Livro da Editora da Unicamp é indicado em edital de concurso público

Livro ressalta as heterogeneidades da produção literária em solo africano 

Por Gabriel de Lima

Publicado pela Editora da Unicamp e assinado por Elena Brugioni, docente no Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, Literaturas africanas comparadas foi concebido, primeiramente, em virtude da necessidade de um material teórico autêntico a ser utilizado em salas de aula do ensino superior nas disciplinas de literatura africana ministradas pela professora. Contudo, o estudo de Brugioni não se manteve restrito ao âmbito universitário, sendo incluído, recentemente, na lista de indicados no edital de concurso público da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo para professores

Editora da Unicamp: Quais aspectos do livro podem ter motivado a seleção para esse edital?

Elena Brugioni: O que pode ter motivado a escolha, creio que sejam alguns aspectos da obra em si, bem como fatores conjunturais externos ao livro. Certamente o fato de o ensaio ter sido publicado por uma editora universitária de prestígio e de ser integralmente dedicado a um corpus de literatura africana contemporânea, em língua portuguesa e em outras línguas, pode ter contribuído para a escolha. Acredito que a própria hipótese que sustenta o livro, ou seja, a de abranger debates que perpassam diversos campos dos estudos literários e, sobretudo, de abordar as literaturas africanas em perspectiva comparada – sem necessariamente circunscrever a discussão em torno de obras originalmente escritas em português –, também possa ter sido um aspecto importante; trata-se de algo que me parece acontecer, por exemplo, em âmbito editorial com a publicação de obras literárias africanas em tradução, cada vez mais frequente, e em âmbito acadêmico, como, por exemplo, na Unicamp, em cuja lista de leituras para o vestibular se encontram obras de escritoras africanas de língua inglesa e portuguesa. Penso também que a presença de uma discussão sobre o que se define como estado da arte possa ter ajudado, ou seja, o fato de o livro abordar debates críticos bastante consolidados no campo dos estudos de literaturas africanas e, portanto, apresentar aqueles que se consideram os principais temas em discussão nesta área hoje em dia. 

Editora da Unicamp: E quais seriam os aspectos externos?

Elena Brugioni: Minha sensação é a de que fatores externos à obra tenham também sido importantes: por exemplo, o fato de a formação em literaturas africanas nos cursos de graduação de universidades públicas e particulares não ser, até hoje, algo consolidado e sistêmico, especialmente nos cursos de licenciatura em Letras, ao mesmo tempo que uma premente (e justíssima) demanda de formação nessa área se torna cada vez mais evidente (e urgente) para futuros professores e professoras no Brasil. Em 2023, celebram-se os 20 anos da promulgação da lei 10.639/03 que estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana no currículo oficial da rede de ensino; trata-se de uma conquista importantíssima sobretudo para um país como o nosso, mas que, no entanto, enfrenta ainda hoje grandes dificuldades e fortes resistências. Quero acreditar que o conhecimento sobre literaturas africanas venha a ser considerado, em breve, tão indispensável quanto o saber e o conhecimento que um professor ou uma professora deve ter em língua portuguesa, em literatura brasileira, em história ou em matemática. Enxergo a escolha do livro Literaturas africanas comparadas na bibliografia desse edital não tanto como uma conquista pessoal, mas como o reconhecimento de uma área de estudo e, portanto, da luta de todas as pessoas que no Brasil – fora e dentro das universidades – se empenham e trabalham para que a literatura escrita e publicada no continente africano se torne  um elemento fundamental, isto é, um alicerce, do currículo escolar e da formação universitária em nosso país. 

Como o livro pode contribuir para a formação dos novos professores e como eles podem fazer uso da obra em sala de aula? 

Elena Brugioni: Literaturas africanas comparadas foi publicado no âmbito de um edital lançado pela Editora da Unicamp em 2018 e dedicado à publicação de livros para o ensino de graduação e pós-graduação; na elaboração do manuscrito, sempre mantive em meu horizonte esse público-alvo, e o exercício que tentei fazer foi primeiramente o de tornar acessíveis para um público universitário, não necessariamente familiarizado com essa área, as obras, os temas e os debates incontornáveis – e de certa complexidade – no campo dos estudos de literaturas africanas no contexto brasileiro e no exterior. Acredito que, nesse sentido, o livro possa ser bastante útil para a formação de professores e professoras; muitas pessoas têm entrado em contato comigo nestes últimos meses – aliás, foi dessa forma que eu soube que o livro havia sido indicado na bibliografia do edital de concurso público do estado de São Paulo para professor de ensino fundamental e médio –, e um dos comentários que tenho ouvido e lido com mais frequência é a respeito de sua amplitude, de sua clareza e, sobretudo, de sua abordagem didática. Quanto ao uso em sala de aula, sei que o livro integra bibliografias de cursos de graduação e pós-graduação de diversas universidades; penso que sua escolha na bibliografia desse edital o tornou acessível e lido para além de um contexto estritamente acadêmico, o que me parece ser uma forma de transferência de conhecimento para a sociedade que considero uma tarefa prioritária para quem, como eu, trabalha numa instituição pública. E se o livro alcançar as salas de aulas e for utilizado no ensino, a tarefa será duplamente cumprida, e minha satisfação será redobrada!

De que forma o livro ajudará os alunos a lidar com a pluralidade das literaturas produzidas no continente africano?

Elena Brugioni: Este foi um dos principais objetivos do livro: mostrar a pluralidade de obras e, portanto, a multiplicidade de leituras e questões que a literatura em África mobiliza. Esta é também uma das minhas maiores obsessões no ensino, na orientação e na pesquisa: mostrar a enorme diversidade que pauta as literaturas africanas, suas línguas, seus contextos, suas estéticas e seus significados. Acredito que o livro torne esse aspecto bastante evidente sobretudo pelo corpus que analisa e pelos repertórios bibliográficos que discute. Conhecer e reconhecer a pluralidade das literaturas africanas é o primeiro passo para que o conhecimento e o saber sobre essas literaturas se tornem sólidos e estruturados; há muito tempo as narrativas do continente sem tradição literária ou preso numa “história única” – para citar a célebre frase de uma das maiores romancistas africanas contemporâneas, Chimamanda Ngozi Adichie – não têm mais fundamento nem procedência, e é exatamente nas escolas e nas universidades que isso precisa ser mostrado, ensinado e aprendido. Acredito que alunos e alunas irão conseguir captar com facilidade essa pluralidade a partir da leitura do livro que, espero, possa instigar a busca de mais saber e de mais conhecimentos sobre África e suas literaturas. Pelo menos essa é minha esperança, para este livro e também para o próximo – a ser publicado em breve –, com o desejo de que venha a ser tão bem lido e recebido como aconteceu com Literaturas africanas comparadas

Literaturas africanas comparadas: Paradigmas críticos e representações em contraponto

Autora: Elena Brugioni

ISBN: 978-85-268-1509-4

Edição: 1ª

Ano: 2019

Páginas: 256

Dimensões: 14×21

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