Por Ana Carolina Pereira

A matemática é uma das ciências mais antigas e mais importantes para o desenvolvimento das sociedades humanas. A partir dela, diversos outros conhecimentos puderam ser desenvolvidos, até mesmo a arte, a mídia e a comunicação. Segundo Lucia Santaella, “as ciências matemáticas puras ou aplicadas estão hoje onipresentes em todas as esferas das atividades humanas, sem que sejam imediatamente visíveis”. Um exemplo disso é que, atualmente, para muitas pessoas, não é possível imaginar um mundo sem tecnologia e sem todas as ferramentas por ela propiciadas, e a matemática é uma das grandes responsáveis por permitir essa revolução.

Sabendo da importância da matemática para a área das artes e afins, a Editora da Unicamp publicou a obra paradidática Artes, matemática, pensamento computacional e as mídias, escrita pelos professores Hermes Renato Hildebrand e José Armando Valente. Hildebrand é livre-docente pela Unicamp, onde atua como professor. Suas áreas de interesse são Matemática, Semiótica, Educação e Artes, com foco em tecnologias. Valente é professor titular aposentado da Faculdade de Multimeios, Mídias e Comunicação da Unicamp e pesquisador colaborador do Núcleo de Informática Aplicada à Educação (Nied/Unicamp). 

Artes, matemática, pensamento computacional e as mídias é um livro paradidático elaborado para ser usado na disciplina “Introdução ao pensamento computacional”, ministrada no curso de Midialogia, do Departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação (DMM), do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. O objetivo dessa disciplina é “observar, compreender e analisar os modelos e padrões de representação dos espaços topológicos matemáticos nos vários momentos históricos de nossa cultura, bem como procurar recriar alguns desses modelos usando as tecnologias digitais e as mídias”.

A matemática está presente em todas as esferas da humanidade e, segundo os autores, ela evolui em associação “às formas e aos meios de comunicação e, consequentemente, ao desenvolvimento das linguagens estabelecidas por esses meios”. Assim, a disciplina utiliza a linguagem de programação gráfica de código aberto Processing para criar objetos de arte a partir da combinação de conceitos computacionais e matemáticos. Por meio da representação formal de conceitos matemáticos, o aluno é capaz de gerar produções artísticas e midiáticas, como, por exemplo, desenhos estáticos, animação, processamento de imagem e som, e atividades de robótica.

Portanto, não se trata de um livro sobre artes, nem mesmo sobre matemática ou programação. O intuito é entender como as artes e as matemáticas estão inter-relacionadas, como as artes serviram para representar conceitos matemáticos e como a matemática permitiu avanços nas artes, e, com base nessa compreensão, explorar os recursos das tecnologias digitais e das mídias como novos meios para a criação de padrões de representação da natureza e da cultura.

Os professores apontam que a disciplina “Introdução ao pensamento computacional” foi dividida em dois momentos: teoria e prática. Na parte teórica, foi exposto aos alunos modelos conceituais matemáticos e suas imagens como forma de “mostrar a matemática como uma linguagem de produção de conhecimento”. Na parte prática, foi apresentada a linguagem de programação Processing e, a partir dela, os alunos desenvolveram criações artísticas ou midiáticas com o auxílio de tecnologias emergentes. 

A obra Artes, matemática, pensamento computacional e as mídias é composta, além da Apresentação e Introdução, por sete capítulos divididos em subcapítulos e, ao final de cada um, há sugestões de atividades a serem desenvolvidas e de leituras para aprofundar o tema que foi discutido. Hildebrand e Valente pontuam que a parte teórica do livro busca mostrar a matemática como “um conhecimento que pode ser adquirido por qualquer pessoa” e desfazer o mito de ela ser uma ciência difícil de se entender. Além disso, a teoria é acompanhada por desenhos, imagens, gráficos, diagramas e esquemas para ilustrar como a matemática tem muitos pontos similares a outras ciências. 

Com as atividades no final de cada capítulo, o livro combina teoria e prática, fornecendo uma formação mais completa para o aluno. Dessa forma, os estudantes veem como os conceitos teóricos funcionam na prática e como aplicá-los, adquirindo conhecimentos tanto sobre arte e mídias quanto sobre matemática e programação. Nesse contexto, os autores pontuam a importância de não seguir o livro linearmente, vendo um capítulo após o outro, mas sim mesclando “aspectos teóricos e de programação, cujos conceitos devem ser construídos mergulhando em diferentes capítulos do livro”.

Artes, matemática, pensamento computacional e as mídias é uma obra muito importante para estudantes de Midialogia e áreas afins, mas também pode interessar aqueles que querem entender como a matemática, por meio do pensamento computacional midiatizado, está presente na arte e na cultura. Com uma linguagem clara e didática, a obra progride com fluidez, ponto importante para um livro paradidático. Devido a seu conteúdo relevante e seu caráter de guia para o exercício de atividades pedagógicas, ele pode, ainda, ser usado por outras disciplinas de diferentes universidades, não sendo de uso exclusivo à disciplina aqui apresentada, o que demonstra a relevância acadêmica dessa obra para o campo de estudos das artes e mídias.

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