Maria Vitória Gomes Cardoso
Todo começo de ano, os amantes de cinema ficam no anseio para descobrir quais filmes serão indicados ao Oscar. O prêmio, criado e distribuído pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, é a maior referência para o cinema em termos de popularidade e mantém diversas categorias, como melhor filme, melhor direção, melhor atriz, melhor ator, melhor fotografia. Neste texto, destacamos a fotografia e o cinema, duas artes que caminham juntas há muito tempo.
O cinema já está presente na sociedade há um tempo relativamente longo, visto que, em 1895, os irmãos Louis e Auguste Lumière projetaram um filme, pela primeira vez, em um café em Paris. Já a primeira fotografia é ainda mais antiga, visto que foi em 9 de maio de 1826 que o francês Joseph Nicéphore Niepce, usando uma caixa de madeira, conseguiu, pela primeira vez na história, gravar uma imagem numa folha de papel sensibilizado quimicamente.
Sem a fotografia, o cinema, que reúne diferentes artes, não existiria, afinal, é através dela que se captam as imagens que compõem um filme com todas as opções técnicas, como iluminação, enquadramentos, movimentos de câmera, cores, foco, composição, desfoque etc. O primeiro fotógrafo a realizar experimentos com o uso de múltiplas câmeras para captar o movimento foi Eadweard J. Muybridge, que também foi inventor do zoopraxiscópio, um dispositivo para projetar os retratos em movimento que seria o precursor do filme de celuloide.
Reconhecendo a importância do cinema e da fotografia no campo artístico e aproveitando o período que antecede as premiações do Oscar 2024, a Editora da Unicamp reuniu dez livros sobre esses temas que são excelentes materiais para os apaixonados por cinema e fotografia.
Com suas 768 páginas, A arte do cinema: uma introdução é um excelente guia para aqueles que desejam saber mais sobre a dinâmica do processo cinematográfico. A obra apresenta um extenso e detalhado estudo sobre a forma, as técnicas, as estratégias e a história da arte do cinema. O caráter inovador do livro está na utilização sistemática de fotogramas, parte inerente da narrativa fílmica, e não em fotos de cena, sustentando a exposição em ampla gama de exemplos ilustrados.
A obra, publicada em 2013, em parceria com a Edusp, foi escrita por David Bordwell e Kristin Thompson. Bordwell é professor de estudos fílmicos na Universidade de Wisconsin-Madison e um dos principais teóricos e historiadores de cinema nos Estados Unidos. Thompson é conhecida pelo trabalho em teoria do cinema, a partir de metodologia analítica, inspirada nos formalistas russos do início do século XX.
Também escrito por David Bordwell, Sobre a história do estilo cinematográfico mostra como a percepção crítica do estilo cinematográfico evoluiu ao longo do século XX. Publicado em 2013, o livro tem 368 páginas e é leitura obrigatória para os interessados na compreensão das diferentes teorias que norteiam a tradição de pesquisa investigativa da estilística cinematográfica.
David Bordwell é hoje considerado um dos principais teóricos e historiadores de cinema nos Estados Unidos e suas obras cobrem ampla gama de temas da teoria à história do cinema, com abordagens bastante autorais.
Como pensam as imagens reúne textos de dez pesquisadores e contempla escritos sobre a fotografia em diálogo com a ideia mais ampla de imagem, levando em conta a existência humana e suas várias maneiras de se expressar comunicativamente. Publicada em 2012 e contendo 240 páginas, a obra foi organizada por Etienne Samain, que nasceu na Bélgica, onde se formou em Teologia. No Brasil, desde 1973, tornou-se antropólogo e fotógrafo, convivendo com as comunidades Kamayurá (Alto Xingu, MT) e Urubu-Kaapor (MA). Por conceber a antropologia como uma ciência não só de palavras, o organizador acabou por aproximá-la da comunicação e da arte.
Souvenirs, escrito por Fernando de Tacca, une fotografia e rememoração, evidenciando o lado artístico e simbólico de cada composição. Publicado pela Editora da Unicamp em 2018 e contendo 144 páginas, o livro mostra como a combinação entre fotos e objetos pode expressar diversos significados que nem sempre são fáceis de decifrar, pois o sentido de cada composição está intrinsecamente ligado a uma memória. Ao todo, são 60 fotografias que compõem o livro e fazem referência a vários monumentos, objetos e pessoas do mundo inteiro.
Fernando de Tacca é mestre em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e doutor em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é professor livre-docente no Departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação, no Instituto de Artes da Unicamp.
Livro também escrito por Fernando de Tacca, Imagens improváveis foi publicado em 2022 pela Editora da Unicamp em formato digital. As imagens, realizadas pelo fotógrafo entre os anos de 2018 e 2022, trazem elementos que não são normalmente retratados, denotados como não fotografáveis, mas aqui Tacca decide colocá-los em evidência. A surpresa e o desconhecimento perante as imagens fazem parte desse caráter improvável citado no título do livro.
Além de Imagens improváveis e Souvenirs, o autor também publicou pela Editora da Unicamp a obra Imagens do sagrado em 2009, disponível gratuitamente no site da Editora, em formato PDF.
6. Boca do lixo, cinema e classes populares
Boca do lixo, cinema e classes populares busca tratar do ciclo da Boca do Lixo, um processo de produção cinematográfica realizado nos anos 1970, no centro de São Paulo. Com uma fórmula baseada em comédia e erotismo – mas não apenas nisso –, a Boca do Lixo conquistou principalmente a população masculina das classes populares. A obra busca explicar como se deu esse fenômeno, como e quando ocorreu seu auge e também a sua ruína.
O livro de 224 páginas foi publicado pela Editora da Unicamp em 2016 e foi escrito pelo pesquisador e cineasta Nuno Cesar Abreu. O autor também foi mestre em Comunicação Social – Cinema pela USP, doutor em Multimeios pela Unicamp, além de ter dirigido diversos curtas-metragens e atuado como professor do Departamento de Cinema do Instituto de Artes da Unicamp.
7. Negros no estúdio do fotógrafo
Negros no estúdio do fotógrafo é uma obra que apresenta fotos de pessoas negras nos estúdios fotográficos do Brasil, no século XIX. Por meio de vasta pesquisa acadêmica, a autora traça o caminho da produção daqueles retratos, sua significação, sua circulação e seu armazenamento em álbuns. O livro de 360 páginas, publicado em 2010 pela Editora da Unicamp, foi escrito por Sandra Sofia Machado Koutsoukos.
A autora possui doutorado em Multimeios pelo Instituto de Artes da Unicamp. Sua pesquisa, realizada com o apoio da Fapesp, abordou a representação dos negros em fotografias do século XIX, traçando a produção, a circulação e a significação de seus retratos. Em seu pós-doutorado, especializou-se em História da Fotografia.
Além de Negros no estúdio do fotógrafo, a autora também publicou, em 2020, pela Editora da Unicamp o livro Zoológicos humanos: gente em exibição na era do imperialismo.
8. Um intelectual na urgência: Pasolini lido no Brasil
Um intelectual na urgência: Pasolini lido no Brasil reúne 17 ensaios diversificados sobre a obra e a figura do intelectual italiano Pier Paolo Pasolini. O livro de 296 páginas, publicado em 2022 pela Editora da Unicamp, em coedição com a Editora Unesp, foi organizado por Maria Betânia Amoroso e Cláudia Tavares Alves.
Maria Betânia Amoroso é livre-docente e professora colaboradora no Departamento de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (IEL-Unicamp) e coordena o grupo de pesquisa “Estudos ao redor de Pasolini” (Unicamp/CNPq). Cláudia Tavares Alves é doutora em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Com Maria Betânia Amoroso, organizou o dossiê “Pasolini e a crítica” (2020) para a revista Remate de Males.
Pier Paolo Pasolini foi um cineasta, poeta e escritor italiano, e também se configura como um dos maiores filósofos italianos do século XX, sendo que o seu pensamento amplamente crítico ainda repercute na contemporaneidade.
9. Lula no documentário brasileiro
Em Lula no documentário brasileiro, a autora Marina Soler Jorge analisa cinco documentários feitos entre os anos de 1980 e 2000, a fim de investigar qual é o “Lula” que emerge de cada um deles. Além disso, relaciona as concepções de mundo sugeridas nos filmes e as construções imagéticas apresentadas. A obra foi publicada em 2011 pela Editora da Unicamp e conta com 240 páginas.
Marina Soler Jorge é socióloga e professora associada do Departamento de História da Arte da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Unifesp e do Programa de Pós-Graduação em História da Arte da Unifesp. Cursou Sociologia e Ciência Política na Unicamp, é mestre em Sociologia pela Unicamp e doutora em Sociologia pela USP. Tem trabalhos publicados nas áreas de sociologia da arte e representações femininas no audiovisual contemporâneo.
Em Os espaços de comunicação, o autor Roger Odin busca desenvolver o conceito de espaços de comunicação por meio de exemplos de produções de textos, filmes e documentos audiovisuais ou visuais, em contextos extremamente diversos.
A obra de 192 páginas foi traduzida por Marcius Freire e publicada pela Editora da Unicamp em 2023, a partir do original Les espaces de communication – Introduction à la sémio-pragmatique.
Roger Odin é um dos estudiosos contemporâneos que se dedicam a estudar a arte do cinema e do audiovisual e, sendo linguista de formação, faz isso a partir da semiopragmática nesse livro. Ele também é professor emérito de Ciências da Comunicação na Universidade de Paris 3, Sorbonne Nouvelle, onde dirigiu o Instituto de Pesquisa em Cinema e Audiovisual de 1983 a 2003 e criou a revista Théorème.
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As obras citadas são excelentes materiais para aqueles que buscam entender um pouco melhor a história do cinema e da fotografia tanto no Brasil como no mundo, pois abrangem uma quantidade vasta de temas e perspectivas sobre essas artes tão importantes para a humanidade.
A Editora da Unicamp conta com um vasto catálogo de livros acadêmicos de diversas áreas, e a de Cinema e Fotografia é uma excelente opção para os estudiosos da área ou para aqueles que querem ser introduzidos nesse campo. Acesse o site da Editora da Unicamp e conheça o catálogo completo.