Por Rafaela Neres Poiani
Todos os anos, o Vestibular da Unicamp atrai milhares de candidatos e sua fase mais comentada é a segunda, na qual consta a prova de redação. Para essa etapa, muitos cursinhos têm por objetivo preparar os vestibulandos para as provas de redação por meio de estruturas pré-prontas ou “macetes” aplicados em anos anteriores. Entretanto, Cynthia Neves e Daniela Birman, professoras do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL-Unicamp), na nova edição do livro Redações 2024: Vestibular Unicamp-Vestibular Indígena, asseguram que não há fórmulas, modelos de textos pré-fabricados. Segundo elas, a Comvest avalia a capacidade do aluno de fazer um uso crítico da coletânea de excertos, a fim de realizar um projeto de texto eficiente, a partir da singularidade de cada indivíduo.
Partindo desse princípio, José Alves de Freitas Neto e Márcia Mendonça, diretor e coordenadora da Comvest, respectivamente, na Apresentação reiteram o caráter substancial da prova da Unicamp:
Neste ano, queremos ressaltar um aspecto extremamente importante e que impacta no resultado da redação: a leitura exigida dos/as candidatos/as, a partir dos excertos apresentados na prova. Lembremos: a prova de redação da Unicamp é, antes de mais nada, uma prova de leitura. Nas páginas seguintes, há bons textos que não devem ser lidos como modelos ou exemplos a serem seguidos fielmente. Antes, devem ser compreendidos como uma prática de leitura e escrita de jovens que cumpriram as exigências básicas solicitadas.
A Série Redações do Vestibular Unicamp, fruto da parceria entre a Editora da Unicamp e a Comvest (Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp), recebe, anualmente, uma nova publicação que reúne textos produzidos por candidatos que cumpriram com êxito as práticas de leitura e escrita na redação.
A edição de 2024 enfatiza a importância da leitura na produção de projetos de texto eficientes. De acordo com as linguistas Rojo e Cordeiro, “as práticas escolares brasileiras tendem a formar leitores, ao final do Ensino Médio, com apenas as capacidades mais básicas de leitura, ligadas à extração simples de informações de textos relativamente simples”. Contrária a essa prática de letramento, a Comvest procura um perfil de candidato que saiba fazer uso crítico da coletânea de textos apresentada na prova e afirma que simples cópias não fazem parte das expectativas da banca. Estando ciente do perfil diverso dos/as vestibulandos/as, a Comissão oferece os excertos como maneira de democratizar a prova. Logo, a formação do sujeito leitor impacta diretamente sua escrita, uma vez que as duas práticas são complementares.
Redações 2024: Vestibular Unicamp-Vestibular Indígena – que em sua edição anterior trouxe pela primeira vez as redações dos candidatos indígenas – é dividido em duas partes: a primeira, referente ao Vestibular Unicamp, e a segunda, destinada ao Vestibular Indígena. A obra conta com 36 redações de vestibulandos de vários cursos. Nela, como ocorre em outras obras da Série, o leitor encontrará as propostas de redação, as expectativas da banca, além da Apresentação e das duas introduções referentes aos dois vestibulares.
A Introdução da parte destinada ao Vestibular Unicamp, assinada por Cynthia Agra de Brito Neves e Daniela Birman, tem como tema este ano “Dignidade da empregada doméstica no Brasil e acolhimento aos refugiados no mundo – Direitos trabalhistas e direitos humanos em questão”, na qual as docentes elaboram uma análise do emprego que os candidatos fizeram da coletânea, em que mobilizaram exitosamente os excertos em prol de um projeto de texto eficiente.
Já, na Introdução da parte do Vestibular Indígena, as professoras do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL-Unicamp), Cynthia Neves e Luciana Amgarten Quitzau, tratam do tema “Letramentos escolares e regulamentação das redes sociais; artigo de opinião e postagem – Dois temas em dois gêneros discursivos”, partindo do mesmo princípio analítico proposto na Introdução anterior: esmiuçar o caminho percorrido pelos candidatos indígenas em suas redações, a partir de exemplos que ilustram o trabalho eficiente da leitura de textos.
Como de costume, em relação ao vestibular tradicional, foram disponibilizadas duas propostas de redações: a primeira consistia em uma carta-denúncia, a respeito dos direitos trabalhistas/humanos das empregadas domésticas. Nesse primeiro texto, era preciso assumir a máscara discursiva de um estudante que testemunhou uma ocorrência de violação dos direitos trabalhistas/humanos, durante estudos na casa de um amigo, e decidiu denunciar ao Ministério Público a situação vivida pela empregada. Era esperado pela banca que o texto evidenciasse uma compreensão da escravidão contemporânea no Brasil, como herança colonialista e patriarcal sustentada pelas classes média e alta, que, com o intuito de gozar de seus privilégios, mantêm a estrutura “casa-grande e senzala”, tendo em mente que os casos de trabalhos análogos à escravidão sempre existiram, mas atualmente têm recebido mais denúncias.
O segundo tema foi sobre o acolhimento aos refugiados no Brasil, através do gênero discurso-resposta. O escrevente deveria assumir a posição de um estudante de uma escola participante do Monuem (Modelo de Simulação da ONU para o Ensino Médio), em que ele deveria rebater a posição política da delegação da Hungria, que havia se manifestado contrária às práticas de acolhimento a refugiados. Em seu texto, caberia ao optante por essa proposta rebater a posição xenofóbica e eurocêntrica da Hungria e defender o acolhimento aos refugiados como obrigação humanitária e civil, refutando um posicionamento político para defender outro: xenofilia, alteridade e empatia.
Para o Vestibular Indígena, a primeira proposta foi um artigo de opinião, que previa a argumentação a favor do estudo da língua portuguesa pelos povos originários, como ferramenta importante para enfrentar os desafios na universidade. A segunda proposta solicitava que o candidato escrevesse, sob a máscara discursiva de um jovem indígena influencer, um post em uma rede social, discutindo o papel das redes sociais na disseminação de conhecimentos – principalmente os das culturas dos povos originários – e a necessidade de regulamentação, para evitar a propagação de discursos de ódio contra grupos tradicionalmente excluídos. Quanto à coletânea – que tem um papel fundamental na escrita das redações –, contou com uma variedade de gêneros à disposição do candidato, entre eles charge, excertos de lei, reportagem etc.
Redações 2024: Vestibular Unicamp-Vestibular Indígena configura-se como uma importante obra àqueles que desejam entender o cerne da Comvest no que tange à redação. Além de servir como uma ferramenta fundamental a todos aqueles que pretendem prestar o Vestibular Unicamp, o livro pode ser utilizado nas salas de aula, como modelo de um trabalho eficiente que aborda com êxito a integração entre as práticas de leitura e escrita.
Para saber mais sobre o livro, visite o nosso site!

Redações 2024: Vestibular Unicamp-Vestibular Indígena
Organização: Comvest
ISBN: 9788526816367
Edição: 1ª
Ano: 2024
Páginas: 160
Dimensões: 14 x 21 cm