Ana Alice Kohler
Desde seus primórdios, a humanidade sempre esteve em luta contra aquilo que parecia aproximá-la da morte: as doenças. Dessa forma, as diversas culturas humanas desenvolveram, através dos séculos, suas formas de lidar com as enfermidades que as acometiam. As estratégias de combate à moléstia, que variavam de rituais espirituais ao uso de plantas medicinais, evoluíram com o tempo, e o próprio conceito de saúde foi sendo transformado. Esse processo deu-se de tal forma, que no século XXI o termo “saúde pública” se tornou evidente em si mesmo. A ideia, entretanto, de um bem-estar coletivo como responsabilidade do Estado foi mais recente (e frágil).
A saúde pública universal e gratuita, por exemplo, tornou-se realidade no Brasil apenas nas últimas décadas do século passado, com a instituição do Sistema Único de Saúde (SUS). Outros sistemas ao redor do mundo, como o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, são administrados pelo Estado, mas não possuem cobertura total ou, por vezes, não são completamente gratuitos. Os serviços de saúde dos Estados Unidos, por exemplo, são todos privados, o que dificulta o acesso da população menos favorecida. Assim, apesar de compartilharem uma noção de saúde universal e igualitária, grande parte dos governos mundiais não a garantem.
O Brasil, por outro lado, é o único país que atende mais de 100 milhões de pessoas gratuitamente. Esse feito só é possível graças à criação do SUS, que se deu por meio do artigo 196 da Constituição Federal de 1988, o qual estabelece que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. Assim, o Sistema Único de Saúde, regulamentado dois anos mais tarde, em 1990, passou a vigorar como um modelo integrado de atendimento às demandas sanitárias da população brasileira.
São três os princípios que regem o funcionamento e as estratégias de operação do SUS: a universalidade, a equidade e a integralidade. Assim, o serviço não deve apenas ser gratuito, mas atingir a toda a população de forma a atender cada comunidade e indivíduo de acordo com as suas necessidades e especificidades. Também, os princípios do Sistema Único de Saúde ainda pressupõem a integração entre os serviços prestados e as políticas públicas que garantam o bem-estar da população, como a educação e a preservação ambiental.
A saúde pública brasileira ainda é regida por outras diretrizes, como a descentralização, o atendimento integral com foco na prevenção e a participação da comunidade. Dessa forma, cada esfera da organização pública, desde os municípios e os estados até a União, deve exercer seu papel específico na manutenção da qualidade de vida da população. Os serviços prestados também devem ser integrais, oferecendo às comunidades formas de prevenção, diagnóstico, tratamento e recuperação das mais variadas doenças. A população deve ainda ser parte integrante do sistema, como peça ativa na construção da saúde pública.
Apesar de ser exemplo para o restante do mundo, o sistema de saúde brasileiro, evidentemente, apresenta problemas. A maior parte dos desafios do SUS, entretanto, são relacionados à distribuição de verba e à desigualdade na oferta de serviços, o que acarreta em longas filas de espera, superlotação e atendimentos de baixa qualidade. Uma boa gestão dos recursos, portanto, talvez seja a melhor estratégia de enfrentamento desses obstáculos, assim como a formação de profissionais capacitados para garantir serviços completos.
O mercado de trabalho na área da saúde no Brasil, nesse sentido, é repleto de oportunidades de atuação especializadas. As formações que possibilitam o trabalho com a saúde são as mais variadas e incluem, além dos cursos de medicina e odontologia, as graduações em enfermagem, nutrição, biomedicina, farmácia, fisioterapia, entre outras. Cada uma dessas carreiras possui suas especificidades e pode oportunizar diferentes conquistas. Mas, de forma geral, a demanda por profissionais na área da saúde cresce muito no Brasil, seja para a atuação em hospitais públicos pelo SUS, em clínicas privadas ou no campo da pesquisa.
A medicina e a enfermagem são talvez as profissões mais conhecidas ligadas à área. Pensando nisso, a Editora da Unicamp recomenda oito livros que exploram o assunto e podem ser úteis para quem deseja conhecer mais sobre o tema. Todas as obras tratam de questões relacionadas à medicina e à enfermagem como práticas e áreas de estudo e estão disponíveis em nosso catálogo. Conheça-as!
Hipertensão pulmonar é resultado do concurso de livre-docência da autora, Mônica Corso Pereira, e trata da doença de forma histórica e revisional. O livro propõe uma abordagem que remonta aos primeiros relatos da condição, no início do século XX, e a evolução do conhecimento sobre o tema.
Mônica Corso Pereira é graduada e pós-graduada em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde se especializou em pneumologia, e é professora na Faculdade de Ciências Médicas. Foi presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia e é líder dos grupos de pesquisa Insuficiência Respiratória Crônica e Recovid: Rede de Pesquisa em Covid da Unicamp. Suas áreas de atuação são Insuficiência Respiratória Crônica, com linhas de pesquisa em hipertensão arterial pulmonar, bronquiectasias, DPOC e Covid-19.
Hipertensão pulmonar: caminhos da investigação científica aborda os diferentes protocolos adotados pela comunidade internacional acerca da doença ao longo dos anos. Além disso, são tematizados, de forma completa e inovadora, os impactos da condição na vida das pessoas afetadas, assim como “o trato da prática clínica e terapêutica multidisciplinar, buscando a compreensão da heterogeneidade clínica e funcional dos pacientes”. A obra oferece um estudo integral muito proveitoso para quem se interessa pelo assunto.
A epopeia do SUS: uma conquista civilizatória, organizada por Carmino Antonio de Souza, Lenir Santos, José Enio Servilha Duarte e José Pedro Soares Martins, trata da trajetória de criação do Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil. A obra apresenta relatos importantes de figuras centrais na luta pela saúde pública no país, desde seus primórdios até os desafios trazidos pela pandemia de covid-19.
Carmino Antonio de Souza é formado em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde é professor titular de hematologia e hemoterapia. Lenir Santos foi secretária de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde e é professora convidada do Departamento de Saúde Coletiva da Unicamp. José Enio Servilha Duarte é formado em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP), foi secretário adjunto e chefe de gabinete da Secretaria de Estado da Saúde do Estado de São Paulo e secretário municipal de Saúde de Marília. José Pedro Soares Martins é jornalista, com passagem pelos jornais Correio Popular, Terramérica e O Diário.
A obra é, além de um relato narrativo dos acontecimentos que possibilitaram a criação do Sistema Único de Saúde, uma homenagem àqueles que protagonizaram essa batalha. A epopeia do SUS conta a história de uma conquista não apenas para a área da saúde, mas para a democracia e a equidade no Brasil.
Visões multidisciplinares da ayahuasca foi organizado pela equipe do Icaro, Interdisciplinary Cooperation for Ayahuasca Research and Outreach (Cooperação Interdisciplinar para Pesquisa e Extensão da Ayahuasca), grupo nascido na Unicamp. O livro trata do alucinógeno a partir de diferentes abordagens, expondo ao leitor aspectos que rodeiam o tema e que podem ser estudados a partir de várias áreas, como a comunicação, a psicanálise e a neurociência.
A obra foi organizada por Lucas Oliveira Maia, bacharel em Ciências Biológicas, mestre em Psicofarmacologia pela Unifesp e doutor em Saúde Mental pela Unicamp; Camila Dias, formada em Ciências Biológicas e Pedagogia e mestre em Ciências Farmacêuticas pela Unicamp; Luis Felipe Valêncio, graduado em Ciências Biológicas, mestre em Psicologia e Saúde pela Famerp e doutorando em Saúde Coletiva pela Unicamp; e Luís Fernando Tófoli, médico psiquiatra, doutor em Psiquiatria pela USP e professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.
São três as principais abordagens do livro: “a relação da planta com a natureza e as ciências humanas, suas implicações na saúde mental e as investigações em pesquisas experimentais”. Assim, Visões multidisciplinares da ayahuasca oferece uma perspectiva ampla acerca dessa bebida tradicional e de seu papel na modernidade.
Escrito por Gaston Godin, Os comportamentos na área da saúde descreve as principais teorias científicas acerca dos comportamentos humanos. Nesse sentido, a perspectiva adotada pelo autor evidencia o aspecto social dos comportamentos ligados à saúde e destaca os aspectos que podem influenciar na sua adoção ou não pelo indivíduo.
Gaston Godin é especialista em saúde coletiva, com ênfase no campo da psicologia e dos comportamentos em saúde. É referência internacional em seu campo de estudo e suas pesquisas abordam temas variados, como a atividade física, a dieta, o uso de álcool e o tabagismo. Godin é formado em Educação Física e tem doutorado em Saúde Pública. Recebeu, entre outros, os prêmios Fellow da European Health Psychology Society (2012) e da International Society for Behavioral Nutrition and Physical Activity (2009).
O livro trata dos comportamentos relacionados à saúde de forma clara e didática, apresentando exemplos e recomendando leituras complementares que podem auxiliar nos estudos do tema. Além disso, são exploradas as relações complexas estabelecidas entre os diferentes comportamentos humanos, em uma escrita profunda sobre o tema.
Epidemiologia e clínica da coinfecção trata da associação da infecção pelo Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas, com a ocasionada pelo HIV/aids. O livro é o primeiro a tratar do tema dessa forma e apresenta aspectos essenciais para a compreensão do fenômeno, como a epidemiologia das duas infecções, as propriedades anatomopatológicas, clínicas e diagnósticas e as peculiaridades da coinfecção.
Eros Antonio de Almeida, autor do livro, é médico e especialista em Clínica Médica e Cardiologia pela Unicamp, onde atua como professor adjunto. A doença de Chagas é sua principal linha de pesquisa clínica, exercida no Grupo de Estudos em Doença de Chagas (GEDoCh), do Hospital de Clínicas da Unicamp.
A obra é extremamente relevante para os estudiosos de ambas as infecções, que são grande preocupação dos sistemas de saúde mundiais até mesmo em localidades em que a tripanossomíase não é endêmica. O estudo da coinfecção ocasionada pelo Trypanosoma cruzi e o vírus do HIV/aids, portanto, é de extrema relevância para a área.
Enfermeiros: uma gestão profissional e pessoal, organizado por Kátia Stancato e Manuela Frederico Ferreira, é direcionado aos profissionais e estudantes da área. O livro explora estudos acerca da organização e do desenvolvimento de enfermeiros e é separado em três partes: a vida profissional e privada dos enfermeiros, a gestão do conhecimento em saúde e a segurança do doente nas instituições de saúde.
Kátia Stancato é graduada em Enfermagem pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, com mestrado em Enfermagem pelas Faculdades Integradas São Camilo e doutorado em Enfermagem pela Unicamp. Já Manuela Frederico Ferreira é licenciada em Enfermagem, pós-graduada em Biomedicina, mestre em Gestão e Economia da Saúde e pós-doutora em Ciências Empresariais.
Com Enfermeiros: uma gestão profissional e pessoal, o leitor pode se informar acerca do “estatuto de algumas das principais questões que permeiam, hoje, a área de enfermagem”.
A obra, das autoras Wilma Aparecida Nunes e Maria Itayra Padilha, busca relatar e preservar a história do Departamento de Enfermagem do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp. Assim, essa obra apresenta a trajetória singular que iniciou na Santa Casa da Misericórdia de Campinas, em 1972, e continua hoje no HC, centro de referência em diversas especialidades médicas.
Wilma Aparecida Nunes é enfermeira, doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo e pós-doutora pela Universidade Federal de Santa Catarina. Já Maria Itayra Padilha, também enfermeira, é doutora pela Escola de Enfermagem Anna Nery e pós-doutora pela Lawrence Bloomberg Faculty of Nursing da Universidade de Toronto.
A história do Departamento de Enfermagem do Hospital de Clínicas da Unicamp é uma obra repleta de fatos interessantes acerca da jornada do complexo hospitalar da Universidade. Além disso, apresenta os desafios que tiveram de ser enfrentados e as conquistas alcançadas por um dos “sustentáculos da missão institucional de ser um hospital de referência e excelência”.
Desafios da avaliação de programas e serviços em saúde, organizado por Rosana Onocko Campos e Juarez Pereira Furtado, apresenta uma abordagem inovadora e criativa acerca do tema. Para os organizadores, este é o objetivo da obra: “buscar nas fronteiras e no emergente soluções para os dilemas centrais da avaliação de programas e serviços de saúde”.
Rosana Onocko Campos tem mestrado e doutorado em Saúde Coletiva pela Unicamp, já foi coordenadora do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas, professora convidada no Departamento de Psiquiatria da Universidade de Yale e assessora da Política Nacional de Humanização e da Coordenação Nacional de Saúde Mental. Juarez Pereira Furtado é doutor em Saúde Coletiva pela Unicamp e tem três pós-doutorados: Avaliação de Programas e Serviços de Saúde Mental (Saúde Coletiva-Unicamp), Sociogênese da Avaliação em Saúde no Brasil (ISC-UFBA) e Encontro de Saberes e Saúde Global (UnB).
No livro, os organizadores tratam da complexidade da análise de programas e serviços e do refinamento metodológico necessário para, “de fato, ver em amplitude e atribuir valor ao que foi visto”. Desafios da avaliação de programas e serviços em saúde é uma obra importante para quem deseja aprofundar-se no assunto a partir de uma perspectiva inovadora.
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As obras apresentadas exploram diferentes aspectos da área da Saúde e podem ser úteis tanto para estudantes e profissionais da área quanto para pessoas leigas interessadas no assunto.
A Editora da Unicamp possui também, em seu catálogo, a obra Introdução à bioinformática, que pertence às áreas de Biologia e Genética, sendo extremamente relevante no contexto científico atual. Confira nosso site e saiba mais!