultado dos meses de convívio do autor com os habitantes da aldeia Aiha, onde Guerreiro documentou procedimentos e rituais, com foco para o Quarup – rito mortuário feito em memória dos chefes indígenas e membros ilustres da tribo pós-falecimento. 

Antonio Guerreiro é mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), doutor em Antropologia Social pela Universidade de Brasília (UnB), e, desde 2013, professor do Departamento de Antropologia (IFCH-Unicamp). Desde 2005 desenvolve projetos de pesquisa, extensão e documentação referentes aos Kalapalo, falantes de uma variedade da língua karib. Guerreiro tem expertise na área de Etnologia Indígena, sobretudo nos temas política, parentesco, ritual e territorialidade.

No livro, o autor soube descrever fielmente a celebração Quarup, principalmente por ter aprendido o idioma karib, e pôde investigar a política subjacente à preparação e execução do ritual mortuário, transmitindo a noção indígena da liderança, que se distingue da visão que pessoas não indígenas têm. Assim, Ancestrais e suas sombras desempenha um papel valioso na desconstrução da visão equivocada sobre rituais dos povos ameríndios, revelando a dimensão política da cultura dos Kalapalo de forma única. 

Semelhante a outras obras supracitadas, conheça essa obra também em versão digital

10. Religiões e controvérsias públicas

O livro Religiões e controvérsias públicas foi publicado em 2015 pela Editora da Unicamp e organizado por Paula Montero. A obra trata das religiões no espaço público, em relação a suas atuações, alianças e influências e é fruto de um projeto apoiado pela Fapesp e realizado no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), entre 2011 e 2014. Nesse livro, o leitor encontrará temáticas diversas entre os capítulos que o compõem; por exemplo: “Política secular e intolerância religiosa na disputa eleitoral”, “Controvérsia sobre a Educação de Surdos no Plano Nacional de Educação”, “Igreja Universal e política: controvérsias em torno do secularismo” e “Homossexualidade de um militante cristão: identidades e práticas como objetos de reflexão política e teológica”. 

Os capítulos buscam compreender os poderes, os interesses, os discursos e as dimensões que estiveram em jogo em alguns eventos pontuais ocorridos no Brasil, como debates públicos, denúncias e decisões governamentais envolvendo entidades religiosas. Trata-se de um convite à reflexão sobre questões em voga, no debate contemporâneo sobre religiões no Brasil, em que o eixo utilizado pelos autores para discutir suas temáticas consiste na noção de controvérsia. Esse eixo possibilita contextualizar, problematizar e atualizar temas relevantes, como acusações de abuso espiritual, pastorado feminino, políticas públicas de patrimonialização, transplante de células-tronco, autenticidade, intolerância, entre outros. Esse livro apresenta olhares e perspectivas instigantes e qualificados, que apontam permanências, impactos e ressonâncias da religião no espaço público, caracterizado singularmente pela ideia fundante de diversidade.

Paula Montero é psicóloga e cientista social com formação na França; tem pós-doutorado em Antropologia pela USP. Em 2008 recebeu Comenda Nacional do Mérito Científico e, entre 2008 e 2015, foi presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Atualmente é professora da USP e pesquisadora do Cebrap. Tem experiência na área de Antropologia, com ênfase em antropologia urbana, atuando principalmente nos seguintes temas: cultura, antropologia, religiosidade, Igreja católica e religião.

11. Traficantes do simbólico 

Publicada em 2013 pela Editora da Unicamp, Traficantes do simbólico é uma historiografia que conta com ensaios, entrevistas e depoimentos feitos pela antropóloga e jornalista Mariza Corrêa, referente ao Projeto História da Antropologia no Brasil, ao qual a autora dedicou-se durante quase toda sua carreira. A obra ocupa-se do processo da constituição da Antropologia no Brasil, sobre os quase cem anos desse processo em análise feita por Corrêa, e inclui ensaios dispersos em revistas e livros de difícil acesso ou esgotados e também duas entrevistas inéditas, de Verena Stolcke e Ruth Cardoso, frutos da pesquisa que deu origem a essa edição.

Mariza Corrêa (1945-2016) foi antropóloga e diretora do IFCH (Unicamp) entre 1989 e 1993, tendo sido também professora do Departamento de Antropologia por 30 anos e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu, do qual foi uma das fundadoras. Foi presidente da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e, em sua extensa carreira, publicou diversos artigos sobre a história da Antropologia, questões de gênero e feminismo. 

12. O intelectual feiticeiro

O título desse livro faz referência ao apelido cunhado por Jorge Amado ao amigo Edison Carneiro, quando Jorge publicou, em uma revista literária da época, uma nota crítica sobre a obra do intelectual Religiões negras, intitulada “O jovem feiticeiro”. Em O intelectual feiticeiro, Gustavo Rossi procurou realizar uma análise histórica das práticas intelectuais, para além de uma biografia convencional de Carneiro. Dessa forma, seu acurado olhar analítico direcionou-se aos aspectos da prática e da produção intelectuais que dão conta do envolvimento do etnógrafo com o campo de estudos ao qual ele esteve mais sensivelmente ligado (o de estudos das relações raciais e das culturas de origem africana na sociedade brasileira) e que permitiram sua inserção no debate sobre a “questão negra” brasileira.

Gustavo Rossi é professor da Unicamp, onde também obteve os títulos de mestre e doutor em Antropologia Social. Além de O intelectual feiticeiro, é autor de As cores da revolução: a literatura de Jorge Amado nos anos 30 (2009). O livro de Rossi, publicado pela Editora da Unicamp, foi resultado da tese O intelectual feiticeiro: Edison Carneiro e o campo de estudos das relações raciais no Brasil, ganhadora do Prêmio Capes de Teses, como melhor tese de antropologia do Brasil defendida em 2011. Suas pesquisas em Antropologia são dedicadas, sobretudo, ao estudo da história intelectual, do pensamento social, da antropologia e das relações raciais no Brasil.

13. Dilemas na maçonaria contemporânea

Dilemas na maçonaria contemporânea foi publicado pela Editora da Unicamp em 2015 e escrito por Suely Kofes. “Qual o desafio (o bom e atual desafio) que a maçonaria oferece à antropologia?”, com essa instigante pergunta, afinada com a proposta de uma antropologia simétrica, ou ainda de uma antropologia reversa, Suely Kofes conduz os leitores pelos labirintos que envolvem sua pesquisa sobre um universo até então inexplorado pela antropologia brasileira: o da maçonaria contemporânea. Ao considerar a pesquisa antropológica como método e como experiência, Suely enfrenta o desafio de pensar as relações entre a etnografia (a pesquisa e a escrita antropológica), a alteridade (talvez “contra o método”, como ela interessantemente coloca) e a vida do pesquisador como acontecimento que informa, e compõe, sua experiência e sua narrativa. Esse livro é um presente que a autora nos concede, pela oportunidade de conhecer, por meio de sua escrita sensível e sofisticada, um mundo que valoriza a moralidade e o segredo – e seus dilemas.

Suely Kofes é licenciada em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e antropóloga, com mestrado em Antropologia Social pela Unicamp e pós-doutorado na Espanha, Inglaterra, França e nos Estados Unidos. Entre outras publicações, é autora de Mulher, mulheres Identidade, diferença e desigualdade na relação entre patroas e empregadas, também da Editora da Unicamp. 

14. Nações e diásporas

Contendo 296 páginas, o livro Nações e diásporas foi publicado em 2010 pela Editora da Unicamp e escrito por Bela Feldman-Bianco. Gilberto Velho, doutor em Antropologia, discorre sobre a importância dessa publicação:

Há vários momentos significativos nas relações entre Brasil e Portugal depois da Independência em 1822. O fenômeno da imigração portuguesa ainda é insuficientemente estudado e encontramos, entre os capítulos aqui apresentados, contribuições significativas que diminuem de modo significativo essa lacuna. […] A possibilidade de estudar diferentes categorias de brasileiros, desde profissionais liberais altamente qualificados até membros de camadas populares, em diferentes tipos de interação e inserção na sociedade portuguesa constitui-se num dos desafios enfrentados por esta obra.

Bela Feldman-Bianco tem doutorado em Antropologia pela Universidade de Columbia (EUA) e pós-doutorado em História pela Universidade de Yale (EUA). Recebeu, entre outras distinções, o Prêmio Zeferino Vaz de Excelência Acadêmica (IFCH-Unicamp, 2001), o Prêmio Roquete Pinto por suas contribuições à antropologia brasileira (ABA, 2014) e o Prêmio Anpocs de Excelência Acadêmica Gilberto Velho (2017). Atualmente, representa a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) no Conselho Nacional da Imigração (CNIg), é membro do Comitê Diretor do Conselho Mundial das Associações Antropológicas (WCAA) e da União Antropológica Mundial, além de fazer parte de conselhos editoriais de revistas nacionais e do exterior. 

Coleção Gêneros & Feminismos

Essa coleção é voltada à divulgação de obras importantes da história do feminismo e de estudos de gênero, com o objetivo de ser uma fonte de referência para os pesquisadores dessa área no Brasil. 

15. O gênero da dádiva

Em O gênero da dádiva, Marilyn Strathern divulga um estudo feito em 1988 sobre os povos das Terras Altas da Nova Guiné, na Melanésia. Para além de uma etnografia, Strathern retoma trabalhos anteriores sobre essa região e considera que as relações de gênero foram mal compreendidas, uma vez que as abordagens antropológicas ocidentais entendem o indivíduo como detentor de uma identidade única, o que se contrapõe à visão daquela sociedade. Nessa obra, a autora não apenas problematiza a visão dualista de gênero, como mostra a constituição da identidade melanésia contrária à antropologia etnocêntrica e suas concepções universais: os limites ocidentais entre privado e público, feminino e masculino não existem para os povos melanésios que assumem diferentes papéis, ocidentalmente considerados antagônicos.

A partir da etnografia no monte Hagen e de sua experiência como antropóloga feminista, Marilyn teceu reflexões originais sobre as relações de gênero, que resultaram na obra O gênero da dádiva, publicada originalmente no final da década de 1980 e que influenciou e transformou a disciplina antropológica, ganhando uma nova edição pela Editora da Unicamp em 2019.

Além de escrever artigos, livros e coletâneas sobre os mais variados e relevantes assuntos em diálogo com outros campos do conhecimento, como psicologia, biologia e direito –, Strathern envolveu-se em projetos legislativos, sendo, por exemplo, consultora do Departamento de Direito da Papua-Nova Guiné para a reforma do Código Penal entre 1973 e 1974. Em 1985 tornou-se docente da Universidade de Manchester (Inglaterra), onde atuou até 1993, quando assumiu a cátedra William Wyse Professor of Social Anthropology na Universidade de Cambridge, permanecendo nela até sua aposentadoria em 2008. Em 2001, recebeu o título de Dame (Dama) da Coroa britânica pelos serviços prestados à antropologia social.

16. A palavra mágica

A palavra mágica é resultado da dissertação de mestrado de Rosemary Lobert, defendida em 1979, na Unicamp. Lobert, que até então pesquisava sobre grupos indígenas, resolveu abandonar sua ideia inicial e acompanhar o Dzi Croquettes, que consistia num grupo de rapazes que apresentavam números de dança e teatro em um clube de teatro em Niterói (RJ), vestidos com roupas consideradas femininas. Os atores tinham como papel central a crítica às classificações da sociedade da época, especialmente no que dizia respeito aos papéis de gênero; assim, tratavam com ironia os papéis familiares, uma vez que representavam uma “família pirada e maravilhosa” no palco.

O livro é dividido em três partes: “O espetáculo”, “Vida e teatro” e “Os tietes”. Na primeira, há uma descrição profunda sobre uma das apresentações do grupo; a segunda trata da interconexão entre vida e teatro, em que a “vida real” dos atores é abordada; e, na última, é apresentado o contexto de surgimento da categoria classificatória que dá nome à seção, além dos significados (pejorativos e elogiosos) e da abordagem relacionada às implicações da “interferência” do público nos espetáculos e na vida dos artistas.

Segundo Lacerda (2011)

Lobert captura o contexto da época, marcado pela (re)pressão militar que foi também o contexto de surgimento de propostas culturais de Maria Alcina e do grupo Secos&Molhados, por exemplo. No exterior, Mick Jagger, David Bowie, Alice Cooper engrossavam a então denominada “cultura da androginia”. A pesquisa sobre os Dzi Croquettes, que em princípio tinha o objetivo de apresentar uma boa etnografia do grupo, ultrapassa os contornos do “espetáculo”, dos “artistas” e dos “tietes” e oferece muito mais ao leitor. Ao deixar explícita a forma como as questões sobre a sexualidade estavam latentes na sociedade brasileira naquele momento, o livro ajuda a compreender um pouco mais o processo de mudanças nas questões de sexo e gênero em nossa sociedade, além de apresentar o contexto político que, alguns anos mais tarde, culminaria na criação do Grupo Somos e no jornal Lampião da Esquina.

Lobert nasceu na Bélgica, formou-se em Arqueologia na Argentina e em Antropologia Social no Brasil. Há 25 anos criou, com Ricardo Rabello Caldas, o Atelier dos Anjos, um movimento de arte e escritura.

17. Couro imperial

Publicado originalmente em 1995, Couro imperial abrange o século entre a Grã-Bretanha vitoriana e a luta pelo poder na África do Sul, e trata da complexa relação entre raça e sexualidade, fetichismo e dinheiro, gênero e violência, domesticidade e mercado imperial, analisando a influência do gênero sobre o nacionalismo nas zonas do poder imperial e anti-imperial. Com o respaldo de teorias pós-coloniais, psicanalíticas e socialistas, Anne McClintock argumenta que as categorias de gênero, raça e classe não existem isoladamente, mas surgem em relação íntima entre si. 

O livro tem como base diversas formas culturais romances, propaganda, diários, poesia, história oral e o espetáculo mercantil de massas  e examina o imperialismo não só como uma poética da ambivalência, mas como uma política da violência. Rejeitando tradicionais oposições binárias entre eu-outro, homem-mulher, colonizador-colonizado, Anne McClintock invoca uma compreensão mais complexa e nuançada das categorias de poder e identidade sociais.

Anne McClintock é professora na Universidade de Wisconsin (EUA) e autora de monografias sobre Simone de Beauvoir e Olive Schreiner, tendo escrito extensamente sobre questões de raça, gênero e sexualidade, com publicações traduzidas em mais de dez línguas. 

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