Por Luiza Melo

Atualmente, a Amazon faz parte do ranking das grandes empresas de tecnologia do mundo, acompanhada por Apple, Google, Microsoft e Facebook. Os principais serviços prestados pela multinacional são: e-commerce, streaming, web services e artificial intelligence. Além disso, é conhecida tanto nos arredores de seus armazéns e em outdoors de publicidade quanto nas notícias que a citam como geradora de empregos.

Com o intuito de ampliar a discussão contemporânea a partir da análise de situações políticas e socioculturais concretas, como o contexto da Amazon, a Editora da Unicamp lançou o livro Amazon: trabalhadores e robôs, tradução da obra The warehouse: works and robots at Amazon (2021), de Alessandro Delfanti. Professor de culturas e novas mídias na Universidade de Toronto, Delfanti tem como linha de pesquisa economia política de ciência e tecnologia, contraculturas digitais e resistência de trabalhadores em contextos digitais. O livro é o quinto da Coleção Discutindo o Brasil e o mundo da Editora da Unicamp que busca contribuir com a revitalização do debate em torno de temas de grande interesse contemporâneo e de alternativas que se colocam no âmbito das políticas públicas, sociais e educacionais.

Amazon: trabalhadores e robôs tem como objetivo principal jogar luzes sobre a luta do movimento trabalhista, particularmente sobre a luta dos trabalhadores da Amazon. O livro é baseado em entrevistas realizadas entre 2017 e 2021 com pessoas que trabalharam na multinacional em diferentes cargos que vão desde associados temporários até gerentes, em diferentes países, como Itália, Alemanha, Canadá, Estados Unidos e Espanha. A fim de proteger os entrevistados, o autor usou nomes fictícios, não colocou as agências de emprego para as quais os funcionários trabalhavam, alterou detalhes como idade, gênero ou área de atuação, quando possível, e, em outros casos, uniu mais de uma pessoa em um único trabalhador (personagem do livro) ou criou duas personagens a partir de uma única entrevista. Além disso, analisou comentários de associados ou associadas da Amazon em websites públicos como o Glassdoor e o Reddit, e também verificou vídeos do YouTube e outros conteúdos criados por pessoas que trabalharam em armazéns da empresa. Os empregados não foram a única fonte utilizada; houve visitas a armazéns e feiras corporativas, participação em reuniões de sindicato, em processo de seleção para o cargo de associado temporário e em alguns eventos de recrutamento. 

O livro é dividido em seis capítulos, subdivididos em tópicos: o primeiro capítulo, “Implacável”, trata de desencaixotar a Amazon, trazendo a consciência de que é o trabalho humano que mantém as mercadorias em movimento. Já o segundo capítulo, “Trabalhe duro”, aborda questões relacionadas ao slogan da Amazon “Trabalhe duro. Divirta-se. Faça história” e ao funcionamento dos armazéns. O terceiro capítulo, intitulado “Divirta-se”, segue discutindo o slogan da empresa, relacionando-o agora às formas de monitoramento dos funcionários, isto é, às formas de controle mental e físico dos indivíduos. No quarto capítulo, “Obsessão pelo consumidor”, o autor estuda os quatro pilares da multinacional (obsessão pelo cliente, paixão por invenções, compromisso com excelência operacional e visão de longo prazo) e apresenta uma análise do ritmo de trabalho que é imposto aos trabalhadores. O quinto capítulo, “Reinvente o agora”, aborda a perspectiva tecnológica da empresa. E o último capítulo, “Faça história”, discorre acerca do movimento dos trabalhadores, das greves e das mobilizações. 

Segundo Delfanti, quando recebemos uma caixa da Amazon, normalmente não pensamos em todo o caminho que o produto percorre até chegar às nossas mãos e em todo o trabalho humano necessário para que o pacote chegue à nossa casa, como destacado na fala de uma das trabalhadoras da empresa: 

Se pensar bem, as pessoas [que encomendam pela Amazon] não sabem quem está por trás, por trás do pacote que recebem em casa. A única vez que pedi algo pela Amazon, recebi uma das caixas que eu empacotava. Pendurei na parede e coloquei uma legenda: “para não me esquecer”.

– Giulia (personagem fictícia do livro)

O autor também comenta sobre os fulfillment centers, locais com milhares de metros quadrados, onde trabalham milhares de pessoas, e levanta as seguintes questões: o que acontece no interior e nos arredores desses espaços? Qual o peso, para o consumidor final, do trabalho realizado por seres humanos em serviços ligados à tecnologia? Qual a importância de dar visibilidade aos trabalhadores envolvidos em todos os processos que ocorrem nessa e em outras grandes empresas de tecnologia? Na citação trazida acima, temos Giulia em ambos os papéis, de consumidora e de trabalhadora, expondo essa consciência do interno e do externo da Amazon e destacando a importância do não apagamento dos funcionários.

Desse modo, o livro Amazon: trabalhadores e robôs pretende despertar o interesse não só de estudantes e professores das áreas de ciências sociais, antropologia e áreas correlatas, mas também daqueles que querem refletir mais acerca de questões políticas e de movimentos trabalhistas. 

Para saber mais sobre o livro, visite o nosso site!

Caso queira ler mais sobre o assunto, a Editora da Unicamp possui outros títulos, como os da Coleção Discutindo o Brasil e o mundo em seu catálogo: Linha vermelha: a guerra da Ucrânia e as relações internacionais no século XXI, organizado por Felipe Loureiro, Novos horizontes do Brasil na quarta transformação estrutural, de Marcio Pochmann, A rebeldia tornou-se de direita?, de Pablo Stefanoni, e Reinventando o estado de bem-estar, de Ursula Huws.