Por Maria Vitória Gomes Cardoso
Em setembro de 2022, foi reinaugurado, após permanecer nove anos fechado para visitação, o Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga. Um ano após sua reinauguração, a instituição recebeu cerca de 630 mil visitantes, comprovando, assim, sua importância enquanto museu público mais antigo da cidade de São Paulo. É nesse espaço que está organizada a Coleção da Família Taunay, importante acervo de documentos conservados da família, dentre eles o diário de viagem à Europa de Afonso d’Escragnolle Taunay (1876-1958), engenheiro, professor, biógrafo, historiador e diretor do Museu Paulista entre 1917 e 1945.
É a partir do contato com esse acervo que os historiadores e pesquisadores Wilma Peres Costa e Carlos Lima Junior transcreveram o caderno de viagem de Taunay e publicaram pela Editora da Unicamp a obra A viagem como missão – Afonso Taunay na Europa (1909). O livro é estruturado em sete partes: a introdução, escrita pelos organizadores do título; a transcrição do diário de Afonso Taunay, feita por um grupo de estudantes de graduação e pós-graduação em História, da Unifesp; um capítulo introdutório que explica o processo de transcrição e a escrita das notas de rodapé; e mais quatro capítulos que aprofundam a viagem de Taunay à Europa, assinados respectivamente por Wilma Peres Costa, Lucia Maria Paschoal Guimarães, Carlos Lima Junior e Joana Monteleone.
A viagem como missão – Afonso Taunay na Europa (1909) é, portanto, escrito a partir de um corpus que, a princípio, permaneceria apenas no âmbito privado, um diário de viagem, mas que passa a ser público quando exposto no Museu Paulista, compondo o acervo de documentos da família. O livro publicado pela Editora da Unicamp é organizado por Wilma Peres Costa, professora titular em História Econômica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e docente na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e por Carlos Lima Junior, doutor em Estética e História da Arte pelo Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP) e pesquisador de pós-doutorado no Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH/Unicamp).
Em 26 de maio de 1909, Afonso Taunay partiu de São Paulo, junto com sua esposa e sua filha, rumo à Europa, e a partir dessa data ele registrou por 114 dias sua viagem para o exterior. Nessa obra, publicada a partir do diário, o leitor é convidado a viajar para a Europa da Belle Époque, através das descrições de Taunay, que se mostra um verdadeiro flâneur ao percorrer as ruas de Paris, cidade onde permaneceu por maior tempo durante seu itinerário pelo continente. Para complementar ainda mais a leitura e situar o leitor no contexto do diário, o livro conta com um extenso conjunto de notas de rodapé que enriquecem e detalham ainda mais os registros do historiador.
“Afonso nos apresenta em seu diário uma espécie de cápsula do tempo, que parece ter o poder de nos transportar de volta ao início do século XX, a um mundo que já não existe, uma era antes das duas guerras mundiais, à tão conhecida fase da Belle Époque.”
Para além do caráter turístico, os autores percebem que a ida de Afonso Taunay à Europa foi principalmente uma viagem para estudos. Nesse aspecto, uma das principais missões do viajante parece ter sido estudar a história de sua família, que tem linhagem francesa advinda de Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830), importante professor e pintor francês e bisavô de Afonso. Assim, Taunay se mostra interessado, durante seu itinerário na França, em estudar e retomar o legado cultural de sua família, que era bastante ligada às letras e às artes, não só pelo bisavô, mas também pelo avô Félix-Émile Taunay (1795-1881), pintor francês, professor e diretor da Academia Imperial de Belas Artes do Brasil. Sobre esse último, a Editora da Unicamp mantém em seu catálogo a obra Paisagem e academia – Félix-Émile Taunay e o Brasil (1824-1851), da historiadora Elaine Dias.
Além da transcrição do diário, há no livro estudos que analisam essa viagem à Europa e também a formação de Afonso Taunay enquanto historiador. Desse modo, tanto os registros da viagem como a obra em si podem ser vistos como fragmentos da biografia do viajante. Os autores evidenciam sua formação como historiador, a partir desse período na Europa, quando apontam que, ao retornar, ele escreve um artigo intitulado “Missão Artística Francesa”, publicado em 1911, no qual estão incluídas muitas das anotações de pesquisa do diário. Dessa forma, vê-se que Afonso Taunay obteve sucesso em suas missões, pois, além de conhecer culturalmente o continente europeu, também trouxe consigo para o Brasil o resultado de seus estudos, que, além de ajudá-lo a compreender a história de sua família na esfera pessoal, também o auxiliou na pesquisa sobre a importância dos Taunays na constituição da cultura brasileira. Além disso, o Museu Paulista, onde exerceu seu ofício por 28 anos, também foi um espaço influenciado pelos estudos realizados na Europa.
Assim, o livro A viagem como missão – Afonso Taunay na Europa (1909) se mostra um material fundamental para aqueles que procuram se aprofundar na trajetória de um dos ex-diretores do Museu Paulista, mas também para o público que se interessa pelo estudo das relações sociais e culturais da Europa e do Brasil do início do século XX.
Para saber mais sobre o livro, visite o nosso site!

A viagem como missão – Afonso Taunay na Europa (1909)
Organizadores: Wilma Peres Costa e Carlos Lima Junior
ISBN: 978-85-268-1597-1
Edição: 1a
Ano: 2023
Páginas: 248
Dimensões: 16 x 23 cm