A convergência entre ciência, tecnologia e arte em uma única obra

Por Maria Vitória Gomes Cardoso

Em março de 2024, uma matéria publicada no Jornal da USP apontou o aprendizado de instrumentos musicais como um beneficiador para o desenvolvimento das atividades cerebrais. No texto, o professor do Instituto de Biociências da USP, André Frazão Helene, explicou que “a prática de um instrumento musical estimula as áreas cerebrais responsáveis pelas ações motoras, como os córtex primário e secundário motor, e também as responsáveis pela automatização de movimentos, como os gânglios da base”. Pensando nessa conexão entre mente e música, e relacionando também com a expansão das máquinas na contemporaneidade, José Eduardo Fornari Novo Junior publicou sua mais nova obra lançada pela Editora da Unicamp, Mentes, máquinas e música

No livro, o autor relacionou essas três áreas, destacadas no título, a partir de sua vasta e diversa formação acadêmica. José Eduardo Fornari Novo Junior graduou-se em Engenharia Elétrica e em Música Popular, ambas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde obteve o doutorado pela Faculdade de Engenharia Elétrica (FEE). Ainda, foi pesquisador visitante no Centro Computacional de Pesquisa em Música e Acústica da Universidade de Stanford, Califórnia, EUA, e concluiu dois pós-doutorados: um na área de computação musical e outro em cognição musical, na Universidade de Jyväskylä, Finlândia. 

Mentes, máquinas e música é uma obra interdisciplinar que tem como objetivo tratar a intersecção entre a música, as suas tecnologias e os seus processos cognitivos e emotivos. Além do Prefácio e da Bibliografia, o livro é dividido em 33 capítulos que cobrem uma ampla gama de tópicos, desde a mente humana e as ondas acústicas até os avanços significativos nas capacidades dos algoritmos de inteligência artificial. Conectando ciências, tecnologias e artes, o autor apresenta uma didática que explica as funções da mente ao entrar em contato com uma manifestação musical. Além disso, ele realiza uma excelente análise sobre o desenvolvimento da tecnologia e do cérebro humano ao longo do tempo, destacando como essas evoluções interferem na nossa relação com as artes, mais especificamente a arte musical.

Diversos estudos afirmam que escutar música ativa simultaneamente muitas áreas cerebrais, como aquelas relacionadas aos processamentos sonoro, emocional, motor, analítico e criativo, entre outras, proporcionando ao ouvinte tanto o engajamento pela satisfação (ao identificar aquilo que lhe é familiar, em termos de gênero, estilo, timbrístico etc.), como a ocorrência da “satisfação de decifrar” (the joy of debugging), conforme proposta do filósofo evolutivo Daniel Dennett.

O aspecto inicial abordado no livro é a mente humana, que sempre foi objeto de interesse de diversos campos do conhecimento, mas que ainda hoje não há uma definição consensual sobre ela. Ao desenvolver o assunto, o autor faz ainda uma excelente análise sobre os dois tipos de memórias existentes, a de longo e a de curto prazo, explicando que a de longo prazo trata do registro consolidado de informação, enquanto a de curto prazo se refere à competência mental de reter temporariamente informações identificadas como parte de um mesmo contexto. A partir disso, ele explica também o processo de repetição atentiva que os músicos utilizam para memorizar inteiramente peças musicais extensas.

Na parte final do livro, Fornari Novo Junior apresenta uma discussão interessante sobre os instrumentos musicais enquanto artefatos que permitem que o artista vá além dos limites da sua competência física, seja muscular ou sensorial. Segundo ele, alguns sons, por exemplo, podem ser emitidos pelo próprio corpo humano, como a voz, mas com os instrumentos há ampliação e extensão da capacidade humana de gerar e controlar a produção de ondas acústicas dentro da percepção sonora. Além disso, é enriquecedora a análise feita sobre o surgimento dos instrumentos musicais, que, segundo o livro, acompanhou o desenvolvimento tecnológico de cada sociedade, dependendo da disponibilidade de materiais na região, da confecção, dos rituais, das colheitas, das batalhas e das cerimônias da comunidade.

Esse livro é extremamente didático, interessante e aprofundado, porque, além de trazer aspectos cativantes sobre a área de música, de uma perspectiva artística e técnica, é repleto de informações sobre como a mente humana funciona e sobre as tecnologias que vêm se desenvolvendo na contemporaneidade. Um exemplo disso, é a análise do surgimento dos primeiros instrumentos musicais digitais, ocorrido na década de 1980, e da evolução deles até hoje, com modelos virtuais de processamento digital que são amplamente utilizados no controle sonoro e na geração sonora.

Conclui-se, portanto, que esse livro é especialmente recomendado para pesquisadores da área da música que buscam uma abordagem inovadora, complexa e didática. Trata-se de uma obra excelente sobre uma das artes mais antigas, democráticas e sensíveis da nossa sociedade: a música.

Para saber mais sobre o livro, visite o nosso site!

Mentes, máquinas e música

Autor: José Eduardo Fornari Novo Junior

ISBN: 9788526816305

Edição: 1a

Ano: 2024

Páginas: 184

Dimensões: 14 x 21 cm

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