De Teócrito a Virgílio: as raízes da poesia bucólica e sua manifestação na Roma Antiga

Por Ana Carolina Pereira

O gênero literário da poesia bucólica manifestou-se principalmente na época helenística até o Baixo Império romano e teve Teócrito e Virgílio como seus nomes mais conhecidos. Esse gênero chamou a atenção de diversos poetas ao longo do tempo e ainda hoje é alvo de estudos acadêmicos. Entre tais estudos, muitos críticos literários, como Alfredo Bosi, colocam a poesia bucólica como um “ameno artifício” que permite uma “evasão” aos poetas. Tal colocação também foi alvo de comentários e críticas, sendo que algumas destas apontam para a importância de se separar o uso do pastoral na poesia moderna da poesia bucólica antiga. Para fomentar essa discussão e outras discussões dentro do tema, foi lançado o livro Poesia bucólica: Virgílio, Calpúrnio Sículo, Nemesiano.

A obra foi escrita por Alessandro Rolim de Moura, importante pesquisador da área de Letras Clássicas, doutor em Letras Clássicas pela Universidade de Oxford e, atualmente, professor associado de Literatura Grega e Latina da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisador em estágio pós-doutoral da Universidade Demócrito da Trácia, Grécia. Ele também já atuou como pesquisador colaborador do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp. Poesia bucólica faz parte da Coleção Bibliotheca Latina, que abriga diversos títulos sobre os principais gêneros literários da Roma Antiga. 

O livro é dividido em duas partes: a primeira fala sobre a formação e teoria do gênero, abordando Teócrito; a segunda parte discute a poesia bucólica latina, apresentando principalmente as Bucólicas de Virgílio, mas trazendo também outros autores latinos, como Calpúrnio e Nemesiano. Após essas duas partes, há uma “Breve antologia” de poesias em versão bilíngue, latim-português. Contudo, não há poesias apenas nessa parte do livro, ao longo dele, há traduções tanto de obras gregas quanto latinas feitas pelo próprio autor e por outros tradutores. Além disso, na Introdução, o autor aponta questões importantes para a discussão que se dará ao decorrer dos capítulos, como o que seria o gênero literário trabalhado em Poesia bucólica.

A poesia bucólica antiga é uma modalidade de texto relativamente curto, escrito em hexâmetros datílicos e num estilo que mistura o coloquial ao rebuscado, com frequente presença do diálogo, concretizada sobretudo nos Idílios de Teócrito e nas Bucólicas de Virgílio e que apresenta como cenário o campo e como personagens pastores que, ao mesmo tempo, são cantores, estando ocupados com suas relações com o cenário da natureza que os envolve, experiências amorosas e performances e competições poéticas.

Além do que é falado nessa definição provisória, segundo o autor, e que será refinada ao longo do livro, Moura também coloca que “a poesia bucólica é concebida explicitamente, em seus textos principais, como uma poesia cantada, como dá a entender a frequência do uso de verbos como o grego aeídō e o latim cano”. No entanto, mesmo com essa concepção, “não há indícios de que esses poemas foram escritos para serem cantados com acompanhamento musical”, mas essa sugestão de um caráter musical criado a partir da seleção vocabular para a construção da poesia faz parte da imagem transmitida pelo poema. Nesse tipo de literatura, os pastores são poetas e a poesia bucólica, segundo o autor, é poesia bucólica “porque fala de poetas bucólicos: um de seus objetos mais evidentes e constantes é a própria poesia bucólica”.

Na obra, Moura diz que o tema do amor aparece muito nesse tipo de produção literária, mas ele não é obrigatório e há uma grande variedade de temas e de estilos nessa produção poética. Contudo, mesmo havendo diferenças estilísticas no gênero, ele é demarcado por “lugares-comuns” que o delimitam, o que será apresentado ao longo da obra. Como o livro se propõe ser introdutório, foi preciso selecionar o corpus de modo a fazer um recorte específico de um tema mais abrangente. Nesse sentido, o autor delimitou o seu estudo na manifestação em latim na Antiguidade desse gênero literário. Porém o Arcadismo, importante movimento na literatura luso-brasileira, inspirou-se na bucólica antiga e, por isso, Moura levanta a necessidade de ter cautela para que críticas voltadas ao Arcadismo não sejam estendidas, ou entendidas como válidas, para Teócrito, Virgílio e demais poetas bucólicos.

Nesse contexto, o autor traz críticos literários e suas respectivas falas sobre poesia bucólica, para discuti-las brevemente e apontar para a não aplicabilidade de uma descrição que é justa para os poetas modernos, mas não funciona para a poesia bucólica. Segundo o autor, “a poesia bucólica é um dos corpora poéticos mais difíceis da literatura clássica, tanto em termos linguísticos quanto no que concerne à interpretação” e, nesse sentido, ele afirma que o desafio de Poesia bucólica “é criar roteiros de viagem no interior do mundo bucólico e fazer ver que pode se tratar de uma visita surpreendente”, embora seja necessário um estudo mais aprofundado para desfazer vários equívocos e visões pejorativas sobre esse gênero. O livro faz um histórico do desenvolvimento da poesia bucólica, “desde Teócrito até a poesia latina da Antiguidade Tardia”, procurando conduzir uma reflexão sobre diversos questionamentos levantados sobre o gênero a partir de uma seleção de poemas-chave.

Poesia bucólica foi pensado para “preencher uma lacuna que identificamos nos estudos da área, mais especificamente na bibliografia em português” e, por isso, é de muita relevância para a área de estudos clássicos, que se beneficiará grandemente de ter tal obra no mercado editorial. Além disso, a antologia de textos que fecha o volume foi pensada com base “na constatação de que vários itens do repertório bucólico antigo ainda não foram traduzidos para o português ou se beneficiariam de novas traduções”, e trouxe traduções “de estudo”, o que se encaixa com o fato de esse livro ser uma introdução à poesia bucólica. A obra, portanto, é importante não apenas para aqueles que já estão imersos no mundo dos estudos clássicos, mas também para os curiosos e os entusiastas do assunto, o que pode atrair futuros pesquisadores para a área.

Para saber mais sobre o livro, visite o nosso site!

Poesia bucólica: Virgílio, Calpúrnio Sículo, Nemesiano

Autor: Alessandro Rolim de Moura

ISBN: 9788526815575

Edição: 1a

Ano: 2022

Páginas: 568

Dimensões: 14 x 21 cm

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