Por Ana Carolina Pereira
Karl Heinrich Marx (1818-1883) foi um filósofo, economista, sociólogo, teórico político e jornalista alemão, que criticou radicalmente o capitalismo e propôs mudanças à sociedade. Segundo ele, essa transformação aconteceria apenas através da luta de classes e da tomada dos meios de produção pelos trabalhadores. Sua obra mais famosa é O capital e, com Friedrich Engels (1820-1895), escreveu O manifesto comunista, livro no qual está escrita a famosa frase: “Proletários de todos os países, uni-vos!”. O conjunto de ideias e conceitos desenvolvidos por Marx e Engels constituem o marxismo, teoria política muito estudada. Essa doutrina foi incorporada por organizações da classe trabalhadora, partidos políticos, sindicatos e movimentos sociais, e teve grande impacto nelas.
Pensando na história do marxismo, a Editora da Unicamp publicou o livro Trajetórias do marxismo europeu, que “reconstitui formulações paradigmáticas da história do marxismo, destacando autores decisivos na delimitação dessa linhagem como tradição intelectual.” A obra foi escrita por Ricardo Musse, professor no Departamento de Sociologia da USP, doutor em Filosofia e livre-docente em Sociologia. Ele também escreveu e organizou livros na área de filosofia e sociologia e é editor do blog A Terra é Redonda, no qual são publicados artigos de intelectuais, acadêmicos e ativistas de movimentos sociais de autores diversos.
Trajetórias do marxismo europeu é a oitava obra da Coleção Marx 21 que tem como propósito “contribuir para o desenvolvimento e a renovação da teoria marxista, publicando textos teóricos nas áreas de filosofia, economia, sociedade, política e cultura”. Além disso, “a coleção mantém em seu catálogo análises amplas sobre o capitalismo contemporâneo e sobre a situação atual do movimento socialista”. Armando Boito Junior, professor titular de Ciência Política da Unicamp, é quem a coordena.
Segundo Musse, o propósito de Trajetórias do marxismo europeu é diverso. Para escrevê-lo, foi necessária uma seleção entre os muitos expoentes políticos e intelectuais do marxismo para melhor desenvolver aqueles escolhidos. Musse usou como critério de seleção de pensadores “a relevância da contribuição de cada um em modificações na autocompreensão do marxismo”. O livro aborda autores como Eduard Bernstein, Karl Kautsky, Gueórgui Plekhánov, Rudolf Hilferding, Rosa Luxemburg, Vladimir Ilitch Lênin, Karl Korsch, György Lukács e Max Horkheimer, e busca discutir as concepções de marxismo como teoria e como prática presente nesses autores. Esse livro tem, como ponto de partida, uma “análise de Anti-Dühring (1878)” para completar a tarefa de acompanhar a gênese e a consolidação do marxismo como tradição intelectual e as transformações em sua autocompreensão.
Ainda pensando na seleção de autores para compor a obra, Musse pontua que as demarcações utilizadas para agrupar políticos e teóricos no movimento etiquetado como marxismo estiveram e ainda estão sujeitas a controvérsias. Por isso, o autor traz uma delimitação, segundo ele, menos polêmica que apresente o marxismo “como uma tradição formada pelo acréscimo, ao legado de Marx, da contribuição intelectual e política de seus seguidores, ou do arsenal prático-teórico desenvolvido por diversas organizações e partidos”. Nesse sentido, o pesquisador aponta que o legado de Marx é a base do marxismo, mas que ele precisa “periodicamente de atualizações que acompanhem as modificações cristalizadas em diagnósticos distintos do ‘presente histórico’”. Surge, então, uma ânsia pela constante atualização da teoria, sobre a qual Musse declara:
Os procedimentos inerentes à satisfação da demanda por atualização periódica geram modificações significativas também na autorrepresentação do marxismo. A identificação da mudança histórica, com bastante frequência, é acompanhada de novas interpretações do pensamento de Marx que redimensionam seu legado e a própria sistematização do materialismo histórico. O mapeamento de uma nova situação histórica abre caminho para o preenchimento dos brancos e lacunas da obra de Marx ou para o desbravamento de áreas que permaneceram intocadas.
O livro é dividido em quatro capítulos e um excurso. O primeiro aborda a metodologia do marxismo e como ela “tornou-se um tópico decisivo em sua determinação”. Nele, é discutida a hesitação de Marx de explicitar o seu método e como os marxistas consideram isso uma lacuna que precisa ser preenchida. O segundo discorre sobre a autocompreensão do marxismo ora como ciência, ora como filosofia, a definição de “socialismo científico” e a autocompreensão do marxismo-leninismo na dualidade “materialismo histórico” e “materialismo dialético”. O terceiro e o quarto discutem “a gênese do marxismo, seu enraizamento nos partidos de massa criados no último quartel do século XIX e seus desdobramentos até as vésperas da Segunda Guerra Mundial”. O terceiro capítulo foca em discutir episódios marcantes da trajetória do marxismo. Já o quarto capítulo aborda duas importantes obras, História e consciência de classe, de György Lukács, e Marxismo e filosofia, de Karl Korsch, ambos de 1923, mostrando o motivo de elas terem sido contestadas na Segunda e na Terceira Internacional. Nesse capítulo, também é abordada a constituição da Teoria crítica. No excurso, Musse discute o marxismo ocidental, por meio de “comentários que problematizam as análises de destacados historiadores dessa vertente”.
Trajetórias do marxismo europeu é uma importante leitura para a área de ciência política, principalmente para os estudiosos do marxismo, pois, além de o autor abordar uma parte muito importante da história desse movimento, ele o faz adotando “por eixo delimitações, a cada momento, de compreensões diferentes desse movimento”. Isso permite discutir as diferentes autorrepresentações que o marxismo concebeu, como “socialismo científico”, “ideologia do partido”, “teoria revolucionária” e “tradição intelectual”. Ademais, quem quiser se aprofundar no assunto, há outros sete livros na Coleção Marx 21 e há, também, a série História do Marxismo no Brasil, que conta com seis volumes que trazem estudos originais e abrangentes, discutindo a presença do marxismo no pensamento político, na história econômica e social e na cultura brasileira.
Para saber mais sobre o livro, visite o nosso site!

Trajetórias do marxismo europeu
Autor: Ricardo Musse
ISBN: 9788526815872
Edição: 1a
Ano: 2023
Páginas: 224
Dimensões: 16 x 23 cm