Por Maria Vitória Gomes Cardoso
O planeta vem sofrendo grandes mudanças ao longo do tempo e muitas delas causadas pelo impacto humano. Com tanta transformação, foi preciso que se definisse uma nova era geológica, chamada antropoceno. O conceito foi popularizado em 2000 pelo químico holandês Paul Crutzen, vencedor do Prêmio Nobel de Química em 1995, para designar essa nova época geológica caracterizada pelo impacto do homem na Terra. Por serem prejudiciais ao planeta e, consequentemente, a todos os seres vivos, não só grandes estudiosos, mas todos aqueles que estão preocupados com o futuro da humanidade procuram diariamente maneiras de contornar nem que seja minimamente tais danos. Sobre esse assunto, a Editora da Unicamp traduziu e publicou a obra de Andrew Patrizio: O olhar ecológico: a construção de uma história da arte ecocrítica.
Segundo o autor, o livro tem por finalidade apresentar a história da arte como uma prática que “tem algo a oferecer diante de mudanças planetárias pavorosas que foram agrupadas sob o termo ‘antropoceno’”. Assim, na obra é exposta ao leitor uma história da arte ecocrítica, que pode incentivar novas políticas e práticas no âmbito cultural e ecológico, a fim de chamar a atenção do público leitor para as mudanças climáticas que vêm ocorrendo mundialmente.
Andrew Patrizio é professor de história da arte na Universidade de Edimburgo, Escócia, e integra o conselho da Scottish Contemporary Art Network (Scan). Em 2022, o escritor participou da abertura do XVI Encontro de História da Arte da Unicamp, em que discutiu as possibilidades de repensar a História da Arte sob uma perspectiva ecocrítica. Seu livro, originalmente publicado em 2018 e nomeado The ecological eye: assembling an ecocritical art history, foi traduzido por Bhuvi Libanio, tradutora de outras obras publicadas pela Editora da Unicamp em 2023, sendo elas Amazon: trabalhadores e robôs e Religião automática: agentes quase humanos no Brasil e na França.
O olhar ecológico: a construção de uma história da arte ecocrítica estrutura-se em três partes com três capítulos cada, além da Introdução e da Conclusão. Na Introdução, Patrizio explica os fundamentos do livro e a preocupação dele perante a relação entre o cuidado com o planeta e o estudo histórico de arte visual. Apesar dessa importante preocupação, o autor mostra-se otimista ao acreditar que uma reparação seja possível através da produção cultural nos campos das artes e humanidades. No livro também é defendida uma reformulação gregária e ética da história da arte que contribua para as necessidades ecológicas urgentes e atuais. Na parte I, são analisadas as potencialidades da história da arte a partir de autores canônicos da área, principalmente através de suas contribuições para a ecologia. A parte II apresenta a dimensão política do pensamento ecológico, principalmente no que tange o pensamento anarquista e a ecologia social. Por fim, na parte III há uma análise sobre as novas possibilidades para a história da arte por meio da teoria crítica e do novo materialismo em um contexto pós-humano.
“O olhar ecológico, como projeto, destaca-se por seu objetivo de misturar as histórias da arte ecocríticas que foram negligenciadas no passado com ecologias políticas complacentes que até então causaram pouco impacto.”
Um aspecto interessante da obra é a preocupação com valores ecológicos nas práticas artísticas. O livro aborda questões sobre ética, sustentabilidade, justiça social e ambiental, diversidade social e biológica, colaboração e integridade. Nesse sentido, o autor vê um enorme potencial nas novas gerações de historiadores da arte para cumprir com esses valores. Também é abordada a questão dos materiais de arte e o possível impacto deles para a ecologia. O autor cita, por exemplo, ácidos tóxicos que eram utilizados em gravuras até o fim do século XX, mas que, a partir desse momento, foram substituídos por líquidos mais benignos que desempenhavam a mesma função nessas peças.
Andrew Patrizio também aborda no livro a importância do enfoque feminista e da teoria queer para reorientar a história da arte ao ecocriticismo. O autor explica que seu interesse nessas abordagens se dá pelo que elas representam contra a hegemonia e a violência, a favor de modelos de horizontalidade e interdependência. Assim como o livro, a teoria queer e o ecofeminismo também questionam os abusos da dominação e da hierarquia, portanto, mostram-se aliadas ao debate sobre uma história da arte ecocrítica.
O livro é um material muito importante não só para os historiadores e estudiosos da arte, mas para todos aqueles que buscam contribuir para um futuro mais esperançoso. E, assim como Andrew Patrizio fez através do título, devemos prestar mais atenção às ameaças e injustiças criadas pelas alterações climáticas induzidas pelo próprio ser humano e buscar combatê-las.
Para saber mais sobre o livro, visite o nosso site!

O olhar ecológico: a construção de uma história da arte ecocrítica
Autor: Andrew Patrizio
ISBN: 9788526816145
Edição: 1a
Ano: 2023
Páginas: 272
Dimensões: 16 x 23 cm