Redações 2023: uma mudança histórica por uma universidade mais diversa

Por Maria Vitória Gomes Cardoso

Todo ano a Editora da Unicamp, em parceria com a Comvest (Comissão Permanente para os Vestibulares), lança um livro da Série Redações do Vestibular Unicamp. Trata-se de uma obra que reúne textos produzidos por candidatos de diversos cursos, a fim de divulgar os que cumpriram com sucesso os propósitos de leitura e escrita da prova. Nessa nova versão, contudo, o “livrinho”, como é afetuosamente nomeado, cresceu e ganhou um novo nome, Redações 2023. Isso porque o livro, pela primeira vez na história da Comvest, conta não apenas com as redações do tradicional Vestibular Unicamp, mas também com as do Vestibular Indígena. 

Desde 2019, a Unicamp aplica o Vestibular Indígena para estudantes indígenas brasileiros que cursaram escolas públicas. Em 2022, foi feita uma parceria com a UFSCar, e desde então são ofertadas vagas em ambas as universidades para esses estudantes. No ano de 2024, serão concedidas 130 vagas na Unicamp e outras 130 vagas na UFSCar. Assim, a Comvest considerou de extrema importância a publicação da nova edição, em 2023, com as produções escritas desses vestibulandos.

Promover o acesso dos povos indígenas às universidades, sobretudo às universidades públicas, é apostar não apenas na ciência – sempre potencializada em um ambiente diverso –, mas também no futuro das próprias etnias, ampliando sua voz na defesa de sua cultura, de sua identidade e na garantia de seus direitos. A Unicamp acredita nessa troca plural de saberes e aprendizagens.

No Vestibular de 2023, foram disponibilizadas aos candidatos quatro propostas de redações, duas para a prova tradicional e duas para a dos candidatos indígenas. Como de costume, a Unicamp cobrou diferentes gêneros textuais para cada proposta, com temas extremamente atuais e de suma importância. No primeiro texto, o candidato deveria assumir a máscara discursiva de alguém que decide escrever um texto de convocação para reunião com a associação de moradores do seu bairro, a fim de providenciar medidas que impossibilitem a abertura de um clube de tiros na vizinhança. Nessa proposta, vê-se que a prova decidiu denunciar algo bastante atual, o aumento da flexibilização da posse e do porte de armas de fogo.

Já o segundo tema proposto foi o da educação antirracista, materializado através do gênero discursivo “depoimento”, em que o vestibulando deveria se imaginar como um estudante do terceiro ano do ensino médio que iria escrever para a Diretoria de sua escola sobre a questão da discriminação racial em espaço escolar. Assim, a Comvest expôs uma temática fundamental para os dias atuais: a necessidade das escolas brasileiras promoverem uma educação antirracista. 

Para o Vestibular Indígena, a primeira proposta foi um artigo de opinião em que o vestibulando deveria se posicionar em relação ao fato de que os jovens indígenas estão assumindo seus nomes étnicos. Tema bastante representativo, já que, através de seus nomes originais, os indígenas mantêm contato com seu povo e sua ancestralidade. Na segunda proposta, os candidatos precisaram escrever uma carta aberta para ser lida por um(a) representante indígena no Congresso Nacional, referente ao aumento das queimadas na Floresta Amazônica. Outro tema bastante importante, uma vez que a floresta é essencial não só para os indígenas, mas para o país em geral, considerando que, nos últimos anos, essas queimadas tiveram um aumento ainda mais significativo.

É fundamental que as instituições de pesquisa e ensino públicas se posicionem perante os debates que circulam na sociedade. A Unicamp faz exatamente isso ao trazer temas tão atuais e importantes, evidenciando, assim, seus princípios mais básicos, que estão presentes já na Apresentação do livro: “valorização da ciência, respeito aos direitos humanos e busca por uma educação de excelência acadêmica e eticamente comprometida”.

Além das 36 produções textuais dos candidatos, existe na obra uma Apresentação assinada por José Alves de Freitas Neto e por Márcia Mendonça, diretor e coordenadora acadêmica da Comvest, respectivamente, em que eles discorrem sobre as mudanças do livro nessa nova versão e os valores socioeducacionais da Universidade e da própria prova da Comvest. Em seguida, as docentes do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL-Unicamp), Cynthia Agra de Brito Neves, Daniela Birman e Luciana Amgarten Quitzau, que assinam a Introdução das partes I e II do livro, analisam detalhadamente as quatro propostas da prova e as redações dos alunos.

Nota-se, portanto, que Redações 2023 segue com a mesma qualidade das edições anteriores, mas é ainda mais acessível e diversa, incluindo também os textos produzidos pelos vestibulandos indígenas. Trata-se de um livro fundamental para todos aqueles que pretendem prestar o Vestibular Unicamp ou mesmo para os estudiosos da linguagem que procuram entender melhor a prova da Comvest e o trabalho com gêneros e temas atuais.

Para saber mais sobre o livro, visite o nosso site!

Redações 2023: Vestibular Unicamp e Vestibular Indígena

Organização: Comvest

ISBN: 978-85-268-1599-5

Edição: 1a

Ano: 2023

Páginas: 152

Dimensões: 14 x 21 cm

Um comentário sobre “Redações 2023: uma mudança histórica por uma universidade mais diversa

  1. Nós, professores, não nos cansamos de elogiar o comprometimento e a seriedade com que a Comvest atua. Nesse novo formato, o exemplar recém-adquirido na Festa do Livro da USP, vai ajudar e muito nas aulas de redação do Ensino Médio. Muito obrigada!

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