Por Beatriz Burgos
Tem-se, hoje, cada vez mais evidências de que a desenfreada emissão de carbono é a principal responsável pelo aquecimento global. O resultado do aumento da temperatura do planeta são efeitos catastróficos à vida na Terra, como derretimento de geleiras, ondas de calor intensas, abalos sísmicos e alteração das cadeias alimentares. A importância de sua redução já é hoje consenso entre ecologistas no mundo todo; no entanto, mesmo diante de tantas evidências, as políticas públicas de enfrentamento do problema não surtem o efeito esperado nos diferentes países, e nosso modelo de desenvolvimento continua baseado na emissão do carbono. Por quê?
Os autores da obra Clima de tensão, publicada pela Editora da Unicamp, buscam contribuir para a compreensão dessa indagação e de outras indagações importantes acerca do tema das mudanças ambientais e climáticas. O livro, que é fruto dos primeiros anos de trabalho cooperativo no âmbito da Rede Ibero-Americana de Pesquisa em Ambiente e Sociedade, foi redigido por um amplo grupo de pesquisadores de diferentes países, somando ao todo 51 autores. Sua organização foi feita pelos doutores Lúcia da Costa Ferreira, Luísa Schmidt, Mercedes Pardo Buendía, Jorge Calvimontes, José Eduardo Viglio.
Segundo os autores, a obra busca apresentar ao leitor um “panorama das pesquisas que vêm sendo desenvolvidas nos países ibero-americanos nos primeiros anos da década de 2010 em uma das novas áreas de conhecimento que emergiram dos cruzamentos entre ambiente e sociedade”. Aborda o tema das mudanças ambientais e climáticas em áreas protegidas e vulneráveis, e o faz a partir das perspectivas desse amplo e diverso grupo de pesquisadores. A reunião dessas perspectivas só foi possível graças a intercâmbios e trocas de experiências que aconteceram no plano internacional.
Nesse rico processo de mútuas trocas de experiências e ideias criativas e inovadoras, foi, segundo os organizadores do livro, possível reconhecer a existência de pontos de congruência temática, teórica e metodológica, desafios, estratégias e lições aprendidas – o que acarretou, enfim, a criação oficial da Rede Ibero-Americana de Pesquisa em Ambiente e Sociedade. Criada e consolidada por meio da realização de dois workshops, a Rede, nas palavras dos organizadores, “funciona como uma plataforma de cooperação acadêmica, cujo objetivo principal é promover um intercâmbio de experiências e conhecimentos entre pesquisadores da América Latina, do Caribe, da Espanha e de Portugal que trabalham com as dimensões humanas das mudanças ambientais e climáticas em áreas protegidas e vulneráveis, em várias escalas espaciais e temporais e em diferentes níveis do processo decisório”.
É a partir dos debates possibilitados pela Rede que o livro Clima de tensão foi redigido. A obra utiliza dois idiomas, o português e o espanhol, e é composta por 21 capítulos. É, ainda, possível dividir o livro em cinco eixos temáticos principais. O primeiro deles aborda os “Conflitos entre expansão urbano-industrial e conservação ambiental em zonas vulneráveis, com foco em áreas costeiras no Brasil e na Espanha”; em seguida, são retratados “Os desafios e as respostas político-institucionais de cidades e regiões no Brasil, na Bolívia e no México em face das mudanças climáticas”. O terceiro importante eixo temático apresenta “A percepção sobre mudanças climáticas em regiões costeiras brasileiras e portuguesas”, seguido pelo quarto, que discute “A relação entre mudanças climáticas e áreas protegidas no Brasil, no Peru e na Espanha”. A quinta e última seção do livro aborda as “Dimensões humanas da conservação da biodiversidade no Brasil, em Cuba, no Chile e na Espanha com foco nas questões de identidade, patrimônio e participação”.
O livro é fiel à produção científica atual e os capítulos que o compõem apresentam aos leitores uma ampla gama de abordagens, mas que não se resumem aos estudos de impacto ambiental, uma vez que, segundo os organizadores, “o entrelaçamento entre os sistemas sociais e biofísicos produz sistemas complexos, e as políticas e os programas voltados à regulação dos usos sociais dos recursos naturais não podem reduzi-los a um problema de pressão de números sobre recursos”.
Clima de tensão levanta, portanto, questões-chave da vida contemporânea, utilizando-se, para tanto, das convergências intelectuais e científicas entre ambiente e sociedade, campos inevitavelmente entrelaçados. A junção de um grupo de tantos pesquisadores para a composição da obra torna-a ainda mais original e confere a todos os temas expostos embasamento teórico ímpar. O título é uma leitura enriquecedora não somente àqueles que pesquisam ambiente e sociedade, mas também a todos aqueles que desejam entender mais sobre questões tão urgentes e preocupantes para o homem, enquanto indivíduo e enquanto sociedade, e para o nosso planeta, a cada dia mais ameaçado.
As situações sociais surgidas a partir de tais agências muitas vezes necessitam de soluções tão circunstanciais e efêmeras que nossos sonhos de cooperação efetiva e duradoura são colocados a cada minuto em xeque. Para além das ciências sociais, todas as áreas do conhecimento e os diversos tipos de conhecimento estão enfrentando a dificuldade de prever o futuro da vida na Terra.
Para saber mais sobre os livros, visite o nosso site!

Clima de tensão: ação humana, biodiversidade e mudanças climáticas
Organizadores: Lúcia da Costa Ferreira, Luísa Schmidt, Mercedes Pardo Buendía, Jorge Calvimontes, José Eduardo Viglio
ISBN: 978-85-268-1370-0
Edição: 1a
Ano: 2017
Páginas: 568
Dimensões: 16,00 x 23,00 cm