8 livros de psicanálise publicados pela Editora da Unicamp para quem deseja estudar o assunto

Por Maria Vitória Gomes Cardoso

A psicanálise pertence a um ramo clínico teórico que se ocupa em explicar o funcionamento da mente humana. A teoria foi fundada pelo neurologista austríaco Sigmund Freud (1856-1939), conhecido até hoje como o “pai da psicanálise”.

No Brasil, segundo uma pesquisa feita pelo psicanalista Sebastião Abrão Salim, a primeira pessoa a citar, em conferência, artigos científicos de Freud foi Juliano Moreira, professor catedrático na Faculdade de Medicina de Salvador. Outros três estudos que marcaram a estreia da psicanálise no Brasil foram os de Genserico de Souza Pinto, em 1914, o de Franco da Rocha, em 1920, e o de João César de Castro, em 1924. Suas teses intitulam-se respectivamente “Psicanálise – A sexualidade nas neuroses”, “A doutrina pansexualista de Freud” e “Concepção freudiana das psiconeuroses” e foram importantes para o desenvolvimento da área no país, apesar da pequena repercussão no contexto cultural e científico da época. 

Além da área de psicologia, que se relaciona com a psicanálise por meio da clínica, da neuropsicologia, do desenvolvimento organizacional e do trabalho, da psicopedagogia e do atendimento hospitalar, existem diversos outros campos de estudo que podem se relacionar com a psicanálise, principalmente de humanas e de linguagens, como filosofia, sociologia, letras e outras.

Justamente por ser uma área de tamanha diversidade e relevância, a Editora da Unicamp decidiu trazer, neste texto, os oito livros de psicanálise publicados por ela, que podem ser importantes para quem deseja estudar esse assunto tão interessante. Conheça-os!

Coleção Letras da Psicanálise

A coleção pretende não apenas tornar públicos os títulos que se consagraram como clássicos na área, como, principalmente, estender o seu domínio para temas atuais dentro do campo das relações entre os estudos sobre a linguagem (em seus diversos desdobramentos) e a psicanálise. Assim, Letras da Psicanálise pretende dar prioridade a autores brasileiros que, atuando no campo de conexões da psicanálise com a literatura, buscam refletir e fazer avançar as pesquisas e os estudos dedicados a temas de interesse contemporâneo. Contudo, tal prioridade não descarta a possibilidade de eventuais propostas de textos de autores estrangeiros que atendam aos objetivos da coleção, especialmente no que se refere aos temas atuais de pesquisa. Esse é o caso de O escândalo do corpo falante, livro clássico de extrema importância para a área.

  1. O escândalo do corpo falante

Escrito por Shoshana Felman, crítica literária e professora de literatura comparada da Universidade Emory, nos Estados Unidos, O escândalo do corpo falante aborda o conceito de “corpo falante”, apresentado e desenvolvido lado a lado com a teoria literária. A obra foi publicada na França e nos Estados Unidos, na década de 1980, e ganhou em 2022 uma edição brasileira lançada pela Editora da Unicamp, com tradução de João Rocha e Lucia Castello Branco. 

No livro, a autora propõe um encontro entre Don Juan de Molière e J. L. Austin – uma figura ficcional do teatro clássico francês e um filósofo do século XX –, e explora a relação entre a fala e o erótico, usando um texto literário como base para uma relação inovadora entre a filosofia, a linguística e a teoria psicanalítica lacaniana. 

Coleção Psicanálise e seus Litorais

O objetivo da coleção é divulgar textos fundamentais da psicanálise dentro da perspectiva de suas relações intrínsecas e complexas com os litorais que a demarcam: a filosofia, a ciência e a arte. Os títulos são de autores estrangeiros que se tornaram clássicos, como os de Guy Le Gaufey, Jean Allouch e Jean-Claude Milner, que serão apresentados a seguir.

  1. A incompletude do simbólico

A incompletude do simbólico explora os campos da filosofia da lógica e da psicanálise para refletir justamente sobre o problema da incompletude do simbólico, ou seja, o fato de que o simbólico não é capaz de cifrar completamente o mundo que nos rodeia. A obra foi escrita por Guy Le Gaufey, psicanalista, cofundador da revista Littoral e membro da École Lacanienne de Psychanalyse. 

O título, publicado pela primeira vez em português pela Editora da Unicamp em 2018, com a tradução de Paulo Sérgio de Souza Jr., é importante pois reúne um aparato teórico robusto em torno dessa questão da incompletude, trazendo uma série de conteúdos que são muito mobilizados sobretudo pelos lacanianos, mas quase sempre de forma difusa. 

  1. A psicanálise é um exercício espiritual?

A psicanálise é um exercício espiritual?, publicado em 2014 e escrito por Jean Allouch, psicólogo, filósofo e psicanalista francês, promove uma discussão fundamental, com o intuito de recolocar em cena as relações entre psicanálise e espiritualidade, a partir das elaborações de Michel Foucault, Sigmund Freud e Jacques Lacan. Retraçando a questão do cuidado de si e a noção de espiritualidade gregas, o autor perpassa rigorosa e criticamente as teorizações foucaultianas e produz, com isso, um conjunto de formulações ricamente construídas para o campo da psicanálise, e não menos críticas a ele – cujo generoso efeito é o de reavivar uma sagaz provocação feita por Foucault e muitas vezes mitigada pelos psicanalistas, no que se refere a uma genealogia da disciplina que praticam.

  1. O amor da língua

O amor da língua, obra publicada em 2012, foi escrita pelo consagrado linguista francês Jean-Claude Milner. Nela, são apresentados os efeitos da incursão do autor no meio psicanalítico francês, especialmente do contato que manteve com Jacques Lacan. A obra abre caminhos largos para a compreensão dos assuntos complexos que aborda, e os estudos de Milner enriquecem o debate a respeito da influência do inconsciente na língua, iluminando o protagonismo do desejo na linguagem. 

Jean-Claude Milner é linguista, filósofo e ensaísta. Suas áreas de atuação são a linguística e a psicanálise. A tradução da obra foi feita por Paulo Sérgio de Souza Jr.

Outros títulos publicados pela Editora da Unicamp

  1. Angústia e sociedade na obra de Sigmund Freud

Em Angústia e sociedade na obra de Sigmund Freud, Gustavo Adolfo Ramos faz o leitor questionar-se sobre o que é a angústia e como pode o analista dar-lhe um estatuto conceitual. O livro, publicado em 2003, persegue o conceito de angústia na obra de Freud e sua relação com a constituição da vida em sociedade. 

Na primeira parte, pergunta-se sobretudo do que é (e o que é) a angústia nesse percurso. Na segunda parte, busca saber se as modificações na teoria da angústia levaram a modificações nas teorias culturais e sociais, e vice-versa. 

Gustavo Adolfo Ramos é graduado pelo Curso de Formação de Psicólogos da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), tem mestrado em Psicologia (Psicologia Social) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (USP) e um pós-doutorado em Psicanálise na Universidade de Paris VII.

  1. Filogênese na metapsicologia freudiana

Filogênese na metapsicologia freudiana, de 2016, é uma obra de Fernanda Silveira Corrêa, doutora e mestre em Filosofia pela Unicamp e graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Seu mestrado foi sobre o Projeto de uma psicologia de Freud e o doutorado sobre as hipóteses filogenéticas de Freud. 

Para Fernando Hartmann, “o importante desta obra está em afirmar que a perda da função sexual biológica e a necessidade de recuperá-la constituíram um espaço de criação, ou seja, que a perversão é a origem da sublimação. Também, ao conceber a culpa como um retorno do ódio contra a própria pessoa, e não a sensação de ter cometido um crime, ela se encaixa nos estudos metapsicológicos de Freud. A sexualidade humana, principalmente no que diz respeito às perversões, é escrita de uma forma inovadora e muito pertinente, contribuindo para o atual debate, seja na Europa ou América do Sul, sobre a homossexualidade ou as diferentes formas de sexualidade humana”.

  1. Histeria e psicanálise depois de Freud

Do mesmo autor de Angústia e sociedade na obra de Sigmund Freud, o livro Histeria e psicanálise depois de Freud foi publicado cinco anos mais tarde, em 2008. Esse livro permite-nos conhecer não somente outros estudos sobre a histeria, além do famoso Estudos sobre a histeria de Freud, mas também propõe uma teoria para a clínica. Além disso, o autor também apresenta a ideia de um luto para a histeria. 

Atualmente, Gustavo Adolfo Ramos é professor associado da Universidade Estadual de Maringá. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em psicanálise, atuando principalmente nos seguintes temas: psicanálise, teoria psicanalítica e psicopatologia psicanalítica.

  1. Obsessão e psicanálise depois de Freud

O último livro, Obsessão e psicanálise depois de Freud, também de Gustavo Adolfo Ramos, foi publicado em 2012 e é fruto de uma cuidadosa revisão e análise do pensamento psicanalítico sobre a neurose obsessiva “depois” de Freud. 

A obra mostra que há na neurose obsessiva um núcleo de loucura muito proeminente. Loucura aqui tem o sentido de falsificação violenta da realidade, de tentativa de tradução violenta, como uma identificação projetiva, que busca pôr sentido onde não há, pois ali não houve metabolização.

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Os livros apresentados neste texto podem ser uma ótima recomendação para aqueles que têm a psicanálise como objeto de estudo. Além disso, a Editora da Unicamp também possui em seu catálogo algumas obras da área de divulgação científica que trazem estudos interessantes para os amantes das ciências no geral. Acesse o site da Editora da Unicamp e conheça os títulos.

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